Carro-chefe da casa, a coxinha recheada com frango e queijo não corre risco de ficar fria e nem murcha. Depois de 40 anos, o Bar Cochicho da Penha, o mais antigo da Rua da Lama, em Jardim da Penha, em Vitória, trocará de mãos - mas não vai fechar. O casal de idosos que é proprietário do tradicional estabelecimento desde 1983 resolveu passar o negócio à frente.
“Estou com 70 anos e meu marido com 80. Não estamos mais aguentando o ritmo, agora é hora de a gente descansar, curtir a vida e os netos”, ensina dona Conceição de Moraes Resende, que toca até hoje o Cochicho com o seu marido, Geraldo Resende Filho.
Segundo dona Conceição, a nova proprietária do bar prometeu manter o nome e a “filosofia” do reduto mais antigo da boemia da Rua da Lama, incluindo a famosa coxinha de frango com queijo. “O bar continua funcionando e não vai fechar nem um dia sequer”, tranquiliza a atual dona do estabelecimento.
Como todo bar que se preze, o Cochicho da Penha vai reunir frequentadores e amigos na “saideira” comemorativa aos atuais donos, no dia 9 de julho. O bar será entregue aos novos proprietários até o dia 15 de julho.
O Cochicho da Penha é do tempo em que a Rua da Lama - oficialmente, Avenida Anísio Fernandes Coelho - era exatamente isso que o nome sugere - uma via pública coberta de lama. Reduto de boêmios, até hoje o bar toca diariamente músicas do cantor e compositor cachoeirense Sérgio Sampaio, que também deu canjas inesquecíveis no bar.
Localizado próximo à Ufes, o Cochicho foi também abrigo de intelectuais. Até há alguns anos, era local de apresentação, ao vivo, de músicos de jazz, no tempo em que Vitória tinha mais espaço para gêneros musicais tidos como mais “sofisticados”.
MÚSICOS BRASILEIROS VISITARAM O BAR
A fama de local de boa música extrapolou os limites da capital capixaba e do próprio Espírito Santo. Passaram pelo Cochicho, entre outros expoentes da música brasileira, Moraes Moreira e Yamandu Costa. “É tanta gente que não estou lembrada agora”, se desculpa a incansável dona Conceição.
Ela também não sabe exatamente o motivo de o bar ter Cochicho no nome, mas levanta uma hipótese: “Aqui as pessoas sempre cochicharam. Tem até uma placa que diz ‘o que ainda não foi dito em voz alta’. Talvez seja isso”, brinca.
O bar também evoca boas memórias de seus frequentadores. O escritor e jornalista Caê Guimarães é um deles: “Comecei a frequentar o Cochicho da Penha em 1989, o bar ainda era do outro lado da rua. Geraldo e dona Conceição são figuras queridas e icônicas na noite da Vitória, e sempre acolheram grupos de jazz e exposições de arte nas paredes do bar. Não há boteco na cidade que toque música tão boa, o repertório do Cochicho é coisa fina”, elogia.
Caê, como antigo frequentador, espera que o Cochicho continue sendo o velho bar de outrora. “Torço para que os novos donos mantenham esse perfil. E que haja uma despedida à altura para o casal tão querido. Aos dois, desejo uma feliz aposentadoria. E agradeço por tantos anos de amizade.”
Este vídeo pode te interessar
LEIA MAIS NA COLUNA LEONEL XIMENES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.