Não teve fanfarronice, não teve apelido "engraçadinho". No debate entre candidatos à Prefeitura de Vitória realizado pela TV Gazeta na noite desta quinta-feira (3), os adversários de Lorenzo Pazolini (Republicanos) decidiram reprisar as críticas feitas ao prefeito durante a campanha. "Não acredite no clima de já ganhou", pediu Camila Valadão (PSOL) aos eleitores, no começo e no final do embate. Nada está garantido, mas Pazolini lidera a corrida eleitoral, com chances reais de vencer já no primeiro turno.
Quem assitiu às duas horas e quarenta minutos do confronto verbal desta quinta deve ter ficado com a sensação de déjà-vu. O próprio prefeito teve mais facilidade para responder as perguntas dos concorrentes, pois elas já haviam sido feitas pouco tempo atrás, em outras ocasiões. Nenhum candidato guardou "uma bomba" (metaforicamente falando) para soltar no dia do debate realizado dois dias antes da votação no primeiro turno.
Apesar das críticas constantes, o clima não esquentou realmente. O debate foi um tanto morno, pela falta de um fato novo ou de uma retórica mais persuasiva por parte de todos os candidatos.
Mais uma vez, o asfaltamento de ruas por parte da atual gestão foi um dos principais alvos. O tema sempre esteve presente, principalmente, no discurso de João Coser (PT), mas Assumção (PL) fez coro e disparou contra o "asfalto feito no desespero para ganhar voto".
Embora ideologicamente desalinhados, Assumção, Camila e Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) escolheram a mesma palavra, "abandono", para se referir ao que consideram falhas da prefeitura em diversas áreas, como políticas para a juventude, saúde pública e a situação do Centro.
Pazolini rebateu as críticas elencando feitos da gestão. Em determinado momento, após o petista levantar suspeitas sobre contratações feitas pela administração municipal, o prefeito decidiu contra-atacar e mencionou processos e contestações públicas feitas à gestão de Coser, que foi prefeito de Vitória por dois mandatos (2005-2012).
O republicano, sem citar o nome do adversário, falou en passant sobre quiosques e desapropriações. O ex-prefeito, por sua vez, ressaltou não ter nenhuma condenação judicial.
Houve algumas propostas também, a maioria já conhecida por quem acompanhou a corrida eleitoral até aqui. É válido, sim, repassar as mensagens, considerando que tem gente que começa a prestar atenção na eleição somente faltando poucos dias para ir às urnas mesmo. Sem contar os cobiçados eleitores indecisos.
Noves fora zero, porém, não houve momentos de impacto suficientemente fortes para alterar de forma substancial o cenário mostrado pelas pesquisas de intenção de voto.
Cortes de vídeos no Instagram podem dar outra impressão, mas como quase tudo foi uma repetição de coisas já mostradas, mesmo fragmentos descontexualizados não devem ter tanta relevância.
"Ah, então quer dizer que Pazolini vai ganhar no primeiro turno?". Não foi isso que eu escrevi.
O prefeito está à frente nas pesquisas, mas passa "raspando", considerando a margem de erro. Então, ele continua com chances de ser declarado vencedor já no domingo (6), mas de forma alguma pode cantar vitória antes da hora.
ASSUMÇÃO E CASAGRANDE
O candidato do PL, autor de inúmeras provocações e alcunhas destinadas a Pazolini no debate realizado por A Gazeta e CBN Vitória, no dia 20 de setembro, desta vez foi comedido nos adjetivos e substantivos originais.
Repisou denúncias do que considera suspeitas de corrupção na prefeitura, o que foi rebatido pelo candidato à reeleição por falta de provas. Assumção, que é capitão da reserva da PM, ao falar sobre segurança pública, acusou Pazolini de se esconder no gabinete, embaixo da mesa ou da cadeira. Repetiu isso várias vezes durante o debate, sem adesão dos demais candidatos.
Algo curioso aconteceu quando o deputado estadual, que faz oposição a Renato Casagrande (PSB), afirmou que o prefeito "virou as costas para o governador".
O posicionamento de Assumção não chega a ser uma surpresa. Já na convenção municipal do PL, ele havia dito que, se eleito prefeito, teria uma relação institucional com o Palácio Anchieta para não prejudicar a população.
PARECE, MAS NÃO É
A candidata do PSOL criticou a atual gestão em todas as oportunidades, em perguntas, respostas, réplicas e tréplicas. Citou números e cifras, assim como Pazolini.
Uma briga a respeito de dados, percentuais e metodologias para medi-los tomou conta de vários blocos do debate, ao ponto de Luiz Paulo afirmar que o prefeito "tortura números até que falem o que ele quer". O prefeito acusou os adversários, diversas vezes, de "faltar com a verdade".
O tucano resolveu resgatar o slogan de um comercial de xampu da década de 1980: "Denorex, parece, mas não é". O problema é que boa parte dos eleitores não deve lembrar dessa propaganda. Eu mesma tive que pesquisar no Google o significado da frase.
1 X 0
No intervalo entre o penúltimo e o último blocos do debate, a assessoria de Luiz Paulo o informou sobre o resultado do jogo entre Fluminense e Cruzeiro. O tricolor venceu o time mineiro por 1 a 0. O tucano comemorou.
ACELERA
O principal mote da campanha de Du (Avante) é o bordão "acelera", acompanhado do gesto de girar o punho, para simular o acelerador de uma moto. Na hora de falar, entretanto, Du é bem devagar. Ele faz longas pausas entre uma palavra e outra, o que resulta em pouca coisa dita, no final das contas.
O candidato do Avante foi o que menos criticou Pazolini durante o debate e, talvez justamente por isso, foi o preferido quando o prefeito tinha que escolher alguém para responder perguntas.
Du voltou a defender propostas inusitadas, como transformar o Cais das Artes num hospital, "com espaço kids", frisou.
E a panaceia de todas as eleições apareceu. Du calculou que, com o valor arrecadado pela Prefeitura de Vitória em seis dias, é possível construir um teleférico na Capital.
BOM COMPORTAMENTO
O mediador do debate, Mario Bonella, não teve que puxar a orelha de nenhum candidato por descumprimento às regras do debate. Cada um deles teve direito a manter, no estúdio, uma pessoa da qual poderia receber orientações durante os intervalos. Todos comportaram-se bem.
Candidatos à Prefeitura de Vitória durante debate da TV Gazeta
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