Um encontro protocolar entre o superintendente da Polícia Federal no Espírito Santo, Eugênio Ricas, e o governador Renato Casagrande (PSB), nesta quinta-feira (11), fecha um ciclo de distanciamento entre a PF e a gestão estadual desde que surgiu a ideia de uma força-tarefa que virou um cabo de guerra com puxões eleitorais.
Ricas assumiu o comando da instituição no Espírito Santo em julho de 2021. Em setembro, ele anunciou que organizava uma força-tarefa, com espaço para atuação da PF, da Polícia Rodoviária Federal, de guardas municipais e das polícias Civil, Militar e Penal.
O objetivo era o combate a organizações criminosas e o modelo seguiria um escopo do Ministério da Justiça implementado em outros estados.
As polícias estaduais, no entanto, nunca participaram da iniciativa por aqui. O governo do Espírito Santo propôs que o grupo atuasse sob o guarda-chuva do programa Estado Presente, que dita as políticas de Segurança Pública locais.
Nos bastidores, incomodava o protagonismo da Polícia Federal na força-tarefa que, de acordo com integrantes da gestão estadual, destoava de iniciativas similares adotadas em outras unidades da federação.
Em outubro do ano passado, o então secretário estadual de Segurança Pública, coronel Alexandre Ramalho, foi incisivo: "Força-tarefa já existe há muito tempo no Espírito Santo, sob a égide do governador Renato Casagrande".
Ele exemplificou, na ocasião, que o suspeito de participar de uma chacina em Vila Velha havia sido preso justamente graças à integração entre as polícias Civil e Militar e a Guarda Municipal. "A segurança pública não pode ter protagonismo", complementou, ainda em outubro.
O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), que garantiu a presença da Guarda da capital no esforço da PF, chegou a dizer que o governo estadual deveria "deixar a vaidade de lado" e fazer o mesmo.
Enquanto isso, Ricas concedia diversas entrevistas, tanto para falar sobre a organização da equipe quanto sobre prisões e apreensões realizadas no estado.
A visibilidade conquistada começou a despertar rumores de que o superintendente teria planos de participar das eleições de 2022, o que ele negou por diversas vezes.
Já em março deste ano, Ricas admitiu que poderia disputar o Palácio Anchieta.
Ele esteve a um passo de se filiar ao PSD, mas recuou quando viu que o partido se preparava para lançar o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon na corrida pelo Palácio Anchieta.
Se tivesse ingressado na legenda, o superintendente, muito provavelmente, deixaria o cargo de comando na PF em vão, acabaria rifado pela própria legenda, como ocorreu com o ex-vice-governador César Colnago pouco depois.
Ricas, então, deixou para trás a investida político-eleitoral e voltou-se ao trabalho na Polícia Federal.
INTEGRAÇÃO E COOPERAÇÃO
Ele participou da última reunião do Estado Presente, o que, de acordo com um integrante da pasta, não fazia há tempos.
E, nesta quinta, esteve no Palácio ao lado de Casagrande.
O governador escreveu o seguinte, no Twitter:
"A integração entre as forças policiais do estado e a Polícia Federal é um importante instrumento para o combate à criminalidade. Para intensificar esse trabalho recebi, nesta manhã, o Superintendente Regional da Polícia Federal no ES, @EugenioRicas. Seguiremos trabalhando juntos".
Ricas, por sua vez, postou a mesma foto no Instagram, com a seguinte legenda: "Iniciei o dia numa reunião de trabalho com o governador @casagrande_es, para tratarmos da cooperação entre a PF e as forças de segurança do Estado. Com tecnologia, inteligência e cooperação, venceremos o crime organizado".
Parabenizado por um seguidor pela "mudança", o superintendente ressaltou: "Não houve mudança da minha parte. A PF, há um ano, vem buscando a cooperação. Criamos a primeira FTSP que conta coma participação das Guardas Municipais. A participação do Estado fortalecerá ainda mais o combate à criminalidade. Esse sempre foi e será o meu propósito".
Ricas não retornou às tentativas de contato da coluna, que demandou também a Secretaria de Segurança Pública para saber se, agora, as polícias estaduais vão integrar a força-tarefa com a PF.
Eugênio Ricas já foi adido da Polícia Federal em Washington (EUA) e secretário estadual da Justiça e de Controle e Transparência, no último governo Paulo Hartung (então filiado ao MDB).
CLIMÃO
No intervalo entre Ricas se dizer disposto a concorrer ao governo do estado e o recuo, a Polícia Federal deflagrou, em março, a Operação Volátil II, que teve como alvo a compra de álcool gel, com verbas federais, por parte do governo estado.
Alguns integrantes do governo chegaram a desconfiar que a ação tivesse interesses eleitorais, embora não tenham verbalizado isso publicamente.
Uma pessoa próxima a Casagrande minimizou, na época, em conversa com a coluna, a possibilidade de interferência política.
O então subsecretário de Agricultura, Rodrigo Vaccari, foi afastado do cargo por decisão judicial e depois exonerado. Filiado ao PSB, ele também perdeu a vaga na chapa do partido para concorrer a uma cadeira na Assembleia Legislativa.
LEIA MAIS COLUNAS DE LETÍCIA GONÇALVES
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.