O Sistema Único de Saúde (SUS) brasileiro foi fundamental na resposta à pandemia. Sua universalidade e capilarização no país facilitou o acesso dos cidadãos aos serviços de saúde e permitiu mitigar um pouco as trágicas consequências de uma situação tão adversa.
Quando criado no início dos anos 90, logo após a Constituição de 1988, tinha como modelo o National Health Service (NHS) do Reino Unido. O NHS foi criado no período pós-Segunda Guerra Mundial, há 75 anos, e sempre foi motivo de orgulho para os britânicos. É um sistema de saúde universal e basicamente gratuito.
Talvez o leitor se recorde que Boris Johnson, primeiro-ministro britânico que, até então, negava a gravidade da Covid, adoeceu e foi internado em um hospital publico do NHS, em Londres, e depois agradeceu aos médicos e enfermeiros. Um cartaz com os dizeres “Thank you NHS” foi colocado na janela do famoso número 10 da Downing Street, residência oficial do governo.
Pois bem, extensas reportagens do NY Times e do The Guardian têm alertado que o NHS está entrando em colapso. Em meados de 2023 estimava-se que mais de sete milhões de procedimentos médicos estavam atrasados, incluindo cirurgias de próteses ortepédicas, tratamentos oncológicos, entre outros.
No período pré-pandemia, esse número raramente ultrapassava 4 milhões. Como a medicina privada britânica ainda engatinha, muito ingleses têm optado por cirurgias no Leste Europeu, com medicina privada menos custosa. Médicos e enfermeiros ingleses convivem com hospitais lotados e corredores cheios de pacientes aguardando vaga em enfermarias.
Além de frequentes esgotamentos (“burnout”) que têm provocado êxodo de profissionais de saúde e movimentos grevistas se sucedem nesse início de 2024. Os jovens médicos (juniorsdoctors) têm programado várias paralisações para os próximos meses.
O que ocorre com o NHS? Que lições para o nosso SUS? Há várias e diferentes causas por trás dessa grave crise. Primeiro, as populações (lá como cá) estão envelhecendo, trazendo mais demandas ao sistema. Segundo, a pandemia (lá como cá) acumulou um passivo de diferentes tratamentos que ficaram congelados à espera do controle de uma doença só, que, até então, ocupava a todos.
Terceiro, os extraordinários avanços tecnológicos em várias áreas da saúde trazem com frequência custos insustentáveis para um sistema universal (também lá como cá). Por último, a desastrosa e equivocada opção pelo Brexit tem trazido pesadas perdas à economia britânica, comprometendo o “budget” da saúde.
O Partido Conservador, no poder desde 2010, tem o enorme desafio de evitar o colapso do NHS, pilar do Estado de bem-estar social inglês. O primeiro-ministro Rishi Sunak anunciou ano passado um plano de investimento de cerca de 2,4 bilhões de libras com ideia de atrair 300.000 novos médicos e enfermeiros à força-tarefa da saúde. Os problemas de nosso SUS têm alguma semelhança com as dificuldades do NHS, mas em uma escala bem maior...
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