
Em 2024, o PL e o Republicanos estiveram em lados opostos em Vitória. O Partido Liberal lançou o deputado estadual Capitão Assumção como candidato a prefeito da Capital, contra Lorenzo Pazolini (Republicanos), que tentava a reeleição. Pazolini saiu-se vencedor em primeiro turno e Assumção ficou em quarto lugar, mas não sem antes tecer críticas duras contra a gestão municipal. O deputado do PL até foi condenado a pagar uma multa de R$ 15 mil por calúnia contra o prefeito.
No pleito do ano passado, o PL se isolou em quase todos os municípios. O presidente estadual do partido, senador Magno Malta, enviou um ofício aos presidentes municipais da legenda proibindo coligações com diversas siglas, entre elas o Republicanos. Em entrevistas e discursos, Magno chegou a chamar partidos de centro-direita, como o PP e o Republicanos, de "direitinha". O ponto central do desacordo era que o Republicanos tem ministério no governo Lula (PT).
O PL, contudo, lançou 50 candidatos a prefeito no estado e elegeu apenas cinco, em cidades pequenas. Agora, a estratégia mudou. O partido de Magno tem se reaproximado de partidos de centro-direita no estado, em especial o Republicanos. Uma recente conversa entre Magno e o presidente estadual do partido de Pazolini, Erick Musso, marcou o início do diálogo.
"O presidente do Republicanos, Erick Musso, me procurou e falamos sobre as questões relacionadas ao processo eleitoral que se aproxima. Tivemos um primeiro diálogo, e certamente foi apenas o início de outras conversas que virão", afirmou Magno Malta, em nota enviada à coluna.
Magno, frise-se, fez questão de ressaltar que Erick o procurou, não o contrário.
É uma guinada e tanto, considerando não apenas as críticas do senador ao Republicanos no ano passado, como as respostas de Erick Musso aos petardos, na ocasião. O presidente estadual do Republicanos afirmou, em agosto de 2024, que Magno "tem um projeto egocêntrico e vaidoso" e lembrou que o senador, no passado, "pediu voto para Lula e Dilma".
Os ânimos, em março de 2025, estão bem mais pacíficos. Afinal, o contexto mudou.
Pazolini saiu fortalecido das urnas e já se movimenta para disputar o Palácio Anchieta no ano que vem. E o PL pode ser um importante aliado. Erick Musso, além de presidir o Republicanos, é secretário de Governo da Prefeitura de Vitória e o principal articulador do prefeito. Ele busca formar uma "frente ampla" que ampare a candidatura de Pazolini ao governo.
Magno, por sua vez, apesar do discurso ideológico inflamado, também sabe ser pragmático e não pode ignorar o resultado das eleições de 2024 no estado que, sim, foi bem tímido. Outro fator que contribui para o recálculo da rota é que, nacionalmente, o PL não é tão sectário quanto o senador foi no ano passado.
O presidente nacional da legenda, Valdemar Costa Neto, não havia vetado parcerias com Republicanos e PP e, certamente, a direção nacional quer que o PL tenha um desempenho robusto em 2026, principalmente, na eleição de deputados federais, que é o balizador da distribuição de verbas destinadas aos partidos.
Magno, contudo, nega que tenha havido qualquer imposição da direção nacional para a reaproximação com partidos de centro-direita.
"Não há uma orientação de cima para baixo. O que existe são diálogos, nos quais cada estado trata da sua própria realidade. Há, no entanto, um ponto em comum em praticamente todo o Brasil: a luta contra a esquerda e suas ideologias. No Espírito Santo, por exemplo, esse embate é evidente", afirmou o presidente estadual do PL.
"O papel do partido, portanto, é dialogar com aqueles que compartilham dos mesmos princípios e valores. Não estamos buscando alianças a qualquer custo — pelo contrário, temos sido procurados e estamos abertos ao diálogo com todos que se aproximam de nós", completou.
Isso não quer dizer que uma eventual parceria entre Republicanos e PL para 2026 já está selada. Mas o fato de o diálogo ter sido aberto já é um começo.
Erick Musso não concedeu entrevista à coluna.
