O que faz uma rua ser legal? Será sua localização ou sua beleza estética? Serão suas lojas, cafés, bares, o comércio e serviço que oferecem? Tem a ver com a memória afetiva que carregamos, onde crescemos, os amigos que fizemos? O bucolismo de áreas residenciais, a natureza do entorno? Ou serão aquelas frutos de um planejamento urbanístico e dotadas de infraestrutura adequada? Qual o papel que a sua história cumpre?
A revista inglesa TimeOut acaba de revelar seu ranking anual das ruas mais legais do mundo. A campeã fica em Montreal, no Canadá. A rua Wellington, com seus 5,7 km de extensão, é um mix de vida noturna movimentada, construções históricas e opções de divertimento em família para moradores e turistas.
Os atrativos começam com a acessibilidade, sendo atendida por três linhas de metrô e cortada por ciclofaixas que a comunicam com diversos outros pontos da cidade de forma rápida e segura. A rua Wellington corta uma região industrial e passa pelo bairro de Verdun, famoso por abrigar a praia urbana Verdun Beach. No meio, uma área comercial ativa e diversificada.
No verão do Hemisfério Norte, ela fica fechada para carros, para que os pedestres possam circular livremente pelas lojas, passear com seus pets, tomar um drinque com os amigos, fazer um passeio de tuk-tuk ou curtir os inúmeros restaurantes, shows, paradas, atividades cênicas e esportivas ao ar livre que tomam conta da região.
Seguindo o ranking estão ruas em Melboune, Austrália, Glasgow, Escócia, Taipei, Taiwan, Copenhague, Dinamarca, Auckland, Nova Zelândia, Hong Kong, China, Bangkok, Tailândia, Berlim, Alemanha e São Francisco, nos EUA.
Embora fora do “top ten” nesta edição, o Brasil teve um representante no ano passado na honrosa sétima posição, em São Paulo. Seria na sofisticada região dos Jardins? No movimentado Itaim? Nada disso. A rua em São Paulo considerada uma das mais legais do mundo em 2021 está localizada no Bom Retiro, região central da cidade.
De acordo com a TimeOut, a graça da rua Três Rios está nas características deixadas pelas várias gerações de imigrantes que chegaram ao Brasil ao longo dos séculos, como italianos, coreanos, bolivianos e peruanos. Esta diversificação faz da Três Rios um destino perfeito para quem pretende ter autênticas experiências gastronômicas e culturais.
No coração da rua está a Casa do Povo, prédio moderno do arquiteto Ernest Carvalho Mange, erguido por judeus em 1946 a fim de promover a cultura judaica laica e humanista pós-segunda guerra. Ainda nas suas imediações encontra-se a Pinacoteca, um dos mais tradicionais museus de São Paulo, cuja restauração tem a assinatura do renomado arquiteto capixaba Paulo Mendes da Rocha.
Naturalmente, há o “lado B” da rua Três Rios. A pobreza e a violência presentes em boa parte da região central de São Paulo (e em muitas das nossas grandes cidades) trazem insegurança para os comerciantes e para as pessoas que frequentam este caldeirão cultural.
Mas o que, enfim, estas ruas mais legais do mundo possuem em comum? Uma rua legal é uma rua divertida, onde as pessoas gostam de estar e de se encontrar. Uma mistura de boa comida, cultura, lazer e senso de comunidade. São lugares que resumem a alma de uma cidade. Mais do que lojas de grifes e restaurantes sofisticados, a diversidade e a autenticidade, ao menos de acordo com os critérios utilizados pela revista, é o que faz com que uma rua seja legal.
Por estes critérios, qual seria a rua mais legal de Vitória? Estaria ela na Praia do Canto, como a bonita Aleixo Neto, onde podemos fazer tudo a pé? Ou seria a Gama Rosa, no Centro, com sua diversificada vida noturna e perto dos principais monumentos históricos da capital?
Seria a Praça do Epa (sim, assim a conhecemos) em Jardim da Penha, com sua feira de sábado ou seus food trucks de fim de tarde? Estaria na juventude efervescente de Jardim Camburi, o bairro mais populoso e que mais cresce de Vitória? Na autenticidade culinária da Ilha das Caieiras ou na “vida como ela é” dos nossos morros?
Talvez o seu coração bata por uma ou por várias. Eu prefiro não escolher e aproveitar um pedaço de cada, a depender do dia e do estado de espírito.
A Vitória, cidade que me acolheu e a qual eu amo, e suas muitas “ruas mais legais do mundo”, meus parabéns e muitos anos de vida!
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