Nas mais diversas espécies animais, a sobrevivência está com frequência relacionada à interação e à aglutinação. Cardumes e manadas trazem vantagens adaptativas para seus integrantes. Na espécie humana, desde nossos mais antigos ancestrais, a interação social traz óbvias vantagens.
O isolamento social tem merecido a preocupação de autoridades de saúde, em diversos países do mundo. Evidências têm demonstrado que o isolamento social e a solidão estão ligados a maior risco de doenças e mortalidade, com efeitos comparáveis a fatores de risco tradicionais, como tabagismo e obesidade.
Apesar dessas constatações, o mecanismo biológico final envolvido na associação entre solidão, doença e mortalidade é ainda desconhecido. Pois, nos primeiros dias de janeiro deste ano, um grupo de pesquisadores da Universidade de Xangai publicou na Nature Human Behaviour um estudo original que principia a desvendar essa associação.
Os pesquisadores acompanharam uma população de mais de 42 mil pessoas do Biobanco do Reino Unido, entre as quais 3905 reportavam isolamento social e 2689 sentiam solidão. Após um seguimento médio de quase 14 anos, os cientistas focaram a evolução de doença cardiovascular, diabetes tipo 2, acidente vascular cerebral e mortalidade.
Após ajustes de retirar os efeitos e influência da renda, nível educacional, uso de cigarro, álcool, obesidade e outros fatores, os pesquisadores identificaram padrões de assinaturas proteicas que correlacionam isolamentos social e solidão com essas doenças e morte.
Uma determinada proteína chamada GDF15, que atua como um importante marcador inflamatório, foi a que demonstrou maior associação com isolamento social, enquanto uma proteína-chave na regulação do metabolismo do colesterol, a PCSK9, foi a que mostrou maior correlação com a solidão. Na verdade, diversas e inúmeras proteínas mostraram associação com isolamento social, inúmeras outras com solidão e muitas eram comuns a ambas as situações.

Pouco mais de 80% das assinaturas proteicas são comuns a essas duas situações. Afinal, isolamento social (ausência de interações) e solidão podem andar juntas ou não. Os pesquisadores chineses identificaram, em primeira mão, mecanismos fisiológicos que podem explicar as consequências à saúde do isolamento social e da solidão e sua associação com doença cardiovascular, isquemias e derrames cerebrais (AVC) e mesmo morte.
O estudo abre perspectivas para investigar possíveis alternativas que possam reduzir essas alterações fisiológicas. Antes que essas intervenções estejam disponíveis para poupar mortes e evitar doenças, convém estimular a convivência social e evitar a solidão. Melhor desligar o celular, sair das redes sociais um pouco e procurar aquela amiga ou amigo que você não vê há algum tempo.
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