Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

Ciência dá mais um passo para entender o que se passa com pessoas em coma

O trabalho publicado semanas atrás no New England Journal of Medicine é robusto e foi conduzido em seis centros na Bélgica, na França, no Reino Unido e nos EUA

Publicado em 21/11/2024 às 02h05

Imagine, caro leitor, que você esteja com uma pessoa querida em coma, pai, mãe ou avô, e queira falar palavras suaves e carinhosas ao pé do ouvido, na esperança de que essa pessoa entenda. Quantas vezes não tentamos falar para aquecer o nosso coração, minorar nossa angústia, suplicando sermos ouvidos.

Pois uma nova pesquisa publicada semanas atrás no New England Journal of Medicine, uma das principais revistas medicas científicas do mundo, mostrou que isso pode ser possível. O estudo incluiu 353 pessoas com lesões cerebrais causadas por eventos como trauma físico, ataque cardíaco ou acidente vascular cerebral. Essas pessoas foram monitoradas por eletroencefalografia e ou ressonância magnética funcional, na tentativa de mensurar atividade mental.

Durante os testes, o examinador pedia que as pessoas em coma se imaginassem jogando tênis, ou abrindo e fechando as mãos, ou simplesmente levantando o polegar (“thumbs up”). Os comandos eram repetidos por 15-30 segundos e, após uma pausa, repetidos por 6 a 8 sessões ininterruptas. Dos 353 pacientes, 241 não demonstraram uma resposta observável a nenhum estímulo. No entanto, dessas 241 pessoas em coma ou estado vegetativo, 60 pessoas (1/4) mostravam atividade mental ao estímulo demonstrado pelos exames de Ressonância ou Eletroencefalografia ou ambas.

Esses pacientes eram capazes de responder mentalmente, mas não fisicamente, uma condição que os neurologistas chamam de dissociação motora cognitiva. Na verdade, esses 60 pacientes não o fizeram de modo uniforme: apenas 38 mostraram um padrão bem consistente de resposta cerebral.

As pessoas não responsivas que demonstraram atividade cerebral tinham tendência a ser mais jovens, tinham mais frequentemente lesões cerebrais decorrentes de trauma físico, e estavam em coma por mais tempo que aqueles que não responderam.

Hospital
Internação hospitalar. Crédito: Pixabay

Essa dissociação cognitiva motora, quando o cérebro tem alguma resposta, mas o corpo não consegue demonstrar, já tinha sido demonstrada em uma pesquisa publicada em 2019, em 15% das pessoas em coma, mas em estudo menor. O trabalho publicado semanas atrás no NEJM é mais robusto e foi conduzido em seis centros na Bélgica, França, Reino Unido e EUA.

São passos da ciência para tentar descortinar alguma janela de comunicação com pessoas em coma.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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