Para ele, certamente foi o último ato de resistência. Militante de esquerda e ex-guerrilheiro que combateu a ditadura militar, o aposentado Francisco de Assis Borges morreu nesta segunda-feira (7), aos 79 anos, um dia após votar no neto para prefeito de Jerônimo Monteiro, uma pequena cidade no Sul do Espírito Santo.
Chico Borges, como era mais conhecido, deixa sua mulher, quatro filhos e sete netos. O aposentado, que convivia com um câncer, acordou disposto, votou no domingo, mas cerca de cinco horas depois começou a sentir dores e foi levado para o hospital, onde morreu no dia seguinte.
“Ele será lembrado não apenas por sua luta e conquistas políticas, mas também pelo idealismo e pela capacidade de concretizar projetos de grande impacto social. Sua vida foi um exemplo de dedicação ao bem comum e de um compromisso inabalável com a justiça e a democracia”, afirma o neto Mitter Mayer, que acabou perdendo a eleição para prefeito.
CASSAÇÃO DO PAI, O INÍCIO DA LUTA
Desde cedo Chico Borges foi despertado para a militância política. Chico cresceu em um ambiente politizado em Jerônimo Monteiro, com seu pai sendo o primeiro prefeito cassado pela ditadura militar em 1964. Este episódio marcou o início de uma vida de luta incansável pela democracia.
Chico participou ativamente da resistência contra o regime militar, vivendo na clandestinidade e estabelecendo laços com grandes personalidades da época, como o jornalista Vladimir Herzog e o cantor e compositor Sérgio Sampaio.
A música “Eu Quero é Botar Meu Bloco na Rua”, de Sampaio, segundo Mitter, foi inspirada em uma reunião de resistência da qual Chico Borges participou. Ele também é lembrado pela icônica pichação "Abaixo a Ditadura", realizada no Museu de Belas-Artes do Rio de Janeiro.
Na juventude, Chico presidiu a Casa do Estudante em Cachoeiro de Itapemirim, onde começou seu envolvimento com movimentos estudantis e políticos. Ele foi um dos pioneiros na criação do vale-transporte universitário no Brasil e um dos fundadores do PT no Espírito Santo.
Chico Borges contava que ajudou a treinar guerrilheiros do Araguaia, com o conhecimento acumulado quando serviu ao exército antes de seguir para a militância política clandestina no Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), de inspiração marxista.
Sobreviveu à repressão, participou da resistência democrática, viveu dias agitados e mais tarde se recolheu à sua pacata Jerônimo Monteiro, onde conviveu com o carinho da família e o reconhecimento da sociedade pelo seu papel histórico - até seu último dia de vida.
A luta continua, Chico Borges! Vá na paz!
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