Empresário, vice-presidente da CNI e presidente do Copin (Conselho de Política Industrial da CNI). Foi presidente da Findes. Neste espaço, aborda economia, inovação, infraestrutura e ambiente de negócios.

Como impulsionar o desenvolvimento do Sul do ES?

É  fundamental uma mobilização das lideranças estaduais, em convergência com as lideranças políticas e empresariais do Sul, para que a gente tenha uma ação mais ousada e ambiciosa, construindo um planejamento específico e acelerando o dinamismo

Publicado em 26/05/2024 às 02h40

Sabemos todos que o Espírito Santo vive um bom ciclo econômico e financeiro, com o Estado sendo referência nacional em ambiente de negócios, equilíbrio fiscal e atração de investimentos. A indústria capixaba por exemplo cresce bem acima da média nacional: o Observatório da Indústria da Findes, com base em dados do IBGE, apurou crescimento de 9,4% entre janeiro e novembro no ano passado, contra somente 0,1% da média nacional nesse período.

No entanto, nosso crescimento infelizmente não ocorre maneira uniforme. O desenvolvimento do Sul do Estado hoje não tem o mesmo dinamismo que tinha em décadas passadas e não tem conseguido alcançar o desempenho do Norte do ES, que possui vantagens competitivas como os incentivos da Sudene, associadas à força da cadeia de petróleo e gás e às grandes plantas já instaladas ali como Suzano, Jurong, Imetame, WEG e tantas outras empresas que têm dado à região um cenário de oportunidades.

E a região Sul, como impulsionar? Penso que devemos nos debruçar sobre uma estratégia específica para promover o desenvolvimento regional equilibrado, com maior impulso para o Sul do Espírito Santo, devolvendo o histórico protagonismo à região e tornando-a tão atrativa como o Norte.

Essa perda de competitividade do Sul ficou evidente no recente Censo Demográfico de 2022, que mostrou que a população de Cachoeiro de Itapemirim, principal cidade da região, diminuiu nos últimos 12 anos, sofrendo uma queda de 2%, estando com 185,7 mil habitantes. Em números absolutos, foi a maior queda do Estado. Isso certamente é reflexo da atividade econômica e alguma coisa precisa ser feita.

Acredito que o Estado e alguns municípios do Sul podem utilizar os instrumentos de desenvolvimento regional de forma diferenciada para a Região Sul, tais quais linhas de crédito do Bandes, Fundo Soberano, Invest e Compet, Funcitec, fundo de desenvolvimento de Presidente Kenedy - Fundesul, e outros a serem criados para equilibrar a atratividade da região.

O governo e os municípios, em especial Presidente Kennedy, também poderiam considerar lançar mão de uma agenda de investimento diferenciada em infraestrutura e educação técnica, para fazer do Sul uma referência nessas áreas. Ao analisar essa questão, buscamos compreender a visão do Instituto Jones dos Santos Neves, com seu diretor presidente, Pablo Lira, e do Bandes, com a diretora operacional, Gabriela Vichi.

Pablo Lira resume sua visão como realista e otimista: o Sul realmente não conta com um incentivo robusto como a Sudene, mas ele argumenta que, nos últimos 15 ou 20 anos, a região já começou a recuperar terreno.

Os cálculos do Instituto Jones mostram que até 2027 o Espírito Santo receberá R$ 65,8 bilhões em investimentos. Lira argumenta, contudo, que, há algum tempo, esse investimento estaria praticamente todo concentrado na região metropolitana, sendo que atualmente ele se espalha mais pelo território capixaba, contemplando inclusive as regiões Sul, Litoral Sul e Caparaó, que juntas receberão perto de R$ 20 bilhões. Apesar de o número parecer equilibrado, muito desse investimento é em óleo e gás, que gera receita, mas pouco emprego direto e desenvolvimento em cadeia.

A região ganhou de fato um investimento recente importante, uma unidade da Suzano que começou a operar em 2021, e tem projetos estruturantes encomendados, como o ramal ferroviário de Santa Leopoldina a Ubu e posteriormente a Presidente Kennedy, o aeroporto regional de Cachoeiro e investimentos na área de saúde, como o Hospital do Câncer, e em educação, em instituições públicas e privadas, como Multivix, São Camilo e UVV.

Fábrica de Cachoeiro de Itapemirim da Suzano bate recorde de produção de papel higiênico
Fábrica de Cachoeiro de Itapemirim da Suzano bate recorde de produção de papel higiênico. Crédito: Suzano/Divulgação

Lira avalia que esses serviços de saúde e educação podem gerar uma nova dinâmica no Sul do Estado, além da vocação natural do setor de rochas e sua cadeia de beneficiamento e distribuição. Até 2030 o panorama deve ser outro, na visão do Instituto Jones.

Já a diretora operacional do Bandes, Gabriela Vichi, reconhece a disparidade histórica entre as regiões Sul e Norte, considerando as conhecidas vantagens da Sudene, entre outras, mas ela observa, contudo, a necessidade de uma certa mobilização local, para estimularmos o empreendedorismo partindo das próprias lideranças regionais, voltando as atenções por exemplo para a área de tecnologia e inovação.

Um exemplo. O Bandes repassa no Espírito Santo os financiamentos da Finep, agência pública ligada ao Ministério da Ciência e Tecnologia que financia a inovação, desde a pesquisa básica até a preparação do produto para o mercado. O Bandes conta com cerca de R$ 150 milhões para essas linhas e realizou no início do mês em Linhares o Finep Day, para apresentar as oportunidades de apoio à inovação industrial na cidade – esse mesmo Finep Day poderia ser realizado no Sul, é somente uma questão de mobilização local.

Os novos equipamentos na área de saúde e educação, os investimentos em infraestrutura e os quase R$ 20 bi previstos para a região pelo Instituto Jones certamente são animadores, mas, tudo considerado, penso que não devemos nos contentar com o cenário previsto, por mais otimista que possa parecer.

Creio que é fundamental uma mobilização das lideranças estaduais, em convergência com as lideranças políticas e empresariais da Região Sul, para que a gente tenha uma ação mais ousada e ambiciosa, construindo um planejamento específico e acelerando o processo de maior dinamismo para o Sul do Espírito Santo. É o que devemos fazer.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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