É empresário do setor imobiliário, membro do Conselho Superior da Ademi-ES, mestre em Change pelo Insead (França), professor convidado pela Fundação Dom Cabral e 24º brasileiro a atingir o cume do Everest.

Cidades resilientes: respostas urgentes às chuvas e alagamentos

O desafio que se impõe é como reagir a estes eventos extremos, especialmente nos centros urbanos, onde os seus efeitos tendem a ser mais dramáticos

Vitória
Publicado em 14/12/2022 às 01h58
Atualizado em 14/12/2022 às 01h58
Chuva e lama. Cor da Baía de Vitória muda em cenário de mau tempo
Chuva e lama na baía de Vitória: alterações nos padrões climáticos estão relacionadas ao aquecimento global. Crédito: Câmera de monitoramento

O período que marca o fim da primavera e o início do verão é especialmente chuvoso no Espírito Santo. Isto se deve, de acordo com os especialistas, à atuação de uma Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) que passa justamente pelo nosso Estado.

Neste ano não foi diferente. As últimas semanas foram marcadas por intensas chuvas, causando transtornos em praticamente todas as regiões. Rodovias interditadas, cidades alagadas, pessoas desabrigadas ou desalojadas, lavouras prejudicadas, viagens suspensas e morte. Infelizmente, as imagens de ruas debaixo d’água e famílias que perderam tudo nas enchentes repetem-se a cada temporada.

Fenômenos naturais e seus impactos sempre existiram e afetam todos os países. Alguns, como terremotos, erupções vulcânicas ou tsunamis são imprevisíveis. Outros, com padrão sazonal, como chuvas e estiagem, possuem certa previsibilidade ou possuíam: secas e enchentes, ondas de frio e calor extremos vêm ocorrendo com uma frequência e magnitude acima das médias históricas.

Estas alterações nos padrões climáticos estão relacionadas ao aquecimento global causado, em boa medida, pela ação humana. Ao menos é o que pensam 97% dos cientistas climáticos, conforme estudo realizado pela Delloite.

Independentemente das causas, entretanto, o desafio que se impõe é como reagir a estes eventos extremos, especialmente nos centros urbanos, onde os seus efeitos tendem a ser mais dramáticos. Para a ex-secretária do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Stela Goldenstein, “a nova incerteza e a ampliação da variabilidade e da imponderabilidade climática trouxeram maior probabilidade de eventos extremos, de danos à infraestrutura, de variações na oferta de água, entre outros. Isso obriga os gestores a se antecipar para que as situações extremas não coloquem em risco a saúde e o bem-estar das populações”. É neste contexto que nasce o conceito de cidades resilientes.

O que são cidades resilientes?

Inicialmente aplicado à física ao tratar da capacidade de regeneração de certos materiais após uma situação de estresse e, posteriormente, à psicologia e ao comportamento humano, o termo resiliência passou a ser usado também em trabalhos sobre urbanismo.

De acordo com as Nações Unidas, cidades resilientes são aquelas capazes de “resistir, absorver, adaptar-se e recuperar-se dos efeitos de um perigo de maneira tempestiva e eficiente”. Trata-se, assim, de organizar a gestão, os serviços e a infraestrutura urbana das cidades de tal forma que elas mantenham seu funcionamento durante e após os desastres naturais.

Como uma cidade pode se tornar resiliente?

O Escritório das Nações Unidas para Redução de Risco de Desastres (UNISDR) lidera uma iniciativa envolvendo vários atores, a MRC 2030 (Construindo Cidades Resilientes 2030), cujo objetivo é ajudar as cidades a se tornarem mais seguras, sustentáveis e resilientes até 2030.

De acordo com a MRC 2030, os 10 passos essenciais para uma cidade resiliente são:

  1. 01

    Organização e coordenação

    Pratique ações de organização e coordenação para compreender e aplicar ferramentas de redução de riscos de desastres com base na sociedade civil. Todos os atores precisam compreender o seu papel na preparação e redução de risco de desastres.

  2. 02

    Orçamento

    Atribua um orçamento para a redução de riscos e desastres e forneça incentivos para proprietários em áreas de risco e famílias de baixa renda.

  3. 03

    Dados atualizados

    Mantenha os dados sobre os riscos e vulnerabilidades atualizados. Prepare as avaliações de risco para usá-las como base para planos de desenvolvimento urbano e tomadas de decisão.

  4. 04

    Redução de riscos

    Invista em uma estrutura para redução de risco com enfoque estrutural, como obras de macrodrenagem, por exemplo.

  5. 05

    Segurança

    Avalie a segurança das escolas e postos de saúde.

  6. 06

    Regulamentos

    Aplique regulamentos compatíveis com o risco de construção e princípios de planejamento do uso do solo.

  7. 07

    Educação e treinamento

    Implemente programas de educação e treinamento sobre a redução de riscos de desastres nas escolas e comunidades.

  8. 08

    Proteção

    Proteja os ecossistemas e barreiras naturais para evitar inundações.

  9. 09

    Alarmes

    Instale sistemas de alarme e gestão de emergências em seu município.

  10. 10

    Reconstrução

    Após quaisquer desastres, assegure que as necessidades dos sobreviventes estejam no centro da reconstrução.

Mitigar riscos com maior margem de segurança, limitar danos, estabelecer planos de contingência e educar a população requer novas competências de gestão por parte do poder público. Embora haja avanços em alguns destes pontos, o aprendizado para evitar desastres que parecem próximos e possíveis deve ser constante.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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