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Fui ao velório do Rei Pelé: escolhi testemunhar a história

Estava curtindo uns dias de descanso em São Paulo, mas não podia perder a oportunidade de ir à Vila Belmiro reverenciar aquele que deu tantas alegrias ao povo brasileiro

Vitória
Publicado em 02/01/2023 às 19h56
Momento em que me preparava para enfrentar a imensa fila do velório de Pelé, na Vila Belmiro
Momento em que me preparava para enfrentar a imensa fila do velório de Pelé, na Vila Belmiro. Crédito: Regina Lúcia de Souza Ximenes

Rei morto, Rei eterno. Como súdito, jamais poderia me furtar a prestar uma simples homenagem de despedida ao maior jogador de futebol do mundo, que nos deixou na última quinta-feira (29). O destino quis que eu estivesse na cidade de São Paulo, curtindo poucos dias de férias entre o réveillon e o começo de janeiro.

Os 83 quilômetros que separam o local de onde estou hospedado, na capital paulista, do estádio do Santos Futebol Clube não foram obstáculo: eu tinha que testemunhar a história. Decidi e fui ao encontro do Rei.

Não foi fácil. Enfrentei uma viagem de quase duas horas, sol forte, uma temperatura superior a 30 graus e uma imensa fila que levou 1 hora e 45 minutos até o tablado coberto onde jazia o Rei, no meio do gramado do Estádio Urbano Caldeira, onde Pelé marcou boa parte dos seu mais de 1.000 gols.

Vi pessoas de todo o país emocionadas, suadas e extenuadas, mas todas, sem exceção, com o propósito de reverenciar o Rei na sua despedida terrena. Ao lado da imensa fila, repórteres do mundo todo perguntavam às pessoas quem falava inglês, para as entrevistas de praxe.

No alto, a multidão contemplava o voo de helicópteros de emissoras de televisão e de drones captando imagens privilegiadas dos fãs do jogador.

Acompanhado da minha mulher e de dois amigos que moram em São Paulo, entrei na fila às 11h24. Daí em diante, a caminhada começava lentamente, mas às vezes parava, aumentando a angústia e o cansaço de quem esperava o aguardado momento de se despedir do Rei.

Despedida que durava apenas alguns segundos e ainda a cinco metros do caixão postado no meio do impecável gramado do estádio do Santos, na Vila Belmiro. A distância parecia uma enormidade e o tempo, insuficiente para reverenciar o craque.

A Vila famosa, aliás, por vezes lembra o que ainda está preservado do Centro de Vitória, com casas antigas de linhas clássicas e de muito bom-gosto. No caminho, ambulantes vendiam água mineral (um item disputadíssimo sob o sol abrasador de Santos) e camisas de todos os tipos com a estampa de Pelé, principalmente do Santos e da seleção brasileira.

Os torcedores santistas eram a grande maioria, por óbvio, mas havia também muitos adeptos de times cariocas, como Vasco e Flamengo. Afinal, além da Vila Belmiro, Pelé se consagrou muitas vezes no Maracanã, estádio onde fez seu milésimo gol contra o time cruzmaltino.

Havia espaço também para alguns membros de igrejas evangélicas que distribuíam aos torcedores mensagens religiosas, as quais certamente eram bem-vindas naquele momento de profunda dor e tristeza pela despedida do Rei.

A segurança e a organização estavam impecáveis. Quando a fila se aproximava do estádio, gradis delimitavam as filas até o acesso ao gramado onde repousava o eterno ídolo do futebol mundial.

Finalmente, quando chegou minha vez de passar ao lado do tablado onde estava o caixão, fiquei tão emocionado que não sabia se fotografava, filmava ou parava para reverenciar o Rei.

Parar não dava porque os seguranças pediam para a fila andar porque uma multidão vinha atrás determinada a vivenciar este momento único na vida de cada um que foi à Vila Belmiro nesta segunda-feira (2), primeiro dia útil do ano.

Entrei no estádio e saí dele sob o grito de guerra da torcida santista, que entoava “mil gols, mil gols, só Pelé que jogou no meu Santos”. Foi de arrepiar. Não sei se chorava ou se sorria. Na dúvida, chorei e sorri. E como diz o nosso outro Rei, “se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi”.

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