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Como vacina para herpes-zóster virou esperança contra a demência

Os pesquisadores desenvolveram um experimento natural: a vacina de herpes-zóster foi introduzida no País de Gales no dia 1° de setembro de 2013, para todos os idosos entre 70 e 79 anos de idade

Publicado em 24/04/2025 às 03h45

Um importante estudo publicado na prestigiosa revista Nature em fevereiro passado, sob a liderança do professor Pascal Geldsetzer da Universidade de Stanford, chamou a atenção do mundo da ciência. Usando conhecimento prévio de outros estudos de que os vírus de herpes neurotrópicos podem ter um importante papel no desenvolvimento de perda cognitiva.

Os pesquisadores desenvolveram um experimento natural: a vacina de herpes-zóster foi introduzida no País de Gales no dia 1º de setembro de 2013, para todos os idosos entre 70 e 79 anos de idade, na época considerado o grupo que mais se beneficiaria para uso em toda a população idosa.

Os galeses nascidos antes de 2 de setembro de 1933 (80 anos completos ou mais na época) não estavam elegíveis para receber a vacina. Dessa forma, os pesquisadores analisaram os dados médicos de mais de 280 mil idosos, no poderoso e robusto sistema de saúde britânico, o NHS.

Observaram que durante um período de sete anos, os idosos vacinados tiveram o risco de demência reduzido em 20%. A vacina usada na época era a de primeira geração da MSD, chamada de Zostavax, que protegeu contra herpes-zóster em média 37% dos vacinados, durante cinco anos, naquela população galesa idosa.

Os autores conseguem excluir quaisquer fatores de confusão, mostrando que a vacina interferiu apenas na incidência de zoster e de demência. Os autores observaram ainda que, em um período de 9 anos, pelo menos uma morte em 20 foi evitada pelo simples fato de o idoso estar elegível para receber a vacina de zoster.

Os autores concluem que, através de um experimento natural, da introdução da vacina para herpes-zóster no País de Gales, em uma extensa população de idosos, surgem dados robustos sobre a correlação de vírus neurotrópico com demência. Nas linhas finais do artigo, os autores observam que, em 2023, a vacina da MSD foi descontinuada na Grã-Bretanha e substituída pela Shingrix, vacina inativada da GSK, que tem uma proteção superior a 80% nos muito idosos (faixa de 70-80 anos) e muito mais duradoura, mais de dez anos, nas observações até aqui. Fácil prever que a proteção da nova vacina, a ser estudada, deverá ser bem superior, pelo menos em algum dos múltiplos caminhos que podem conduzir ao triste processo de demência.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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