O médico Gustavo Peixoto filiou-se ao Podemos em janeiro deste ano. Teve a ficha abonada pelo ex-juiz Sergio Moro, que esteve em Vila Velha ainda na condição de pré-candidato à Presidência da República. Peixoto seria candidato a deputado federal pelo partido e escolheu a agremiação para seguir os passos do ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro.
Moro, entretanto, depois trocou o Podemos pelo União Brasil e virou candidato ao Senado no Paraná. Peixoto, mais uma vez, o seguiu. Aos quarenta e cinco do segundo tempo ingressou na nova legenda que, no Espírito Santo, é presidida pelo deputado federal Felipe Rigoni.
Àquela altura, Rigoni era pré-candidato ao governo do estado. Pouco tempo depois, Rigoni também mudou, mas não de partido e sim de cargo na disputa. Ele concorre à reeleição, assim Peixoto integra a mesma chapa que o presidente estadual do partido.
Logo quando Rigoni "desceu" para a disputa à Câmara dos Deputados a especulação já era de que isso poderia desagradar aos outros candidatos do União, que se filiaram sem saber que poderiam servir de reforço, com votos, para reeleger o deputado.
A menos de dez dias da eleição, Peixoto externou a insatisfação. Em discurso em evento de campanha na noite desta quinta-feira (22), o candidato disparou críticas pesadas contra Rigoni:
“Não serão as velhas práticas travestidas de nova política que vão me intimidar. A gente foi pra rua com cinco, seis pessoas no trio pra puxar o impeachment (da então presidente Dilma Rousseff, do PT). Então, não nos intimidarão".
"Tem gente que não cumpre nem na campanha a promessa da campanha (...) A pessoa é dona do partido, é presidente do partido, é tesoureiro, é dono do cofre e ele é candidato. Olha que conflito de interesses. Aí vem com balela de que é honesto e tem compliance", complementou Peixoto, falando à plateia. "Houve fraude".
No início da campanha, Peixoto contava apenas com R$ 250 mil que tirou do próprio bolso. O DivulgaCand, site oficial do Tribunal Superior Eleitoral para divulgação de informações sobre as candidaturas, agora registra que o candidato recebeu R$ 800 mil da direção nacional do União Brasil e outros R$ 50,8 mil do órgão estadual do partido.
Em entrevista à coluna, ele disse que o combinado com Rigoni era um repasse de R$ 1,5 milhão do fundo eleitoral, mesmo valor que o Podemos havia garantido.
"Estava combinado que já na primeira semana de campanha seriam repasados R$ 600 mil para cada um dos candidatos a deputado federal. Na primeira semana não foi depositado nada para mim. Só para quem era amigo do rei", apontou Peixoto.
"Quando o dinheiro chegou, as contas já tinham vencido. Coloquei recurso próprio, não ia deixar meu nome sujo. E tive que dispensar 100 pessoas que trabalhavam na campanha", contou.
Ele também diz que a sede estadual do União Brasil transformou-se em um comitê exclusivo de Rigoni.
A primeira queixa de Peixoto, entretanto, é o fato de Rigoni ser candidato a deputado federal: "Quando eu fui para o partido ele era candidato a governador e não ira descer para federal em hipótese alguma, ele falou isso várias vezes".
"Minha campanha começou forte, ele se sentiu ameaçado", teoriza o candidato.
JUSTIÇA ELEITORAL NO CIRCUITO
O tempo de Rigoni no horário eleitoral é bem maior que o dos outros nomes do União Brasil e supera até os de alguns postulantes ao Senado e ao governo. Peixoto acionou o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-ES) nesta sexta-feira (23) pedindo que haja mais equilíbrio nessa distribuição.
"A diferença é brutal em relação aos demais candidatos a deputado federal, é bizarro o tempo de Rigoni no horário eleitoral", criticou.
"É a velha política travestida de nova. Rigoni se transformou num velho cacique, dono do partido, dono do cofre", disparou Peixoto.
GUERINO
No evento desta quinta-feira, no palco, sentado em local de destaque, estava o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD), que disputa o Palácio Anchieta. O União Brasil não apoia ninguém oficialmente para o Palácio Anchieta, mas liberou os filiados para que se posicionem como acharem melhor.
A CAMPANHA DE RIGONI
"Ele (Rigoni) tinha dito que não usaria dinheiro do fundo eleitoral, porque tinha amigos banqueiros que doariam para ele, o que realmente aconteceu, mas o primeiro recurso público que chegou (para os candidatos do União Brasil) foi para ele, que não ia usar dinheiro público ...", apontou Peixoto.
Rigoni conta, ao todo, com R$ 2,2 milhões para fazer campanha. Desse valor, R$ 700 mil vieram do fundo eleitoral, via direção nacional do União Brasil. A maior parte (R$ 1,5 milhão) foi arrecadada por meio de doações de pessoas físicas. O empresário Salim Mattar, fundador da Localiza, por exemplo, doou R$ 100 mil.
PARTIDO CUMPRIU ACORDOS, DIZ UNIÃO
"O União Brasil ES teve reduzida a sua participação no fundo eleitoral, repassada pela Nacional do partido. Mesmo assim, cumpriu os acordos para garantir condições mínimas de competitividade para todos os candidatos, repassando recursos financeiros e oferecendo estrutura para gravação de programas eleitorais, mentoria de marketing digital, suporte de comunicação online e material impresso, comconfecção de logotipo e adesivos pessoais, além da gravação de um mini documentário para registrar a história da vida de cada um", diz nota enviada pela assessoria de Rigoni, assinada pela Secretaria Geral do União Brasil.
"O candidato Gustavo Peixoto obteve mais recursos partidários do que o próprio presidente do partido, Felipe Rigoni: R$ 800 mil, contra R$ 700 mil. Gustavo Peixoto tem ainda a liberdade de captar financiamento por sua própria iniciativa junto a seus apoiadores, observando a legislação eleitoral", diz ainda o texto.
Quanto ao tempo de TV, a secretaria da legenda ressaltou que "os candidatos do União Brasil, por ser este o maior partido do país, contam também com a maior fatia no horário eleitoral gratuito".
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