O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede), candidato ao governo do Espírito Santo, escalou uma militar do Corpo de Bombeiros como vice na chapa e um pastor evangélico para apoiar ao Senado.
A Tenente Andresa (Solidariedade) e o pastor Nelson Junior (Avante) foram apresentados neste sábado (13), em entrevista coletiva.
Audifax, durante toda a pré-campanha, esquivou-se de dizer em quem pretende votar para presidente da República e, mais uma vez, não declarou apoio a nenhum dos postulantes ao Palácio do Planalto.
"Não vou nacionalizar a eleição para o governo do estado (...) Quem vai ter a caneta para governar o estado e definir prioridades não é Lula nem Bolsonaro".
"Fui prefeito com Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro. E consegui com os quatro muita coisa boa para a minha cidade", exemplificou.
"O governo desse estado tem que ser menos ideológico e mais gestor", complementou o redista.
A apresentação dos nomes da vice e do candidato ao Senado apoiado por ele, no entanto, dão uma sinalização ideológica clara. Pode não ser com fins de governar com base nesses preceitos, mas na campanha eleitoral deve ajudar.
Vejamos:
Audifax é mais conhecido na Grande Vitória e precisa ganhar terreno no interior do Espírito Santo, como ele mesmo admitiu em outras ocasiões.
O presidente estadual do PCdoB, Neto Barros, fez um diagnóstico durante a convenção de PT, PCdoB e PV: o estado virou um ninho do bolsonarismo, principalmente, no interior.
A Tenente Andresa apresentou-se como cristã e conservadora, além de ser militar. Justamente o perfil que agrada aos eleitores do presidente da República.
O pastor Nelson Junior, criador do movimento Eu Escolhi Esperar – que, em linhas gerais, prega a abstinência sexual até o casamento – é também um cristão conservador.
Os dois, quando questionados, também não disseram quem apoiam na disputa pelo Palácio do Planalto, seguindo o discurso de Audifax de não nacionalizar o pleito.
A Rede está federada com o Psol, são partidos de esquerda, que apoiam o ex-presidente Lula (PT), embora tenham dado liberdade para os filiados se posicionarem de forma diferente.
O projeto de Brasil que defendem, certamente, diverge da pauta conservadora levantada por Nelson Junior e Andresa.
Mas o pastor não vê problemas na aliança heterogênea. Ele lembra que, no país, é quase impossível fugir a essas incongruências. Lembrou, por exemplo, que o PP está coligado com Bolsonaro e, no Espírito Santo, com o governador Renato Casagrande, do PSB.
Já o Republicanos, partido que se diz "o verdadeiro conservador", no estado está coligado com o União Brasil do deputado federal Felipe Rigoni. Este, frisou Nelson Junior, é liberal nos costumes.
"Quando se fala em conservador, vem à mente imposição e truculência (...) Nelson é um conservador equilibrado, respeita o contraditório", afirmou o presidente estadual do Avante, Marcel Carone.
"Trabalho com restauração de casamentos há 25 anos. O sucesso do casamento não está em concordar, está em respeitar as diferenças", complementou o candidato ao Senado.
Audifax já se disse "de esquerda, de direita e de centro".
NOVE SEGUNDOS
Psol e Rede somente estão juntos no Espírito Santo porque a federação é nacional, mas os dois partidos não são próximos por aqui.
O Psol, na verdade, nem apoia Audifax para o governo. E tem seu próprio candidato ao Senado, o auditor fiscal aposentado Geraldo Campos.
Ele é, assim, o candidato do partido de Audifax também, da federação. As siglas são como uma só pelos próximos quatro anos.
Nelson Junior somente pode ser lançado de forma avulsa. O Avante vai sozinho para a briga, não pode formar uma coligação para o Senado.
Vai estar coligado, no entanto, na chapa de Audifax. O ex-prefeito conta com Rede/Psol, Solidariedade e Avante.
Nelson Junior, isolado, vai ter nove segundos no horário eleitoral gratuito.
Mas aposta em gastar sola de sapato ao lado de Audifax e na popularidade nas redes sociais para dialogar com os eleitores.
Com respaldo de sua consultoria jurídica, o ex-prefeito diz que vai fazer material de campanha casado com o pastor. Isso quer dizer que, em santinhos, por exemplo, vai ser possível ver fotos dos dois juntos.
JUVENTUDE E SEGURANÇA
Além do perfil conservador, que pode ajudar a conquistar os eleitores do interior, mais inclinados ao bolsonarismo, a dupla escolhida por Audifax dá um equilíbrio etário à chapa.
O ex-prefeito tem 58 anos; Nelson Junior, 46 e Andresa, 35.
"Você (dirigindo-se a Andresa) está trazendo a questão da mulher, da juventude e da segurança", elencou Audifax, ao falar dos motivos para a parceria com a tenente do Corpo de Bombeiros.
"A prioridade vai ser a segurança pública. A gente traz alguém do Corpo de Bombeiros, da segurança pública, treinada para cuidar da vida. O atual governo fala, mas não fez", disparou o ex-prefeito.
"Meu compromisso é com a vida. Convoco as mulheres para juntarmos forças", afirmou Andresa, lembrando dos casos de feminicídio e violência doméstica tão frequentes no estado.
"O Nelson significa renovação, é um cristão, escritor, preparado, tem compromisso com a vida", emendou Audifax.
VIDA
Em 2016, Audifax foi reeleito prefeito da Serra, apesar de ter passado boa parte da campanha hospitalizado, com pneumonia.
Quando teve alta, saiu pela cidade, sobre um carro de som, gritando: "Tô vivo!"
Fez isso diversas vezes.
Agora, a palavra de ordem é "vida", mencionada diversas vezes na entrevista coletiva.
O nome da coligação deve ser "Trabalho pela Vida" ou "Compromisso com a Vida".
"O importante é que é com a vida", destacou Nelson Junior.
AS LACUNAS
O prazo para solicitação de registros de candidatura à Justiça Eleitoral termina na próxima segunda-feira (15). O anúncio de Audifax, portanto, ocorreu na reta final.
As únicas lacunas a serem preenchidas estão no palanque do ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD), que ainda não apontou quem vai ser o vice e se vai apoiar alguém para o Senado.
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