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Max Mauro, o homem que honrou a política, amou o povo e enfrentou as elites

Ex-governador do Espírito Santo, que morreu nesta quinta-feira (14), deixa como legado a defesa intransigente do interesse público nos cargos que exerceu

Vitória
Publicado em 14/11/2024 às 06h36
Max Mauro governou o Espírito Santo de 1987 a 1991
Max Mauro governou o Espírito Santo de 1987 a 1991. Crédito: Fernando Madeira

Acostumado desde cedo a cuidar de vidas, o médico Max Freitas Mauro deixou a medicina em segundo plano e foi encontrar na política a forma mais efetiva de promover o bem comum e cuidar do destino de milhares de pessoas ao mesmo tempo. A história mostrou o acerto da sua escolha.

Raro homem público que fez da Política (com P maiúsculo) uma missão, Max Mauro soube honrar os diversos cargos públicos que exerceu - prefeito de Vila Velha, deputado federal e governador do Espírito Santo -, sempre ungido pelo voto popular.

O vila-velhense de 87 anos, que nos deixou nesta quinta-feira (14), depois de um longo período de enfermidade, vai ficar definitivamente na história da política capixaba como um homem inflexível. Mas, calma: esse traço da personalidade do ex-governador, pelos motivos expostos a seguir, é uma rara qualidade muito em falta nos dias de hoje.

Max Mauro foi inflexível contra a corrupção; não admitiu injustiças contra os mais pobres e fragilizados; não permitiu negociatas nos cargos que exerceu; disse não a alianças espúrias que visavam dilapidar o patrimônio público; foi inflexível contra os que ousavam pensar em atentar contra o interesse público.

Essa inflexibilidade, quando estava em jogo o interesse público, não era retórica. E a história mostra isso. Corajoso, como governador Max chegou a interditar as poderosas Vale do Rio Doce e a Companhia Siderúrgica de Tubarão (CST), em 1990, porque ambas as empresas, então estatais, recusavam-se a cumprir medidas ambientais exigidas pelo Estado. Foram momentos tensos na vida política e econômica capixaba.

Um ministro do governo Collor (Ozires Silva, da Infraestrutura) chegou até a deslocar-se de Brasília para o Espírito Santo, sem avisar, para pressionar Max a liberar o acesso às empresas. Não adiantou nada. O governador só relaxou a interdição quando Vale, CST e governo federal se comprometeram a cumprir as condicionantes ambientais.

Governou o Espírito Santo de 1987 a 1991 e não saiu do poder e do cargo mais importante do Estado para curtir uma vida nababesca. Não se enriqueceu com a política e continuou na luta por muitos anos, como sempre fez desde que atuou corajosamente no enfrentamento da ditadura militar, quer militando nos movimentos sociais, quer como prefeito da sua amada Vila Velha no começo dos duros anos 1970.

Era um homem reconhecidamente austero e de hábitos simples. Não frequentava a elite capixaba. Aliás, parte dela sempre o odiou.

Odiou pelos seus méritos, bem-entendido. Para atingi-lo, seus detratores o chamavam de “tartaruga”. Mas a história mostrou que, mais do que o injusto carimbo de lento, Max Mauro na realidade era prudente nas decisões que iria tomar como homem público. Era preciso ponderar porque o destino do Estado e do seu povo estava em jogo diante de poderosos interesses nem sempre legítimos.

Nascido em 1937, o filho de Saturnino Rangel Mauro e Maria da Penha Freitas Mauro foi um homem duro quando julgava necessário, mas também capaz de gestos públicos afetuosos. Este colunista pode testemunhar pelo menos duas marcas do ex-governador que cativava quem o conhecia.

Uma das mais conhecidas: Max Mauro sempre recepcionava as pessoas com um forte abraço e, com um gesto firme e ao mesmo tempo fraterno, conduzia a cabeça do seu interlocutor para ser “encaixada” no seu ombro amigo. “Meu líder”, expressava-se o ex-governador como forma de carinho, dando tapinhas de leve na cabeça do amigo momentaneamente "imobilizado".

A fé era outro traço da sua personalidade. Católico praticante e devoto de Nossa Senhora da Penha, Max Mauro, durante a Romaria dos Homens, postava-se na esquina da rua que dá acesso ao Convento da Penha para receber e cumprimentar os milhares de fiéis que chegavam à Prainha, exaustos depois dos mais de 13 quilômetros vencidos após a saída da Catedral Metropolitana de Vitória.

Hoje, após sua morte, é o Espírito Santo e seu povo que reconhecem seu valor e o exemplo do ex-governador, nestes tempos em que a política está perdendo seu sentido de missão para dar lugar a um jogo de lances mesquinhos e menores, em prejuízo do interesse público.

Max Mauro, obrigado pelo seu ombro amigo.

Siga em paz, meu líder!

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