Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Casagrande: "Quem perde eleição vai para a oposição, não para rodovias"

Governador reeleito do ES considera movimento bolsonarista contra a eleição de Lula (PT) à Presidência da República como "lamentável" e "inusitado". Ele também comentou o silêncio de Jair Bolsonaro

Vitória
Publicado em 01/11/2022 às 11h47
Sabatina com o candidato ao governo do Espírito Santo, Renato Casagrande (PSB)
 Renato Casagrande (PSB) em entrevista na Rede Gazeta antes do segundo turno das eleições de 2022. Crédito: Vitor Jubini

O governador Renato Casagrande (PSB) foi reeleito no Espírito Santo, um estado majoritariamente apoiador do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). O candidato do presidente aqui foi o ex-deputado federal Carlos Manato (PL). No segundo turno, o socialista venceu o bolsonarista por 53,8% contra 46,2% dos votos.

Já Bolsonaro recebeu 58,04%, enquanto Lula foi escolhido por 41,06%.

Trechos de rodovias federais em território capixaba foram bloqueados por eleitores do presidente da República, a exemplo do que ocorreu em outras unidades da federação, em protesto contra a eleição do petista.

O movimento, claramente antidemocrático, foi classificado pelo governador como "lamentável" e "inusitado".

"O normal é que quem não concordou vá para a oposição e não obstrua rodovias e se manifeste de forma violenta. A gente tem que respeitar as instituições e a democracia brasileira", afirmou Casagrande à coluna na manhã desta terça-feira (1).

"(Estão) interrompendo o ir e vir das pessoas. Quem sempre defendeu muito a liberdade precisa compreender que é preciso exercer, praticar esse direito à liberdade", destacou, desta vez em entrevista por telefone à Rádio CNN Brasil, num intervalo da conversa com esta colunista.

"Talvez seja a maior ameaça que a democracia está vivendo após o regime militar. É importante que a gente seja duro e firme", alertou.

O chefe do Executivo declarou voto em Lula, mas, estrategicamente, não abraçou a campanha do aliado. Na segunda etapa do pleito, apoiadores do governador estimularam o voto CasaNaro, ou BolsoGrande.

Parte do eleitorado adotou a tática, uma vez que, certamente, alguns optaram por Casagrande e Bolsonaro ao mesmo tempo, deixando Manato de lado.

Casagrande se apresentou, na campanha, como alguém que poderia dialogar tanto com o atual presidente da República quanto com Lula, apesar de ser um crítico de Bolsonaro.

Integrantes do PT local consultados pela coluna não se importaram. Afinal, seria melhor para o partido a reeleição de Casagrande, ainda que Bolsonaro ganhasse no estado, o que já estava precificado.

Com a eleição de Lula graças, principalmente, aos eleitores de outros estados, o petista vai ter um governador aliado no Espírito Santo, em vez de lidar com Manato.

Mas soou estranho ouvir o próprio Casagrande dizendo, ao repetir a intenção de voto de uma apoiadora: "É 40 e 22".

O SILÊNCIO DE BOLSONARO

O resultado das eleições presidenciais foi divulgado no domingo (30) à noite e, até agora, Bolsonaro não se pronunciou. Não é necessário que ele fale alguma coisa para que a voz das urnas seja sacramentada. Isso já foi feito por instituições como o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Politicamente, no entanto, as palavras importam. A falta delas, também. Enquanto o presidente se cala, parte dos apoiadores dele coloca fogo em pneus em estradas e grita palavras de ordem golpistas. Apenas os mais radicalizados embarcaram nessa. 

"Vai chegar uma hora que ele vai se pronunciar. Ele avaliará que, por mais que adie essa manifestação para deixar a sua base mais radicalizada, não tem ambiente para nada além disso", analisou Casagrande, ainda em conversa com a coluna.

"Nenhum país dará sustentação a uma movimentação que faça ruptura institucional. Nenhuma instituição brasileira dará sustentação", ressaltou o governador.

"Ele (Bolsonaro) está adiando para essa turma mais aguerrida protestar, mas ele vai ter que, de alguma maneira, se manifestar, até porque ele lidera um movimento político. O movimento vai exigir orientação por parte dele", complementou.

Questionado se vê lideranças políticas bolsonaristas locais por trás dos bloqueios nas vias no Espírito Santo, o governador respondeu que não. 

O GESTO DE MANATO

Manato, assim que o resultado das eleições estaduais foi divulgado, reconheceu a vitória de Casagrande e desejou sucesso ao adversário, numa postura republicana elogiável. Ele falou à Rádio CBN Vitória, em entrevista da qual esta colunista participou. 

O ex-deputado federal não telefonou para o governador para cumprimentá-lo, mas o socialista contou que não há mesmo essa tradição no Espírito Santo. 

"Aqui o reconhecimento é público, não tem tradição de um candidato a governador que perdeu ligar para quem ganhou. Falo isso porque eu já perdi e já ganhei. Ele (Manato) reconheceu, deu declaração equilibrada, está resolvido", pontuou Casagrande.

LIBERAÇÃO DAS RODOVIAS

Antes de o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, exarar nova decisão, garantindo que as polícias estaduais podem atuar para liberar o trânsito mesmo em vias federais, diante do cometimento de crimes, o governador disse à coluna que a Policia Militar ajudaria a Polícia Rodoviária Federal, se esta solicitasse.

O superintendente da PRF no estado,  Helvio Souza Alves Junior, disse à coluna que "a PRF está alinhada com a Secretaria Estadual de Segurança Pública".  "Já estamos contando com a ajuda da PM desde o dia de ontem (dia 31)", afirmou.

A Sesp, em nota, informou que "as manifestações estão sendo monitoradas pela Subsecretaria de Estado de Inteligência, Polícia Militar e PRF". "A PMES disponibilizou equipes que atuarão, se necessário, em conjunto com a PRF para realizar desinterdição de rodovias".

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