Doutor em Doenças Infecciosas pela Ufes e professor da Emescam. Neste espaço, faz reflexões sobre saúde e qualidade de vida

‘Lembrar para jamais esquecer’: casos de Aids e avanços nos tratamentos

É preciso repetir à exaustão que o risco nessa população é dezenas de vezes maior do que na população em geral. Sinto falta de campanhas públicas claras a esse respeito

Publicado em 05/12/2024 às 02h30

A Sociedade Brasileira de Infectologia lançou a campanha ‘Lembrar para jamais esquecer’ em referência ao Dia Mundial de Luta contra a Aids, celebrado em 1º de dezembro. Importante refletir que a doença continua aí, causando estigma e preconceito. Felizmente hoje é uma doença tratável, em que a expectativa de vida de uma pessoa infectada, que procura tratamento logo, é praticamente igual a de uma pessoa sem HIV. Mas nem sempre foi assim. Assistimos a muitas pessoas morrerem e sofrerem antes das fantásticas conquistas da ciência. Artistas famosos como Fred Mercury, Cazuza, Renato Russo são apenas alguns nomes.

Segundo a UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids), 39,9 milhões de pessoas vivem com HIV no mundo. Um milhão e 300 mil novas infecções ocorreram, apenas no ano passado. No Brasil, pouco mais de um milhão de pessoas vivem com HIV, mais de 800 mil em tratamento. As medicações hoje são seguras e praticamente sem efeitos colaterais importantes. Permanece muito elevado o número de novas infecções. No Brasil, cerca de 120 casos por dia.

Em 2019 no Brasil, foram diagnosticados 41.919 novos casos de HIV e 37.308 de Aids
Dia Mundial de Luta contra a Aids é celebrado em 1º de dezembro. Crédito: Freepik

Aliás, tem aumentado a incidência em jovens rapazes que fazem sexo com homens. Onde estamos falhando? Primeiro, na conscientização. É preciso repetir à exaustão que o risco nessa população é dezenas de vezes maior do que na população em geral. Sinto falta de campanhas públicas claras a esse respeito.

Segundo, é preciso testar mais. Pessoas que têm diagnóstico de HIV e se tratam ficam com o vírus indetectável e não são mais transmissíveis, mesmo se fizerem sexo não protegido (sem preservativos). Por último, existe a profilaxia pré exposição, o PREP, que é disponível no SUS, de que pouca gente sabe. Tomar uma pilula todo dia evita a infecção. No caso dos rapazes (e só dos rapazes, não vale para as meninas, porque a concentração vaginal da medicação é diferente), basta tomar duas pilulas duas horas antes da exposição de risco e 24 e 48 horas depois, para se evitar a Aids. Pouco mais de 80 mil brasileiros usam PREP pelo SUS. É muito pouco para ter impacto na epidemia.

Os EUA, seja sob governo democrata ou republicano, colocaram como objetivo expandir a PREP entre eles. É muito mais barato do que tratar a doença depois. Recentemente foi divulgado uma novidade, um medicamento injetável, o lenacapavir, de uso semestral e mais eficaz que estas pilulas de PREP. Ou seja, bastariam duas injeções por ano para não se contrair AIDS. O custo ainda é proibitivo, cerca de US$ 44 mil por ano. De qualquer forma, são avanços importantes na luta contra essa doença. A farmacêutica dona da patente, a Gilead, se comprometeu a permitir sua produção para os países da África com maior carga de doença e sem recursos para comprar tal medicação.

Novas drogas de longa ação estão em estudo. Precisamos mais do que nunca lembrar das vidas perdidas para saber que existem cuidados e medidas disponíveis para evitar a Aids. Hoje é possível viver com qualidade tendo Aids. Mas ainda é melhor prevenir. É preciso que todos conheçam as formas de prevenção.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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