O ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon passou mais de 20 anos no MDB, partido que tem em sua origem a oposição à ditadura militar e que, nos últimos anos, passou a ser conhecido pelo governismo e pela maleabilidade com que se relaciona com quaisquer atores políticos.
De radical, o MDB não tem nada. E tampouco Guerino exibia tal perfil.
Sem conseguir espaço para disputar o governo do Espírito Santo, ele se viu impelido a sair do partido e migrou para o PSD, uma legenda de centro, em abril.
De lá pra cá, Guerino acirrou o discurso. Aos 66 anos, exaltou uma identidade conservadora que tem a ver com o histórico dele, marcado por cinco mandatos de prefeito.
Mas foi além. Agora, ele entoa gritos de guerra bolsonaristas e tenta ser o candidato do presidente da República no estado. "Bolsonaro e Guerino juntos", afirmou em discurso na convenção.
Quando o presidente esteve em Vitória, no último dia 23, lá estava o ex-prefeito no palco.
Guerino, no entanto, chegou atrasado. Não ao evento, mas, como os bolsonaristas gostam de dizer, à "narrativa".
Outro pré-candidato ao Palácio Anchieta cola a imagem à de Bolsonaro desde 2018, o ex-deputado federal Carlos Manato (PL), que recebeu até um vídeo de apoio do presidente recentemente.
Ainda assim, Guerino está, digamos, forçando a barra.
"O nosso governador socialista, comunista, está juntando todas as forças econômicas para lhe dar sustentação", bradou, ao discursar.
Bolsonaristas, via de regra, chamam qualquer opositor ou até mesmo críticos pontuais de comunistas.
O comunismo prega, por exemplo, o fim da propriedade privada. Como, então, "forças econômicas" estariam aliadas a isso?
Mas a análise aqui não é sobre a validade dos argumentos de Guerino e sim quanto à radicalização do discurso do político veterano:
"Sempre respeitei quem tem posições diferentes, mas os valores da família, da pátria, não vamos entregar a esses comunistas".
"Nossa bandeira nunca foi vermelha e não será", chegou a dizer o ex-prefeito de Linhares, repetindo um bordão da extrema direita.
"Acabou o ciclo no estado e no Brasil dessa esquerda vergonhosa", emendou.
Guerino, como candidato de oposição, tem feito críticas contundentes ao governador Renato Casagrande (PSB) e é legítimo que o faça.
O ex-prefeito, por exemplo, aponta que o socialista – epíteto de quem integra o PSB – "guardou dinheiro" nos cofres do estado para gastar apenas em ano eleitoral.
O governador acelerou as agendas em 2022, mas já respondeu a Guerino, disse à coluna que "a acusação de investir muito é uma boa acusação".
O candidato o PSD já havia declarado apoio a Bolsonaro em outras ocasiões e ponderou que não concorda com tudo que o presidente da República faz e diz. Ele não endossa, por exemplo, as suspeitas, sem provas, lançadas sobre o sistema eleitoral.
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