O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos lançou-se ao governo do Espírito Santo, inicialmente, apenas com o apoio do próprio partido, a Rede. Depois, a legenda aprovou uma federação com o PSOL, em todo o país.
No estado, foi uma espécie de casamento na delegacia, visto que Audifax se diz de esquerda, direita e centro ao mesmo tempo, distante ideologicamente dos militantes do PSOL.
Este, por sua vez, acabou fornecendo, automaticamente, algo que o ex-prefeito precisava: tempo de propaganda de TV e rádio. Se ficasse apenas com a Rede, Audifax praticamente não iria aparecer. Mas voto para o pré-candidato ao Palácio Anchieta o PSOL não vai pedir, como afirma o presidente estadual do partido, Toni Cabano.
Audifax foi além. Ele já tem aliança apalavrada com Solidariedade, Avante e Pros, além do PSOL. Assim, conta com pouco mais de um minuto de tempo de propaganda.
Para amarrar Avante e Pros à própria pré-campanha, o ex-prefeito foi astuto. Não negociou com os dirigentes locais desses partidos.
O Avante já esteve na base aliada ao governador Renato Casagrande (PSB), depois, procurando alguém que endossasse o nome de Nelson Junior ao Senado, passou a flertar com a oposição, em especial com o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), e com o deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil). Os dois também estão na disputa pelo governo.
Já o Pros é presidido no estado por um aliado do governador, o prefeito de Ibatiba, Luciano Salgado, também conhecido como Luciano Pingo. Ele, inclusive, saiu do Republicanos por discordar do lançamento de Erick, quis assegurar sua fidelidade a Casagrande.
O presidente estadual do Avante, Marcel Carone, que até pouco tempo tinha um cargo comissionado na gestão estadual, foi surpreendido pelo anúncio, por parte da Rede: o Avante, em acordo feito diretamente com o presidente nacional do partido, Luis Tibé, está no palanque de Audifax.
Isso deixa o pastor Nelson Junior meio perdido. Conservador, criador da campanha "Eu escolhi esperar", que basicamente prega a abstinência sexual antes do casamento, ele não combinaria com uma aliança integrada pelo PSOL.
Além disso, o PSOL garante que vai ter o auditor fiscal aposentado da Receita Estadual Gilbertinho Campos como candidato ao Senado. Ou seja, na chapa de Audifax. Aliados do ex-prefeito duvidam.
Porta-voz estadual da Rede, Laís Garcia disse que Nelson Junior pode ser o nome do grupo ao Senado, basta querer, mas "fica à vontade". Ou seja, pode até se lançar apenas com o Avante, a legislação permite isso, mas o partido não poderia formar outra coligação e aí o pastor é que ficaria sem tempo no horário eleitoral.
A aliança entre Rede e Avante foi anunciada no dia 5 de julho. De lá pra cá, não houve nenhuma conversa entre os dirigentes locais dos dois partidos.
O estrategista do Avante Aldeci Carvalho afirmou que pretende dialogar com Audifax, conforme acertado com a direção nacional do partido. Em conversa anterior com o ex-prefeito ficou acordado, segundo o estrategista, que o Avante procuraria o melhor palanque para Nelson Junior e trataria também com outros atores políticos.
Logo depois da aliança ser divulgada pela Rede, Carvalho chegou a duvidar que o ex-prefeito da Serra soubesse da parceria, como se o anúncio, por nota enviada pelos redistas, fosse um equívoco, um ruído de comunicação. Mas Audifax sabia.
Um aliado do ex-prefeito diz que já está tudo certo e que Luis Tibé, o presidente nacional, não volta atrás na palavra dada.
Em relação ao Pros, Luciano Pingo não retornou aos contatos da coluna. Os redistas não esperam que ele peça votos para Audifax e está tudo bem. Não deve conseguir se livrar da coligação mesmo assim.
Avante e Pros têm até pré-candidatos à Presidência da República: o deputado federal André Janones e o coach Pablo Marçal, respectivamente.
Mas são partidos de pequeno porte. Os maiores ou lançaram seus próprios pré-candidatos ao governo ou estão com Casagrande.
Então Audifax contou com o que poderia alcançar. De um partido, saltou para cinco. De zero tempo de TV, passou para mais de um minuto.
Agiu estrategicamente. Mas ainda tem desafios a superar. É mais conhecido na Grande Vitória que no interior do estado. Além disso, a Serra, seu reduto eleitoral, hoje é comandada por um adversário, Sérgio Vidigal (PDT), que é aliado de Casagrande.
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