Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Audifax usa números e um mantra para contrapor Casagrande

Candidato da Rede ao governo do ES, mais uma vez, não revelou em quem vai votar na disputa pela Presidência da República

Sabatina Audifax
Fernanda Queiroz, Letícia Gonçalves, Audifax Barcelos, Abdo Filho e Leonel Ximenes durante entrevista transmitida pela CBN Vitória e por A Gazeta. Crédito: Rodrigo Gavini

O ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (Rede) qualquer dia desses vai pedir a patente da palavra "gestor". É o termo que ele mais usa durante a campanha, em qualquer oportunidade que tenha de se dirigir aos eleitores. E não foi diferente na entrevista que concedeu à Rádio CBN Vitória e a A Gazeta nesta quinta-feira (22).

A estratégia do ex-prefeito é criticar incessantemente o atual governador, Renato Casagrande (PSB), que lidera as pesquisas de intenção de voto. Para ele, o socialista "não é gestor".

Com cerca de um minuto no horário eleitoral na TV, ele aproveitou uma hora de entrevista ao vivo para martelar essa ideia e a análise de que o governo estadual tem muito dinheiro, até sobrando, mas falta ... advinhem? "Um gestor".

O candidato da Rede sustenta que há R$ 6 bilhões no caixa do Tesouro Estadual, parados, enquanto pessoas passam fome. Como outros candidatos já citaram números diferentes, a reportagem de A Gazeta foi destrinchar a história.

É o seguinte: de acordo com a Secretaria Estadual da Fazenda, a disponibilidade do caixa no final de 2021 era de R$ 5,9 bilhões.

Mas R$ 3,6 bilhões são recursos já vinculados, não podem ser gastos de qualquer forma, devem ser destinados obrigatoriamente, por exemplo, às áreas de educação e saúde.

Restam, assim, R$ 2,2 bilhões em recursos não carimbados em disponibilidade de caixa. Há outros R$ 2,2 bilhões resultado de superávit, ou seja, a diferença entre o que o governo arrecadou e o que gastou.

Parte desse dinheiro já foi gasto, para arcar com o rombo de R$ 1 bilhão provocado pela redução das alíquotas de ICMS sobre combustíveis e outras fontes. 

Casagrande já disse, em entrevista à TV Gazeta, que adversários querem "raspar o cofre" estadual e que é importante ter uma reserva para imprevistos, como a compensação pelo rombo do ICMS e a compra de vacinas contra Covid-19.

Lembrado disso, Audifax aproveitou para contra-atacar: "Quem quer raspar o cofre é o secretariado dele". O ex-prefeito afirmou que "há corrupção nesse governo".

Para além dos R$ 6 bilhões, Audifax apontou que o orçamento da saúde estadual tem diminuído e o de segurança pública não foi executado na totalidade. 

A principal arma do candidato, portanto, são os números, que ele tenta traduzir para o eleitorado. Também usa o argumento da autoridade: "Sou gestor, economista, não sou melhor do que ninguém, mas sei fazer ..."

Usou, claro, o exemplo da Serra, cidade que comandou por 12 anos não consecutivos. 

Foi incisivo quanto ao fato de a pandemia de Covid não servir como justificativa para o que considera incompetência do governo estadual ao manejar as finanças públicas.

O governo Casagrande obteve, novamente, a nota A do Tesouro, um indicativo de boa gestão fiscal, o que Audifax prometeu manter.

Apesar disso, baseado na tese de que há dinheiro para caramba, apontou que adotaria uma série de medidas que levariam a aumento de gastos, como concursos para contornar o déficit de policiais militares e civis; para contratar professores e ainda na área da saúde.

E traçou uma meta ousada: reduzir, em quatro anos de mandato, os homicídios no Espírito Santo em 70%.

É curioso que Guerino Zanon (PSD), outro candidato ao Palácio Anchieta, aponta que Casagrande "guardou dinheiro" para gastar em ano eleitoral.

Audifax, por sua vez, diz que o socialista não vai nem conseguir gastar porque falta ... "gestão".

O candidato da Rede aposta, por exemplo, que no final do ano o governo estadual vai pagar um abono polpudo aos servidores da educação, apenas para conseguir aplicar o mínimo exigido na área.

LULA OU BOLSONARO

Pela enésima vez, Audifax recusou-se a dizer em quem pretende votar na disputa pela Presidência da República. O principal nome da Rede, a ex-senadora Marina Silva, declarou apoio ao ex-presidente Lula (PT).

Ele lembrou que não há vinculação ou imposição desse apoio aos demais integrantes da legenda e frisou que não quer nacionalizar o pleito local, para não criar animosidade com quem quer que seja o presidente eleito.

Apesar disso, como a coluna lembrou na entrevista, Audifax cercou-se de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL). 

A vice na chapa do candidato ao governo, Tenente Andresa (Solidariedade), por exemplo, é uma simpatizante do atual presidente. O candidato ao Senado que Audifax endossa, Nelson Junior (Avante), também quer a reeleição do atual chefe do Executivo federal.

O ex-prefeito, entretanto, diz que a escolha dos aliados não passou por critérios ideológicos. "Estou trazendo uma pessoa da segurança pública pra dentro. É minha vice e vai me ajudar na segurança pública, que é o principal problema desse estado, trago a força da mulher para o meu governo e uma jovem", elencou.

O colunista Leonel Ximenes lembrou que, meses atrás, Audifax cogitava ter como vice o ex-senador Ricardo Ferraço (PSDB), de perfil diverso do de Andresa. Ricardo acabou formando parceria com Casagrande.

Enquanto isso, no Instagram do candidato da Rede ao governo, o ex-senador passou a ser chamado de "aquele que ferrou com os trabalhadores na Reforma Trabalhista".

"Houve essa conversa (sobre Ricardo ser vice de Audifax, com o presidente estadual do PSDB, Vandinho Leite). Eu tenho que ouvir, né. Essa conversa aconteceu, envolveu até outras lideranças do PSDB, como Max Filho e (Sérgio) Majeski. Eu tinha que conversar, mas estou muito feliz com a questão da Andresa", respondeu Audifax, tentando explicar a mudança de tom sobre Ricardo Ferraço.

A QUESTÃO DA  ANDRESA

A vice na chapa de Audifax tem sido muito presente na campanha, tanto na TV e no rádio quanto nas redes sociais. É um dos pilares da estratégia do redista.

Ela aparece em um vídeo no Instagram, por exemplo, conclamando os militares a apoiarem a dupla. 

E, em outra ocasião, atacou um dos adversários de Audifax, Carlos Manato (PL), que, segundo Andresa, "traiu os militares" ao não ter como vice um integrante da categoria. O vice de Manato é o empresário Bruno Lourenço (PTB).

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