Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

E as vacas griparam... o que isso significa para a nossa saúde?

O que se descobriu é que o vírus da gripe infecta as glândulas mamárias das vacas, permitindo a excreção pelo leite. Outros pesquisadores descobriram que as glândulas mamárias das vacas têm receptores para outros vírus de gripe aviária

Publicado em 23/05/2024 às 01h30

No início deste ano de 2024, rancheiros no Texas notaram que suas vacas estavam se alimentando menos e produzindo pouco leite. Convocados, os veterinários desconfiaram de alguma infecção e passaram a investigar. Qual não foi a surpresa ao constatar gripe, mais especificamente H5N1.

Trata-se da mesma gripe aviária que tem circulado há alguns anos e que, aliás, já visitou o Espírito Santo, meses atrás, causando preocupação às autoridades sanitárias. Ainda no mês de março, novos casos de gripe em vacas americanas foram relatados no Kansas e Novo México, além do Texas. Agora em maio, rebanhos infectados pela gripe aviária foram encontrados no Colorado, Idaho, Michigan, Carolina do Norte, Ohio e South Dakota. Em Minnesota atingiu cabritos.

De acordo com o Departamento de Agricultura americano, citado pelo Jama, a infecção nas vacas não é grave, resolvendo-se em uma semana. Muitos animais são assintomáticos e ajudam a propagar a doença no rebanho. O vírus H5N1 começou a ser isolado no leite bovino, trazendo preocupação para autoridades sanitárias.

No início de maio, uma em cada cinco amostras de leite bovino no mercado tinha vestígios do H5N1, mas o vírus era inativado no processo de pasteurização. Autoridades americanas reiteraram a determinação de evitar ingestão de leite cru. Vários testes foram efetuados também em amostras de carne bovina nos Estados Unidos, mas não se acharam nem sequer vestígios do vírus.

Um caubói de uma fazenda produtora de leite no Texas contraiu o vírus H5N1, apresentando uma conjuntivite que foi solucionada após uso de Tamiflu. Não está claro se o trabalhador adquiriu o vírus esfregando os olhos com as mãos contaminadas ou por via respiratória.

O que se descobriu é que o vírus da gripe infecta as glândulas mamárias das vacas, permitindo a excreção pelo leite. Outros pesquisadores descobriram que as glândulas mamárias das vacas têm receptores para outros vírus de gripe aviária. Dessa forma, o gado bovino poderia funcionar da mesma maneira que os suínos na epidemia de H1N1 em 2009. Ou seja, como um animal que permitiria a recepção e mistura de vírus de gripe de outras espécies, facilitando sua disseminação para seres humanos.

Desde 2022, 26 casos de gripe H5N1 foram relatados em pessoas em oito países, todos após exposição a aves mortas ou doentes. Desses casos, 14  foram graves e sete pessoas morreram. As autoridades sanitárias de diversos países colocam a gripe H5N1 como uma doença de potencial pandêmico, já que somos todos muito suscetíveis, pela ausência de exposição prévia.

Não há receptores em nossas vias respiratórias que permitam hoje a penetração e propagação desses vírus com facilidade, a não ser que sofram mutações especificas ou recombinação em um hospedeiro intermediário como porcos ou, quiçá, vacas...

Existe uma vacina pronta e muitos pesquisadores já passam a defender que ela possa ser acrescentada à atual formulação de vacina de gripe, substituindo uma linhagem B por exemplo. As vacinas passariam a ter três tipos de vírus A e um tipo de vírus B. Por enquanto, são somente ideias para enfrentar essa nova gripe

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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