“As cidades são a melhor invenção da humanidade”. Com esta afirmação do professor de economia de Harvard, Edward Glaeser, inicio, com muita satisfação e entusiasmo, a assinatura de uma coluna na editoria de Imóveis & Cia de A Gazeta. Sim, as cidades constituem uma das formas mais eficientes de distribuição de riqueza, e não é por acaso que nelas vive a maior parte da população mundial.
Se por um lado a diversidade do ambiente urbano funciona como um catalisador de criatividade, por outro, a concentração de moradores produz problemas, gera conflitos e traz desafios: mobilidade, poluição, violência e geração de oportunidades, para citar alguns. Talvez por estas questões mal resolvidas o escritor português Eça de Queirós nos apresenta uma visão mais cética sobre as cidades. Para ele, “os sentimentos mais genuinamente humanos logo se desumanizam na cidade”.
Não há consenso sobre o surgimento das cidades, mas há registros dos primeiros assentamentos já no século 9 antes de Cristo. Os excedentes de alimentos produzidos por camponeses acabaram por permitir que cada vez mais pessoas se ajuntassem primeiro em aldeias, depois em vilarejos e enfim em cidades. Reinos, impérios e variadas redes de comércio surgiram a partir destes primeiros ajuntamentos.
Por volta de 8500 a.C os maiores assentamentos do mundo eram vilarejos como Jericó, com não mais que algumas centenas de habitantes. Mas foi na região do Crescente Fértil, na Mesopotâmia, que as cidades se desenvolveram e suas populações se multiplicaram, assumindo algum grau de complexidade e criando as bases para uma ainda incipiente ordem social entre os indivíduos, herança deixada para as gerações futuras. O Código de Hamurabi, por exemplo, coleção de leis e decisões judiciais dos babilônios, é do século terceiro antes de Cristo.
Mas deixemos de lado as análises históricas e avencemos no tempo até os dias atuais. Qual o significado que a cidade tem para nós, hoje, seus moradores? Podemos dizer que a cidade é o que vejo enquanto me locomovo, de carro, de ônibus ou a pé; é o que sinto na interação com as pessoas; é onde luto e trabalho; é a praça no meu bairro, a praia onde me divirto com os amigos; é o trânsito que me deixa irritado. A cidade é o palco dos meus anseios e medos, bem como o cenário dos meus sonhos. A cidade é ao mesmo tempo injusta e repleta de oportunidades.
Sim, a cidade é este caldeirão de contradições, mas uma coisa é certa, a cidade foi feita por pessoas e deve servir a elas. Todas elas.
Ítalo Calvino em seu livro Cidades Invisíveis diz: “de uma cidade não aproveitamos as suas sete ou setenta e sete maravilhas, mas as respostas que dão as nossas perguntas”. E quais são estas perguntas? O Instituto Insper, em parceria com o Arq.Futuro, nos ajudam com algumas: “Que tipo de profissional e que tipo de competências sociais precisamos desenvolver para sermos capazes de enfrentar esses desafios? Como assumir uma postura ativa frente aos problemas urbanos que nos afligem? Como conciliar Estado, sociedade civil e iniciativa privada, com o intuito de viabilizar as transformações pretendidas? Quais são os instrumentos urbanos, jurídicos, legais e econômicos que podem apoiar nossas iniciativas?”
Todas estas questões são relevantes e nós as abordaremos aqui, oportunamente.
Mas o que tudo isto tem a ver com o mercado imobiliário? Você deve estar se perguntando neste momento. Ora, se aumentarmos um pouco mais o zoom da nossa análise, veremos que a cidade é também e acima de tudo a casa onde moramos ou aquela onde, quem sabe, moraremos um dia. É nesta casa que acordamos todos as manhãs. É lá onde amamos, somos felizes uns dias e sofremos em outros; onde temos os nossos filhos e os criamos. É lá, inclusive, onde temos trabalhado nos últimos tempos...
Justamente neste lugar chamado “minha casa” que cidade, mercado imobiliário e pessoas se encontram. O mercado imobiliário é um ator relevante na construção das cidades. E como os nossos hábitos afetam o mercado imobiliário? Como o meu comportamento influencia os projetos que saem das pranchetas, digo, dos computadores dos arquitetos, passam pelos estudos de viabilidade dos empreendedores e chegam até o produto a ser lançado na minha cidade, no meu bairro, na minha rua? Qual a dinâmica dos preços? É caro ou é barato? É o momento para comprar e para vender? É bom para investir?
Espero que as análises e reflexões que faremos neste espaço, quinzenalmente, ajudem o caro leitor e a querida leitora a refletir sobre as cidades em que moramos, a compreender o papel dos diversos atores que a constroem e como eles se interagem, mas também a analisar criticamente os dados e informações relacionados ao mercado imobiliário no contexto econômico de cada momento, identificar as oportunidades, atentar-se aos cuidados e, assim, construir os elementos para uma tomada de decisão segura quando for o momento de interagir com este mercado, seja comprando ou vendendo, seja alugando ou investindo em um novo imóvel.
Este vídeo pode te interessar
Tenham todos uma ótima semana, desfrutando das delícias e dos percalços da sua querida cidade.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.