Na véspera de Natal, a coluna, que aposta na democracia como valor universal, teve acesso com exclusividade à carta que o Papai Noel escreveu a um golpista brasileiro. O nome do destinatário não foi revelado pelo Bom Velhinho, que preferiu preservar essa pessoa na esperança de que um dia ela lute para preservar, isso sim, a democracia no Brasil.
Meu querido filho golpista,
De antemão, quero dizer a você que, apesar de ser conhecido no mundo todo como “O Bom Velhinho”, confesso que estou muito irritado e indignado com você e sua turma que tanto desprezam a democracia e que, no começo do ano passado, tentaram dar um golpe de Estado no Brasil.
Sou um homem que sempre procura enxergar beleza nas atitudes humanas. Juro que tenho a maior boa vontade até com quem não merece, mas golpe é demais para as minhas barbas brancas!
Por que esse inconformismo com as regras do jogo democrático? Por que tentar tirar do poder um governante legitimamente eleito pelo povo e colocar no lugar um homem que não esconde seu encanto pela ditadura, pela violência e que até já elogiou publicamente, no Congresso Nacional, um torturador?
Por que jogar a liberdade fora por uma causa dessa, por um homem com essa personalidade autoritária? Ele e a família dele continuam bem, obrigado, e você, ou está preso, ou está em vias de ser encarcerado.
Meu filho, democracia é um processo complexo, admito, mas a vida humana também é assim, cheia de dificuldades. A gente tem que resolver nossos problemas e nossas diferenças através do diálogo, da negociação, da disputa leal, e não tentando derrubar, pela força, quem se opõe a nós.
Você perdeu seu precioso tempo, dinheiro, emprego, às vezes até a saúde, por uma causa muito pouco nobre. O derrotado de hoje pode ser o vitorioso de amanhã, lembre-se disso. Eleição é igual ao esporte - um dia a gente ganha, noutro a gente perde, o que não pode é apelar para o tapetão.
Se você, meu caro golpista, estiver preso, tenha minha compaixão, nunca minha concordância com seus atos. E se você for preso, lamento, mas é o caminho que você escolheu. Veja que ironia: você, de forma absolutamente livre, escolheu jogar fora sua liberdade, o bem mais precioso que podemos ter, junto com a própria vida.
Neste Natal, seu marido ou sua mulher, seus filhos, seus parentes e amigos próximos talvez não poderão comemorar com você o nascimento do Salvador. Este é o presente (e o mau exemplo) que você legou a eles. Se ainda não estiver preso neste ano, talvez nos próximos, quando todos os golpistas vão encarar a barra dos tribunais.
Espero, do fundo do meu coração, que esse período pelo menos seja rico para que você possa fazer uma profunda reflexão sobre o sentido da vida e o valor da liberdade e da democracia.
E espero, também, que aqueles que o enganaram e o levaram a esse abismo, paguem de igual forma pelo mal que fizeram à nação e ao povo brasileiro.
De qualquer forma, desejo do fundo do meu coração que o exemplo do Cristo Ressuscitado, aquele que venceu a morte, a injustiça e os ditadores, lhe faça ser um homem melhor.
Golpe nunca mais! Ditadura nunca mais!
Apesar de tudo, Feliz Natal!
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