Pazolini, como candidato ao governo, vai ter duas vagas de candidatos ao Senado para oferecer aos aliados, além do posto de vice.
O PL quer lançar um nome ao Senado no estado. Magno já levantou a bola do deputado federal Gilvan da Federal como pré-candidato ao cargo, mas integrantes do próprio Partido Liberal avaliam que o mais provável é que Gilvan dispute a reeleição.
Filiado ao PL, o ex-deputado federal Carlos Manato quer ser candidato ao Senado e já estreitou laços com o prefeito de Vitória, com a nomeação da esposa, a médica e ex-deputada federal Soraya Manato (PP), como secretária municipal de Assistência Social.
É muito improvável, porém, que Manato dispute as eleições de 2026 pelo PL. A relação dele com Magno Malta está desgastada desde o pleito de 2022, quando o ex-deputado foi candidato ao Palácio Anchieta e depois, queixou-se de despesas de campanha não pagas pelo partido. Assim, Manato deve procurar outra sigla para tentar concorrer.
CORONEL RAMALHO
Outra possível mudança no secretariado de Pazolini, entranto, poderia estreitar ainda mais os laços entre Republicanos e PL. Trata-se do ex-secretário de Segurança Pública Coronel Ramalho, que disputou a Prefeitura de Vila Velha pelo partido em 2024.
Ramalho não aceitou a proposta do Podemos de concorrer à Prefeitura de Vitória contra Pazolini no ano passado, o que, por si só, já ajudou o prefeito.
Na semana que vem, o coronel deve se reunir com Pazolini, o que levantou especulações sobre um eventual convite para ocupar uma secretaria. Á coluna, Ramalho contou que não houve nenhuma conversa nesse sentido e que apenas foi chamado para uma reunião, à qual pretende comparecer, sem saber qual é a pauta.
"Eu comuniquei ao Magno que vou a essa reunião com o prefeito de Vitória, mas não houve nenhuma conversa sobre secretaria. Isso é especulação. Fico lisonjeado e agradecido se esse convite acontecer, mas teria que analisar. Eu poderia aceitar, com prazer".
Pessoas ligadas a Ramalho já foram nomeadas por Pazolini em cargos comissionados, o que é mais um indicativo da proximidade entre o prefeito e Ramalho.
CÂMARA MUNICIPAL
Além do fator 2026, há questões mais prementes entre Republicanos e PL. O Partido Liberal tem dois vereadores em Vitória. Armandinho Fontoura e Dárcio Bracarense.
Armandinho não quis dar declarações sobre a relação entre os dois partidos.
Na terça-feira (18), em plenário, ele ficou ao lado da gestão Pazolini. Defendeu a nomeação de Soraya Manato na Secretaria de Assistência Social, o que foi alvo de críticas de vereadores da oposição.
De acordo com Armandinho, Pazolini faz a política "de boa qualidade" e "se a secretária Cynthia foi trocada, é porque não estava fazendo um bom trabalho".
Dárcio, que é o líder do PL na Câmara de Vitória, por sua vez, afirmou à coluna nesta quarta-feira (19) que ainda é cedo para falar em aliança entre PL e Republicanos.
"As conversas definitivas sobre isso vão ser feitas pelo senador Magno Malta. Mas, na minha avaliação, ainda é cedo para falar em aliança. Para que esse casamento aconteça, a gestão Pazolini precisa fazer ajustes ideológicos e administrativos", afirmou Dárcio, que tenta até viabilizar uma CPI na Câmara de Vitória sobre questões envolvendo a prefeitura.
Ele ressaltou, contudo, que a orientação do PL é para que a atuação dos vereadores do partido em Vitória seja independente, sem integrar a base aliada e tampouco a oposição.
E ASSUMÇÃO?
Integrantes do PL e do Republicanos avaliam que Assumção é um dos filiados ao Partido Liberal, mas não é quem dá as cartas na sigla — essa é a função de Magno Malta — logo, eventuais opiniões negativas que o parlamentar tenha em relação a Pazolini não inviabilizam a aproximação entre as duas legendas.
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