É jornalista. Atualidades de economia e política, bem como pautas comportamentais e sociais, ganham análises neste espaço. Escreve às sextas

Quem estimula a violência política no Brasil

A guerra nas eleições deste ano já está declarada. Só nos resta torcer para que ela não descambe de vez para a barbárie

Publicado em 15/07/2022 às 02h00

assassinato de um militante petista, que comemorava o seu aniversário homenageando Lula, por um seguidor de Jair Bolsonaro, em Foz do Iguaçu no último final de semana, fez emergir na discussão política brasileira a pergunta: quem estimula esse tipo de violência?

A resposta mais óbvia é: a radicalização política que ameaça transformar a próxima campanha eleitoral em uma onda de provocações, troca agressões verbais e, quem sabe, até em pancadaria de fazer inveja às mais ridículas brigas de torcidas de futebol.

No episódio de Foz do Iguaçu ficou evidente a responsabilidade do presidente da República nesse clima de beligerância. Foi um bolsonarista que cometeu o homicídio, tendo chegado a gritar o nome do Bolsonaro ao atirar. Bolsonaro, todos sabemos, é um incansável defensor do acesso da população às armas de fogo para defender o país “dos comunistas”.

O presidente não só defende que a população se arme como toma seguidas decisões para facilitar a venda e o porte de armamentos e munições, tanto que a quantidade de armas dobrou em quatro anos no Brasil.

Ninguém pode desconhecer também a apologia da violência feita por Lula e seus seguidores. É Lula o autor da tese do “nós contra eles” repetida nas campanhas petistas em todos os níveis. Foi Lula quem pediu a Stédile que colocasse o “seu exército” de sem-terra nas ruas para acuar os adversários. Foi José Dirceu, braço direito de Lula, quem conclamou os petistas, em 2000, e baterem nos tucanos “nas urnas e nas ruas”. Não foi coincidência que na mesma semana do assassinato do petista em Foz do Iguaçu, Lula, em Diadema, tenha agradecido ao ex-vereador Maninho, do PT, por não ter permitido “que um cara ficasse” xingando-o “na porta do Instituto”. Maninho é acusado de tentativa de homicídio por causar traumatismo craniano em um empresário ao empurrá-lo contra um caminhão no dia em que Lula foi preso.

É curioso verificar que quem faz a apologia da violência são os dois extremos que são os maiores adversários (ou inimigos?) na política brasileira. De um lado, a direita representada por Bolsonaro que, da boca do seu líder, antevê que “poderemos ter eleições conturbadas” como revelou em um encontro com empresários, em São Paulo, em maio.

De outro, a esquerda representada por Lula que confessa ter intercedido para que os sequestradores do empresário Abilio Diniz fossem libertados em 1989. Ou seja, nessa disputa sobre quem faz maior apologia da violência política, Bolsonaro e Lula estão empatados.

Não só o assassinato de Foz do Iguaçu sinaliza que a campanha eleitoral que se aproxima será violenta. Bolsonaro já anunciou que poderá não aceitar o resultado das urnas porque não confia nas urnas eletrônicas e não se cansa de enfatizar que as Forças Armadas poderão ter esse mesmo procedimento. Não foi sem razão que o presidente do TSE, Edson Fachin, em palestra no último dia 6 em Washington, alertou que o Brasil poderá ter um “6 de janeiro ainda pior”, ao se referir à invasão do Capitólio por seguidores de Donald Trump nos Estados Unidos.

Lula, assim como Bolsonaro, insiste em promover comícios em explícita desobediência à lei eleitoral que só permite atos de campanha após 16 de agosto. Em um desses atos, uma bomba caseira jogada por um bolsonarista explodiu. Em outro, um drone despejou fezes e urina nos manifestantes.

Na semana passada, o carro do juiz que prendeu o ex-ministro da Educação foi alvo de uma bomba com fezes, ovos e terra. No carro foram também encontradas marcas de balas. No dia 29 do mês passado, um vereador de São Paulo foi impedido, por manifestantes da esquerda, de fazer uma palestra na Unicamp.

São sinais assim que nos mostram que a guerra já está declarada. Só nos resta torcer para que ela não descambe de vez para a barbárie.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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