O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) qualquer dia desses vai pedir a patente da palavra "gestor". É o termo que ele mais usa durante a campanha, em qualquer oportunidade que tenha de se dirigir aos eleitores. E não foi diferente na entrevista que concedeu à Rádio CBN Vitória e a A Gazeta nesta quinta-feira (22).
A estratégia do ex-prefeito é criticar incessantemente o atual governador, Renato Casagrande (PSB), que lidera as pesquisas de intenção de voto. Para ele, o socialista "não é gestor".
Com cerca de um minuto no horário eleitoral na TV, ele aproveitou uma hora de entrevista ao vivo para martelar essa ideia e a análise de que o governo estadual tem muito dinheiro, até sobrando, mas falta ... advinhem? "Um gestor".
O candidato da Rede sustenta que há R$ 6 bilhões no caixa do Tesouro Estadual, parados, enquanto pessoas passam fome. Como outros candidatos já citaram números diferentes, a reportagem de A Gazeta foi destrinchar a história.
É o seguinte: de acordo com a Secretaria Estadual da Fazenda, a disponibilidade do caixa no final de 2021 era de R$ 5,9 bilhões.
Mas R$ 3,6 bilhões são recursos já vinculados, não podem ser gastos de qualquer forma, devem ser destinados obrigatoriamente, por exemplo, às áreas de educação e saúde.
Restam, assim, R$ 2,2 bilhões em recursos não carimbados em disponibilidade de caixa. Há outros R$ 2,2 bilhões resultado de superávit, ou seja, a diferença entre o que o governo arrecadou e o que gastou.
Parte desse dinheiro já foi gasto, para arcar com o rombo de R$ 1 bilhão provocado pela redução das alíquotas de ICMS sobre combustíveis e outras fontes.
Casagrande já disse, em entrevista à TV Gazeta, que adversários querem "raspar o cofre" estadual e que é importante ter uma reserva para imprevistos, como a compensação pelo rombo do ICMS e a compra de vacinas contra Covid-19.
Lembrado disso, Audifax aproveitou para contra-atacar: "Quem quer raspar o cofre é o secretariado dele". O ex-prefeito afirmou que "há corrupção nesse governo".
Para além dos R$ 6 bilhões, Audifax apontou que o orçamento da saúde estadual tem diminuído e o de segurança pública não foi executado na totalidade.
A principal arma do candidato, portanto, são os números, que ele tenta traduzir para o eleitorado. Também usa o argumento da autoridade: "Sou gestor, economista, não sou melhor do que ninguém, mas sei fazer ..."
Usou, claro, o exemplo da Serra, cidade que comandou por 12 anos não consecutivos.
Foi incisivo quanto ao fato de a pandemia de Covid não servir como justificativa para o que considera incompetência do governo estadual ao manejar as finanças públicas.
O governo Casagrande obteve, novamente, a nota A do Tesouro, um indicativo de boa gestão fiscal, o que Audifax prometeu manter.
Apesar disso, baseado na tese de que há dinheiro para caramba, apontou que adotaria uma série de medidas que levariam a aumento de gastos, como concursos para contornar o déficit de policiais militares e civis; para contratar professores e ainda na área da saúde.
E traçou uma meta ousada: reduzir, em quatro anos de mandato, os homicídios no Espírito Santo em 70%.
É curioso que Guerino Zanon (PSD), outro candidato ao Palácio Anchieta, aponta que Casagrande "guardou dinheiro" para gastar em ano eleitoral.
Audifax, por sua vez, diz que o socialista não vai nem conseguir gastar porque falta ... "gestão".
O candidato da Rede aposta, por exemplo, que no final do ano o governo estadual vai pagar um abono polpudo aos servidores da educação, apenas para conseguir aplicar o mínimo exigido na área.
LULA OU BOLSONARO
Pela enésima vez, Audifax recusou-se a dizer em quem pretende votar na disputa pela Presidência da República. O principal nome da Rede, a ex-senadora Marina Silva, declarou apoio ao ex-presidente Lula (PT).
Ele lembrou que não há vinculação ou imposição desse apoio aos demais integrantes da legenda e frisou que não quer nacionalizar o pleito local, para não criar animosidade com quem quer que seja o presidente eleito.
Apesar disso, como a coluna lembrou na entrevista, Audifax cercou-se de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL).
A vice na chapa do candidato ao governo, Tenente Andresa (Solidariedade), por exemplo, é uma simpatizante do atual presidente. O candidato ao Senado que Audifax endossa, Nelson Junior (Avante), também quer a reeleição do atual chefe do Executivo federal.
O ex-prefeito, entretanto, diz que a escolha dos aliados não passou por critérios ideológicos. "Estou trazendo uma pessoa da segurança pública pra dentro. É minha vice e vai me ajudar na segurança pública, que é o principal problema desse estado, trago a força da mulher para o meu governo e uma jovem", elencou.
O colunista Leonel Ximenes lembrou que, meses atrás, Audifax cogitava ter como vice o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), de perfil diverso do de Andresa. Ricardo acabou formando parceria com Casagrande.
Enquanto isso, no Instagram do candidato da Rede ao governo, o ex-senador passou a ser chamado de "aquele que ferrou com os trabalhadores na Reforma Trabalhista".
"Houve essa conversa (sobre Ricardo ser vice de Audifax, com o presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite). Eu tenho que ouvir, né. Essa conversa aconteceu, envolveu até outras lideranças do PSDB, como Max Filho e (Sérgio) Majeski. Eu tinha que conversar, mas estou muito feliz com a questão da Andresa", respondeu Audifax, tentando explicar a mudança de tom sobre Ricardo Ferraço.
A QUESTÃO DA ANDRESA
A vice na chapa de Audifax tem sido muito presente na campanha, tanto na TV e no rádio quanto nas redes sociais. É um dos pilares da estratégia do redista.
Ela aparece em um vídeo no Instagram, por exemplo, conclamando os militares a apoiarem a dupla.
E, em outra ocasião, atacou um dos adversários de Audifax, Carlos Manato (PL), que, segundo Andresa, "traiu os militares" ao não ter como vice um integrante da categoria. O vice de Manato é o empresário Bruno Lourenço (PTB).
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