O debate entre os candidatos que disputam a Prefeitura da Serra no segundo turno, o ex-secretário estadual de Turismo Weverson Meireles (PDT) e o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos), nesta segunda-feira (21), foi marcado por provocações. A seis dias da eleição, Muribeca redobrou o esforço na tentativa de superar o candidato do PDT, que foi o mais votado na primeira etapa do pleito.
Em menos de um minuto de debate, o republicano já pôs a mão no ombro do pedetista — descumpriu, assim, uma regra e foi advertido — e fez uma investida: "Fica com medo, não, fica aqui pertinho".
Ao contrário do embate realizado por A Gazeta e CBN Vitória no primeiro turno, desta vez os candidatos podiam sair do púlpito e caminhar pelo tablado.
Muribeca ficou bem próximo mesmo de Weverson durante quase todo o tempo, encarando ou rindo. Ex-jogador de futebol, parecia tentar fazer com que o adversário perdesse a compostura e fizesse uma "falta".
O candidato do PDT, inicialmente, contra-atacou de forma mais contida. Por 13 vezes, afirmou que Muribeca "não tem equilíbrio emocional".
Weverson, depois, também ficou "pertinho" do republicano por iniciativa própria. Em dado momento, os dois praticamente imitaram lutadores de boxe na pesagem feita um dia antes da luta.
Felizmente, socos não foram desferidos.
Muitas perguntas ficaram sem resposta, tanto a respeito de propostas como as que eram, na verdade, acusações. Houve momentos de déjà vu, com a repetição dos mesmos questionamentos.
Muribeca afirmou que Weverson mora em Vitória. O pedetista negou e ressaltou que o prefeito da Capital, Lorenzo Pazolini (Republicanos), apoia Muribeca, mas que essa aliança não tem como trazer benefícios para a Serra. O deputado estadual, inadvertidamente, ainda levantou bolas para o adversário cortar, como ao citar que é aliado do governador ... de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
O debate ainda contou com um inusitado "momento quiz" em que os candidatos disputaram quem conhece melhor os bairros serranos.
Poucas propostas surgiram. É natural que o candidato que saiu na frente na corrida, Weverson, seja mais atacado pelo desafiante do que o contrário. O pedetista tem como principal apoiador o atual prefeito da Serra, Sérgio Vidigal (PDT), o que o torna ainda mais potencialmente alvo de críticas, afinal, quem faz oposição questiona a administração.
"Parece que não tem problema na cidade, que a cidade está perfeita", ironizou Muribeca. "Aí vem um (candidato) montado, para falar assim ou assim, mas não é verdade", afirmou Muribeca, alfinetando Weverson.
"O senhor vai se escorar no prefeito até quando?", questionou. O republicano voltou a frisar que Weverson representa a continuidade de um grupo político no poder, o de Vidigal.
O ex-secretário de Turismo, por sua vez, apresentou-se, de novo, como "renovação com responsabilidade".
Muribeca, em diversos momentos, pareceu meio perdido quando o assunto eram serviços e políticas públicas municipais. Prometeu, se eleito, construir quatro creches por ano, só não soube dizer quanto isso custaria e de onde sairiam os recursos necessários para tal. Também não se saiu bem diante do fato de que, no programa de governo dele, não há nenhuma menção ao combate à violência contra mulheres.
O candidato do Republicanos foi mais afiado nos ataques ao adversário do que na defesa ou apresentação das próprias propostas.
A tática de Weverson foi não se exaltar, para tachar o outro como "desequilibrado". Foi econômico nas palavras ao responder a críticas, certamente para tentar abafar esses temas.
Mas, ainda que com um tom de voz mais ameno, o pedetista também fez provocações, como ao sorrir sugerindo deboche, e chamou Muribeca de "campeão das fake news".
SERRIQUISTÃO
Como já pontuei em colunas anteriores, a eleição na Serra ganhou contornos diferentes no segundo turno em comparação com o primeiro.
A campanha de Muribeca, reforçada nos bastidores por integrantes do PL, passou a priorizar o discurso conservador, com menções, por exemplo, ao fato de o PT ter orientado voto em Weverson, e à existência de breves menções a "LGBTI+" no plano de governo do candidato do PDT.
Os pedetistas reagiram repudiando o Partido dos Trabalhadores publicamente, para evitar serem contaminados pelo antipetismo.
No debate, Weverson reafirmou, após a pergunta feita por mim, que PDT e PT, na Serra, não estão no mesmo palanque desde 2012 e que o rechaço aos petistas deu-se "para continuar dialogando com melhor e maior apoio, o da população".
"O PT nacional também tem na base de apoio o Republicanos, que é o partido do meu adversário", lembrou o candidato do PDT.
O Divulgacand, site oficial da Justiça Eleitoral, agora registra dois planos de governo de Weverson. Na segunda versão, não há mais nenhuma menção à comunidade LGBTQIAP+.
E o pedetista assinou uma carta compromentendo-se a não apoiar "nenhuma pauta que seja contra a palavra de Deus".
Em relação aos LGBTQIAP+, Weverson disse não ser favorável a "ideologia de gênero nas escolas". Muribeca, por sua vez, adotou um discurso virulento contra a comunidade e disse que, se eleito prefeito, não vai investir em políticas públicas para esse segmento da sociedade. Ainda citou um versículo bíblico.
Essa parte do debate foi meio um "Serriquistão", como se os candidatos disputassem não o cargo de prefeito e sim o de aiatolá.
LEIA MAIS COLUNAS DE LETÍCIA GONÇALVES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.