Em artigo recente trouxemos algumas tendências do mercado imobiliário residencial que ganharam força em função das mudanças ocasionadas ou potencializadas pelo isolamento social experimentado nos últimos anos. Hoje, abordaremos o impacto destas mudanças no mercado dos imóveis comerciais, mais especificamente, o de salas e escritórios.
A Covid-19 impôs um enorme desafio para as empresas e para os profissionais, que, subitamente, precisaram encontrar novas formas para, simplesmente, continuar realizando o seu trabalho e manter os seus negócios.
Falar sobre o futuro dos escritórios é falar sobre o futuro do trabalho e isto vai além da dicotomia trabalho remoto X trabalho presencial. Quantas vezes temos ouvido as pessoas dizerem: “o home office veio para ficar” ou “o trabalho presencial é indispensável”? Na verdade, ambas afirmações são corretas e se complementam. Com o fim da pandemia se aproximando e as medidas restritivas sendo flexibilizadas percebemos que o caminho do trabalho híbrido vem se tornando a realidade para boa parte das pessoas.
Esta, ao menos, é a visão do Tiago Alves, CEO das marcas Regus e Spaces no Brasil, e autor do livro “Nem home, nem office - O futuro do trabalho é híbrido”, que chegará nas livrarias em breve. Em recente entrevista concedida ao site GRIclub.org, Alves afirma que seria um erro as empresas apostarem no retorno 100% do trabalho presencial, sob pena de perderem parte dos seus talentos: “a grande maioria da força de trabalho hoje já conhece as vantagens do home office e por isso este benefício passa a ser um fator crucial na decisão de ficar ou não na empresa”.
Se, mais que uma promessa de futuro, o trabalho híbrido já é uma realidade, qual o impacto deste formato no mercado das salas comerciais e lajes corporativas?
Ora, se as pessoas não trabalham mais do mesmo jeito, seus escritórios também não precisam ser como sempre foram. As demandas são outras. Algumas empresas reduziram suas áreas ocupadas restringindo-as às atividades principais e optando por locar espaços terceirizados quando for necessária uma reunião maior do time, por exemplo. Outras, mantiveram ou mesmo ampliaram seus espaços, porém alteraram a configuração interna, proporcionando novas formações e arranjos mais flexíveis e integrados.
Diante deste contexto, levantamos três características que comporão ou já compõe os escritórios onde trabalhamos:
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Espaços voltados para a experiência
A arquitetura e o design dos ambientes vão além da função estética e se tornam mais estratégicos, adaptando-se à flexibilidade trazida pelo trabalho híbrido. Se parte do trabalho de rotina pode ser realizado em casa, aos escritórios cabe as atividades colaborativas e de aprendizado. Logo, são espaços mais acolhedores e amigáveis para funcionários e clientes, capazes de estimular a integração e a criatividade das pessoas que os ocupam ou visitam. Esta capacidade de proporcionar uma experiência transformadora assumiu uma tal importância que tornou-se métrica de avaliação, o ROX, Return on Experience. A gigante mundial de consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC) define o ROX como “uma abordagem holística para compreender e aumentar o valor dos investimentos através da experiência do cliente (CX), experiência do empregado (EX) e experiência do líder (LX)” e o impacto destes três elementos na marca e no futuro da empresa.
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Centros de geração de valor
Se “colaboração” é a palavra de ordem deste novo cenário, sua ênfase precisa estar em induzir encontros, proporcionar o compartilhamento de ideias (inclusive as diferentes), o aprendizado e a interação social. São espaços desenvolvidos prioritariamente para projetos em equipe, desenvolvimento de conceitos, discussões e decisões estratégicas. Não por acaso observamos um crescimento dos espaços compartilhados no Brasil e no Espírito Santo. Os coworkings não nasceram na pandemia, mas traduziram, como poucos segmentos, o mundo pós-pandemia. Se, na sua origem, o seu maior apelo estava na otimização dos custos de locação ou na solução para ocupações temporárias, os coworkings hoje, ao se consolidarem como ambientes propícios à colaboração, são celeiros de inovação, logo, de geração de valor. “A interação entre pessoas diversas e o ambiente de aprendizado contínuo é o que estimula as empresas a virem e permanecerem conosco”, diz Erik Lorençon, sócio da NaCapital, coworking na Praia do Canto, em Vitória.
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Irradiadores da cultura organizacional
Um dos maiores desafios das empresas e seus líderes neste cenário de trabalho híbrido é a preservação, o fortalecimento e o engajamento à cultura organizacional. Os valores da empresa, ou seja, “quem nós somos” precisa estar presente e ser comunicado em cada detalhe. É a cultura da empresa que dá o sentido de pertencimento aos seus colaboradores e promove a identificação com a comunidade a qual esta pertence. A Endeavor Brasil, rede fomentadora de empreendedorismo, diz que “se a estratégia representa os tijolos, a cultura organizacional sem dúvida é a argamassa que mantém as paredes sólidas”. Ao criar um ambiente mais saudável que incentive o bem-estar das pessoas e retenha bons profissionais, ela atua diretamente nos resultados do negócio.
Compreender este contexto de mudança é o desafio dos arquitetos na idealização dos novos projetos comerciais, dos incorporadores na definição dos seus produtos, das corretoras na elaboração das estratégias comerciais e das agências na comunicação com o mercado. Mas é também um desafio para os empresários que comprarão ou alugarão estes espaços. É o futuro de suas empresas que está em jogo.
Desejo às queridas leitoras e aos caros leitores um ótimo dia de trabalho.
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