Em 13 de agosto passado, o Centro de Prevenção e Controle de Doenças da África declarou que o surto de mpox constituía uma emergência de saúde pública e, logo no dia seguinte, a OMS declarou uma emergência internacional. Devemos nos preocupar?
Mpox, que era chamada erroneamente de “varíola dos macacos”, causou um surto em 2022, provocado pelo clado II (uma variante) do vírus, transmitido basicamente por contato sexual de homens que faziam sexo com homens. A taxa de mortalidade na época foi baixa, inferior a 1%, e ocorreu com mais gravidade em pessoas muito imunodeprimidas.
O surto atual incomodou pela rapidez de expansão, com mais de 17 mil casos suspeitos (cerca de 3 mil confirmados), a maioria na República Democrática do Congo, mas também em mais quatro países (Burundi, Quênia, Ruanda e Uganda). Fora da África, essa doença chegou à Suécia, sendo notificada em uma pessoa que havia viajado para o Congo.
O surto atual, causado pelo Clado I, envolveu profissionais do sexo no inicio, mas também, em quase 50% dos casos, acometeu crianças menores de 5 anos, o que sugere uma transmissão maior, talvez contato intimo. A taxa de letalidade pode ser tão alta quanto 5% em adultos e até mesmo 10% em crianças. Há relatos de abortos em mulheres grávidas. As lesões vesiculares são a marca da doença, podem se espalhar rapidamente pelo corpo e devem facilitar o contágio para outras pessoas.
O antiviral tecovirimat usado para tratar o surto de 2022 pode não ter o mesmo efeito contra o clado I, do atual surto. Na verdade, em um ensaio clinico, esse medicamento não mostrou efeito contra mpox do clado I.
Muitas pessoas se assustaram com essas notícias e até procuraram vacinas para mpox em clinicas. Não há motivos para pânico e nem de longe se assemelha à pandemia recente que vivemos. Não existem riscos de algo semelhante à Covid. Mas é preciso entender que o mundo é uma aldeia global, e doenças que surgem em outros continentes podem rapidamente viajar de carona para outros lugares.
A prevenção de mpox é prevenção de IST (Infecção Sexualmente Transmíssivel), já que o início do surto teve participação de profissionais do sexo. Mas sua disseminação rápida em crianças pequenas mostra que o vírus tem transmissão por exposição à pele além do contato sexual.
Não temos testes moleculares para diagnóstico de mpox em nosso Estado, nem na rede privada nem na rede pública. Esse é o primeiro desafio a ser enfrentado: precisamos de instrumentos para diagnóstico. Existem vacinas, e é preciso que o Ministério da Saúde se abasteça com estoques estratégicos, já que a produção é limitada e hoje somente disponível para agentes públicos.
O objetivo da declaração de emergência sanitária não é alarmar, não é uma nova pandemia, mas alertar autoridades para se precaverem, pois essa doença pode chegar à vizinhança.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.