O ex-secretário da Fazenda da Prefeitura de Vitória Aridelmo Teixeira – na gestão de Lorenzo Pazolini (Republicanos) – disputou o governo do Espírito Santo em 2018 pelo PTB e, em 2022, pelo Novo.
Desta vez, recebeu 15.786 votos (0,76%). No segundo turno, rapidamente declarou apoio ao ex-deputado federal Manato (PL), que ficou em segundo lugar na corrida, com 38,48% dos votos. O adversário do candidato do PL é o governador Renato Casagrande (PSB).
Aridelmo, no governo Paulo Hartung (então filiado ao MDB), atuou no projeto Escola Viva e quase foi secretário de Educação. Não concretizou o intento somente porque o titular à época, Haroldo Rocha, desistiu de deixar o cargo.
Agora, o ex-candidato do Novo não somente endossa Manato, como afirmou à coluna, nesta segunda-feira (10), que recebeu do ex-deputado o convite para ser o secretário da Fazenda. E aceitou.
Manato confirmou que fez o convite. E revelou que, em março, chegou a chamá-lo para ser vice na chapa, pelo PTB. Mas, na ocasião, Aridelmo preferiu partir para o projeto do Novo.
Nas redes sociais, o candidato até endossou o apelido de "AriGuedes", numa menção ao ministro da Economia do governo Bolsonaro, Paulo Guedes.
"Eu dei carta branca para ele (Aridelmo) ser meu secretário da Fazenda, para montar a equipe sem indicação política", pontuou Manato, à coluna.
Pode parecer que o candidato está sentando na cadeira antes da hora. O anúncio, entretanto, certamente tem o objetivo de suavizar a imagem do ex-deputado, que está sob fogo cerrado da campanha adversária.
O fato de ter sido associado à Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio, por exemplo, veio à tona. Manato já negou ter participado de qualquer atividade relacionada ao crime organizado. "Essa narrativa de Le Cocq dói", reafirmou.
Na campanha, ainda no primeiro turno, ele disse que, se eleito, escolheria nomes técnicos para compor a equipe.
Aridelmo é economista e dono da Fucape, uma instituição de ensino superior. Foi o candidato mais rico nas eleições deste ano no Espírito Santo, com um patrimônio declarado de R$ 29 milhões.
E já tem planos como futuro secretário da Fazenda, que somente vão se concretizar, claro, se Manato for eleito.
REAJUSTE PARA SERVIDORES
O economista avalia ser possível conceder reajustes ao funcionalismo público, mas não de forma linear. Ou seja, não para todo mundo, não o mesmo percentual. Nem mesmo garantiu a recomposição de perdas inflacionárias.
"Alguns vão ter mais (que a inflação) outros até menos. Tem uns que já ganharam reajuste nos últimos tempos acima da inflação", afirmou.
Um dos compromissos de campanha de Manato é aumentar os salários dos policiais. Ele nunca cravou um percentual, cabe frisar.
Aridelmo diz ainda que reajustes devem ser concedidos de acordo com o resultado apresentado pelos funcionários públicos.
"Na Prefeitura de Vitória, professor que não falta recebe 14º salário. Se a escola vai melhor no Ideb, recebe o 15º", exemplificou.
Para aceitar o convite de Manato, ele afirmou que foi preciso ajustar alguns pontos, como a garantia da manutenção do equilíbrio fiscal – o estado, com Casagrande, tem nota A do Tesouro Nacional – e a redução da carga tributária, quer que seja a menor do Brasil.
Apesar da queda de receita que isso provocaria, Aridelmo disse que um eventual governo Manato também aumentaria o investimento na área social e o número de escolas em tempo integral, a exemplo do programa Escola Viva.
Questionado sobre como isso seria possível, matematicamente falando, ele respondeu que "com austeridade no gasto" e cortando o número de servidores comissionados.
Historicamente, esse tipo de redução não produz tanta economia assim. É mais um discurso político.
Aridelmo pondera que a medida aumentaria a eficiência da máquina pública, aliada à redução da burocracia, o que atrairia novos negócios para o estado.
PAULO HARTUNG
Chama a atenção o fato de um aliado de Hartung ter pulado de cabeça em um palanque bolsonarista. Manato é o candidato apoiado pelo presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), e repete, em linhas gerais, o discurso dele.
Hartung é um crítico da gestão Bolsonaro.
O ex-governador assinou, por exemplo, a carta em defesa da democracia elaborada pela USP, que foi vista por bolsonaristas como um petardo contra o presidente, embora a missiva não o cite.
"Ao invés de uma festa cívica, estamos passando por momento de imenso perigo para a normalidade democrática, risco às instituições da República e insinuações de desacato ao resultado das eleições.
Ataques infundados e desacompanhados de provas questionam a lisura do processo eleitoral e o estado democrático de direito tão duramente conquistado pela sociedade brasileira. São intoleráveis as ameaças aos demais poderes e setores da sociedade civil e a incitação à violência e à ruptura da ordem constitucional", diz o texto da carta endossada por Hartung.
Aridelmo, no primeiro turno, perfilou-se ao lado do candidato do Novo à presidência, Felipe D´Avila. No segundo, está com o presidente da República.
"Não sou um apoiador do Bolsonaro. A opção Bolsonaro é muito mais positiva para o país que a alternativa B (Lula), que é um retrocesso", afirmou o ex-secretário de Pazolini à coluna.
