Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

Como são feitas nossas memórias?

Imagine o leitor se a ciência desvenda os mecanismos envolvidos na persistência da memória. Ou mesmo entender melhor a desintegração que ocorre na mente de muitos idosos que mergulham nas profundezas do esquecimento

Publicado em 18/07/2024 às 02h00

Os mistérios da mente humana intrigam os cientistas há décadas. Como fixamos nossas memórias? Por que esquecemos fatos corriqueiros e somos capazes de lembrar e descrever com precisão episódios que ocorreram há muitos anos? Por que algumas pessoas têm melhor e mais duradoura memória que outras pessoas?

Salvador Dalí, um famoso pintor espanhol, usou relógios derretidos colocados em cenários insólitos, em uma pintura surrealista conhecida como "A Persistência da Memória", de 1931, para abordar os meandros de nossa mente. Na década de 1950 um homem com uma epilepsia de difícil controle, com convulsões intratáveis, foi submetido a uma intervenção cirúrgica que removeu seus lobos temporais, tratando de modo definitivo suas crises. No entanto, ele se tornou incapaz de formar novas memórias. Desde então, os cientistas descobriram que o hipocampo, uma das áreas removidas na cirurgia, era um eixo essencial para muitos tipos de memória.

Como a população mundial está envelhecendo e os desafios da demência e deterioração cognitiva só fazem aumentar, os mecanismos envolvidos na criação de nossas memorias têm capturado a atenção de cientistas de todo o mundo. Pesquisadores têm focado a atenção de seus estudos em como os neurônios respondem a estímulos indutores de memórias.

Neurocientistas americanos e europeus publicaram em março passado na Nature uma interessante pesquisa em camundongos que são submetidos a pequenos choques elétricos. Os cientistas então examinaram o tecido nervoso dos camundongos em 96 horas após a experiência de choque quando submetidos a um ambiente que remetesse ao que havia ocorrido (memória recente) ou 21 dias após (memória mais remota).

Para surpresa, os pesquisadores descobriram que os camundongos fixavam a memória recente quebrando suas moléculas de DNA de dupla hélice e fixando-as em seguida, como em um processo inflamatório. Os pesquisadores foram além. Deletando um determinado gen (Tlr9) de neurônios do hipocampo, eles impediam os camundongos de recuperar memorias de longo prazo.

Imagine o leitor se a ciência desvenda os mecanismos envolvidos na persistência da memória. Ou mesmo entender melhor a desintegração que ocorre na mente de muitos idosos que mergulham nas profundezas do esquecimento. Ainda há um extenso caminho a percorrer nas pesquisas. Mas assim avança a ciência. Tal qual uma construção onde vamos acumulando tijolos até ter uma parede completa e depois outra e mais outra até findar a nova casa.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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