No primeiro turno das eleições de 2022, alguns aliados do governador Renato Casagrande (PSB) já estavam em dois palanques, a priori, antagônicos: pela reeleição do socialista e do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).
Esse voto BolsoGrande, entretanto, era tratado de forma discreta, principalmente por aqueles que tentavam uma vaga na Câmara dos Deputados. Como essa parte do pleito já se encerrou, agora o apoio duplo é mais explícito.
O deputado federal eleito Gilson Daniel (Podemos), que foi secretário de Casagrande, postou nas redes sociais, nesta quinta-feira (6), por exemplo, uma imagem que une as fotos do governador e de Bolsonaro.
"Meu voto do segundo turno será o mesmo do primeiro. Casagrande 40 e Bolsonaro 22. Responsabilidade com o Espírito Santo", escreveu Gilson, na legenda.
Outros integrantes do Podemos adotaram igual estratégia. Vice-prefeito de Vila Velha e deputado federal eleito, Victor Linhalis é um deles.
"Para quem tem ideologia como pilar único, talvez fique antagônico. Mas minha decisão é por entrega, trabalho, proposta. Voto no indivíduo Renato e no indivíduo Bolsonaro. São os melhores gestores", afirmou Linhalis.
Ele falou, ao telefone, com a coluna nesta quinta, diretamente de Brasília, onde compareceu a um café da manhã com o presidente da República. Bolsonaro convidou os deputados eleitos e reeleitos para o encontro.
Doutor Victor, como é conhecido, postou nas redes sociais a predileção pelo governador e pelo presidente quase ao mesmo tempo que Gilson, mas sustentou que o movimento não foi coordenado.
Casagrande declarou voto no ex-presidente Lula (PT) na corrida pelo Palácio do Planalto. O PSB integra a chapa do petista. O vice é o ex-governador de São Paulo e neosocialista Geraldo Alckmin.
O governador do Espírito Santo é de centro-esquerda. O presidente beira a extrema direita.
No Espírito Santo, o candidato que se perfila à agenda bolsonarista é Manato (PL), o oponente do governador no segundo turno.
O Podemos de Gilson Daniel e Victor Linhalis esteve com Simone Tebet (MDB) no primeiro turno. De acordo com Linhalis o partido ainda não decidiu como vai se posicionar, oficialmente, a partir de agora.
No Espírito Santo, segue com Casagrande.
Mas essa não é uma barreira intransponível, nem mesmo para integrantes ou ex-integrantes do governo estadual.
O ex-secretário de Segurança Pública coronel Alexandre Ramalho (Podemos), no primeiro turno já havia dito à coluna que o voto dele era BolsoGrande, não com essas palavras, é claro.
Ramalho tentou uma vaga de deputado federal, recebeu 33.874 votos e não foi eleito. Também nesta quinta, registrou, no Instagram: "Sou 22 e voto 40".
O assessor especial da Casa Civil do governo Casagrande Marcos Delmaestro (PP) também foi às redes sociais, na quarta (5), declarar voto em Casagrande e Bolsonaro. Ele está licenciado do cargo para participar das eleições.
O PP, nacionalmente, está na base do presidente. No Espírito Santo, segue coligado com Casagrande.
"É a liberdade que o partido nos dá. Mas foi uma manifestação pessoal minha", pontuou Delmaestro à coluna.
Ele, que é secretário-geral do PP no estado, também negou que a orientação para divulgar o voto BolsoGrande tenha partido da campanha do socialista.
O deputado federal reeleito Da Vitória sempre esteve, ao mesmo tempo, na base de Casagrande e de Bolsonaro. Quando saiu do Cidadania e foi para o PP, este ano, isso ficou mais evidente.
No primeiro turno, entretanto, o apoio ao governador nas redes sociais do próprio Da Vitória foi discreto.
O deputado compareceu a eventos ao lado do socialista e nunca escondeu a aliança, porém não saiu alardeando-a aos quatro ventos.
Nesta quinta, Da Vitória postou uma foto ao lado de Bolsonaro e manifestou apoio ao candidato do PL, mas apenas no plano nacional. "Gravei um vídeo ontem falando da importância da reeleição do Casagrande e vou soltar logo mais", adiantou.
"Para mim, não tem contradição. Apoio o que acho mais importante para o Brasil e para o Espírito Santo. Casagrande, pela condução do governo, uma gestão muito progressista, competente, com muito desenvolvimento e apoio às cidades nunca visto. Não é conveniência, é convicção", afirmou o parlamentar.
"Bolsonaro ... temos hoje uma eleição com dois atores que, sem dúvida, o único candidato que pode manter o Brasil avançando é o Bolsonaro. Já tivemos uma história do PT e do Lula que fala por si só sobre o desarranjo que foi para o país", complementou Da Vitória, que é cabo da reserva da Polícia Militar do Espírito Santo.
Aliás, ele não é o único no meio militar a pensar assim. Além de Da Vitória e Ramalho, o major Rezende, que já atuou na Casa Militar do governo estadual, usa o status do WhatsApp para dizer que "agora é o Casão 40 e o Capitão 22",
Até o filho do governador Casagrande entrou na onda e enviou uma figurinha "CasaNaro", com as fotos de Casagrande e Bolsonaro, como mostrou o colunista Leonel Ximenes.
SEM INCENTIVO, SEM CENSURA
O coordenador da campanha de Casagrande, Victor de Angelo, diz que não há incentivo e tampouco censura aos que se manifestam dessa forma.
"Isso, de certa forma, aparecia no primeiro turno quando, falo aqui dos candidatos a deputado, pediam votos para si nas suas próprias campanhas.
Tendo sido derrotados ou saído vitoriosos, eles agora se voltam para a campanha do Casagrande. Não vejo com estranheza", avaliou De Angelo.
"O governador tem votos entre os que votaram no presidente Bolsonaro. Não há que se incentivar nem censurar", complementou.
O coordenador não revela em quem pretende votar para a Presidência da República. "Meu papel é de colaboração com Casagrande", ressaltou. De Angelo é também secretário estadual de Educação.
OS NÚMEROS
Se dependesse apenas dos eleitores do Espírito Santo, Bolsonaro teria vencido a corrida eleitoral já no primeiro turno. Ele recebeu, aqui, 52% dos votos válidos, contra 40,40% de Lula.
Casagrande passou ao primeiro turno na frente de Manato, com 46,94%. O candidato do PL local teve 38,48%.
É de se supor que, entre os eleitores, vários tenham optado por Casagrande e Bolsonaro ao mesmo tempo.
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