O governador Renato Casagrande (PSB) não falou e, provavelmente, nem vai falar sobre a eleição da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa, marcada para 1º de fevereiro.
O que o Palácio Anchieta quer, aliás, é que nem os deputados estaduais dediquem-se muito a esse assunto, por enquanto. Projetos importantes para o governo vão ser votados ainda este ano na Assembleia, como a Lei Orçamentária para 2025.
O recado enviado aos parlamentares da base aliada pela Casa Civil de Casagrande é não deixar que a eleição para a presidência do Legislativo contamine a tramitação das propostas.
Que não haja uma antecipação da "campanha" para a eleição da Mesa.
Oficialmente, nem há candidatos à presidência da Assembleia. Nos bastidores, porém, o atual chefe do Legislativo estadual, Marcelo Santos (União Brasil), é candidatíssimo à reeleição.
Marcelo é da base aliada a Casagrande. No comando da pauta das sessões, ele atende aos pedidos governistas e não coloca pedras no caminho do Palácio.
É a política feita por ele fora da Assembleia, porém, que leva uma incômoda "pulga atrás da orelha" do governador e dos aliados mais próximos ao socialista, de acordo com o que a coluna apurou.
O atual presidente da Assembleia, nas eleições municipais, esteve em palanques diferentes daqueles pelos quais Casagrande trabalhou.
Em Vitória, Marcelo ficou ao lado do prefeito reeleito Lorenzo Pazolini (Republicanos) enquanto casagrandistas se esforçaram, sem sucesso, por João Coser (PT) e, principalmente, por Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB).
Na Serra, Marcelo pediu votos aos eleitores para Pablo Muribeca (Republicanos). Casagrande, por sua vez, participou até de carreatas ao lado de Weverson Meireles (PDT), que foi o vencedor.
Dentro do União Brasil, Marcelo Santos trava uma guerra por poder contra Felipe Rigoni, o atual presidente estadual, que é secretário de Meio Ambiente de Casagrande.
Em tese, a escolha do presidente da Assembleia cabe apenas aos deputados estaduais, pois somente eles têm direito a voto. Na prática, contudo, para comandar a Assembleia é preciso contar com o aval do governador, que tem maioria na Casa.
Mesmo com os senões devido à participação nas eleições municipais, Marcelo pode contar com o apoio do governador para presidir a Assembleia por mais dois anos.
O nome dele não foi barrado nem nada disso. O presidente é querido pelos deputados, casagrandistas e oposicionistas. E contou com o apoio público de Casagrande em 2023 para chegar ao comando do Legislativo estadual.
ELEIÇÕES 2026
A questão que paira no ar é outro pleito, o de 2026.
Daqui a cerca de um ano e meio, Casagrande pode deixar o governo para ser candidato ao Senado — isso tampouco está definido, mas é um cenário que não deve ser descartado — e seria de vital importância, para os casagrandistas, que o presidente da Assembleia estivesse alinhado com os planos eleitorais do grupo.
"Independentemente de o governador ser candidato ao Senado ou não, o projeto que Casagrande lidera vai ter candidato ao governo e ao Senado (em 2026), terá chapas de candidatos a federal e a estadual. O governador não vai abrir mão de ter um presidente da Assembleia que tenha compromisso político com o grupo", avalia um interlocutor do chefe do Executivo estadual.
Marcelo já se diz pré-candidato a deputado federal desde o início de 2023, quando foi eleito presidente da Assembleia pela primeira vez, mas meses atrás, confidenciou que "pode mudar o plano de voo".
Esse plano pode conflitar com os das aeronaves a serem lançadas por Casagrande.
Se, por acaso ou não tão acaso assim, Casagrande decidir apoiar outro nome que não o de Marcelo Santos para presidir a Assembleia, quem seria?
Em 2023, Vandinho Leite (PSDB) tentou concorrer ao cargo, chegou a reunir assinaturas de apoio de colegas, mas viu esse apoio se esvair depois que o governador entrou em campo por Marcelo.
O tucano poderia tentar mais uma vez, embora isso não seja uma certeza. Na Serra, no primeiro turno, Vandinho esteve ao lado de Audifax Barcelos (PP), mas no segundo, alinhou-se a Casagrande com Weverson Meireles.
O fato de, no início, Vandinho ter firmado parceria com o candidato do PP não parece ser um problema para os aliados do governador. "Vandinho é da Serra. Entendemos que existem questões locais. O Marcelo não é da Serra", ponderou um casagrandista à coluna.
Na última terça-feira (29), os deputados estaduais reuniram-se para almoçar em um hotel de Vitória, a convite de Marcelo, como ocorre todos os meses. Lá, Marcelo recebeu manifestações espontâneas de apoio alguns deputados. Vandinho não estava presente.
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