Em 2018, Aridelmo declarou apoio a Bolsonaro já no primeiro turno.
Ele também diz se identificar com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Ele é liberal, eu também sou. Eu e Manato fomos a Brasília semana passada e estivemos com Paulo Guedes para falar sobre resolução de gargalos do Espírito Santo, como a BR 262", comentou.
Aridelmo, ao contrário de Hartung, não vê risco à democracia por parte de Bolsonaro e minimiza as afirmações do presidente ao dizer que elas não se refletem em ações.
Ele apontou que Lula, ao querer cercear a imprensa, é que representa ameaça. O plano do governo do petista é bem sucinto, tem 21 páginas. Nele, não consta proposta de regulação da mídia.
"Atuaremos para que o Brasil volte a ser considerado um país no qual o livre exercício da atividade profissional do jornalismo seja considerado seguro, onde a violência contra jornalistas, meios de comunicação, comunicadores e todos os profissionais de imprensa sejam coibidas e punidas", diz o texto.
Na prática, jornalistas já foram hostilizados por militantes petistas, embora não com a intensidade e a virulência que se vê agora por parte dos bolsonaristas.
Em discursos, Lula defende a regulação da mídia, principalmente quando se dirige à sua base ideológica.
Bolsonaro segue um roteiro traçado em outros países, como a Hungria, em que governos autocratas se impuseram não por força de golpes militares, mas ao minar as instituições democráticas "por dentro".
O presidente dominou a Procuradoria-Geral da República, por exemplo, ao nomear um aliado fiel para o cargo, em vez de um dos escolhidos em lista tríplice pelos membros do Ministério Público Federal.
E agora aliados dele já falam em mudar a configuração do Supremo Tribunal Federal, dando poder ao presidente para nomear mais ministro aliados a ele. Assim, a Corte não teria mais força para se opor ao Executivo.
O Legislativo está domado por meio do Orçamento Secreto, em que parlamentares indicam emendas milionárias sem transparência e, vez por outra, com indícios de fraude na execução do gasto.
Em relação à imprensa, o presidente xinga e incita a violência contra jornalistas.
Cabe ressaltar que, isso, Manato, pessoalmente, nunca fez.
Voltando a Paulo Hartung, Aridelmo diz que o ex-governador é um amigo e que, sempre que possível, o ouve. Mas admitiu eles divergem em algumas coisas, como em relação ao governo Bolsonaro.
Questionado se consultou o aliado sobre apoiar Manato, o integrante do Novo respondeu, referindo-se a si mesmo em terceira pessoa:
"A forma de agir politicamente do Aridelmo é bastante independente. Aridelmo tem projeto de Estado, não projeto pessoal".
"SEM RISCO"
Se não vê risco em Bolsonaro, Aridelmo tampouco vê traços antidemocráticos em Manato.
"Tenho convivido com ele essa última semana e não vi um movimento dele que não fosse debater, discutir ideias. Não vi nenhuma ação autoritária que pudesse indicar que tem essência ditatorial", garantiu Aridelmo.
Ele também considera risível que algum governador, seja Manato ou Casagrande, possa atentar contra a democracia.
A coluna perguntou sobre a Le Cocq, que tem sido o principal flanco explorado pela campanha adversária.
Aridelmo disse que desconhecia a história do esquadrão da morte, famoso no Espírito Santo na década de 1900 e início da de 2000.
"Fui investigar. Conversei com uma pessoa que fez a legislação para acabar com a Le Cocq. Ele disse que 95% das pessoas da Le Cocq eram pessoas de bem, que doavam cestas básicas. O médico dava consulta de graça, o professor dava aulas ... Tinha desembargador, empresário, e quando você assumia o compromisso de doar você ganhava uma ficha", narrou.
"Não é só porque (Manato) tinha carterinha que pode se associado ao crime organizado", complementou.
A Le Cocq surgiu no Rio de Janeiro e chegou ao Espírito Santo em 1984. Um dos lemas do grupo era "bandido bom é bandido morto". Inicialmente, atuou contra supostos "delinquentes".
Pessoas ligadas à Le Cocq foram acusadas de assassinato, tráfico de drogas, roubo de carros, jogo do bicho e sonegação de impostos. Agentes políticos, como um ex-prefeito, e uma jornalista foram mortos.
O símbolo da entidade, que tinha CNPJ e tudo, era uma caveira de olhos vermelhos, duas tíbias e as letras E. M., Esquadrão da Morte.
A participação de autoridades garantia a impunidade em relação aos crimes cometidos.
"A instituição acabou porque tinha pessoas de má índole. Nunca participei de nada, não tenho arma, nunca dei um tiro", rebateu Manato, em entrevista para A Gazeta.
"Isso só aparece em época de eleição. Tive certeza que ele não teve participação (em crimes). Dizer o contrário é fake news", reforçou Aridelmo.
"ENTREI LIMPO E SAÍ LIMPO"
"Essa narrativa de Le Cocq dói. Eu entrei limpo e saí limpo, não frequentei a banda podre. Eu fiz filantropia. Quer botar que eu sou criminoso? Não fecha. Não tenho processo contra mim. Eu falei que fui (associado), não menti. Eles ficam mentindo. Eu não era diretor da Le Cocq, eu não era nada. E essa instituição acabou", afirmou à coluna nesta segunda.
"Dois prefeitos vieram comigo (o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon e o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos). Se eu tivesse participado de crime organizado eles teriam vindo?", questionou.
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