O governador Renato Casagrande (PSB) cravou 53,80% contra 46,20% do ex-deputado federal Carlos Manato (PL) e foi reeleito, no segundo turno, neste domingo (30), para comandar o Palácio Anchieta.
O presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, foi a escolha de 58,04% dos eleitores do Espírito Santo. Lula, de 41,96%.
Se a estratégia "quem vota em Bolsonaro vota em Manato" tivesse emplacado, o resultado do pleito local seria bem diferente.
O voto "CasaNaro" ou BolsoGrande, incentivado por aliados do governador, surtiu efeito.
Em entrevista à Rádio CBN Vitória logo após a apuração, o candidato do PL no estado admitiu à coluna que esse foi um dos fatores preponderantes para que tenha sido derrotado nas urnas.
Casagrande foi pragmático. Apesar de ter declarado voto no agora presidente eleito Lula (PT), não abraçou a campanha do petista.
Na reta final, chegou a repetir, sem constrangimento, o voto que uma eleitora adiantou que cravaria na urna: "É 40 e 22".
Não quer dizer que o governador socialista tenha se convertido ao bolsonarismo. Apenas frisou que, com qualquer que fosse o alçado ao Palácio do Planalto, ele manteria o diálogo.
Um exemplo foi a frente partidária ampla que formou, desde o primeiro turno, incluindo o PT e o PP bolsonarista.
Na segunda etapa do pleito, Casagrande deixou a postura de passividade e passou a criticar e a apontar o dedo para o adversário.
A coluna registrou que, no último debate antes da votação no segundo turno, na quinta-feira (22), o governador teve que se conter ao disparar petardos contra Manato para não atingir o próprio Bolsonaro, uma vez que precisava dos votos dos bolsonaristas.
Ficou refém dessa estratégia. Mas ela foi eficiente.
"VENCEU A VIDA!"
No Twitter, o governador escreveu, após agradecer aos votos que o reconduziram ao cargo: "Venceu a vida!".
No mesmo debate em que Casagrande repetiu as críticas que havia feito ao adversário durante todo o segundo turno – pelo fato de Manato ter sido associado à Le Cocq, por ser suspeito de ter incentivado a greve da Polícia Militar de 2017 ... – o próprio candidato do PL forneceu munição contra si mesmo.
"A pandemia (de Covid-19) foi uma farsa", afirmou Manato, na ocasião. Frase que ele não havia dito em público até então. O ex-deputado federal sustentou que pacientes vítimas de "tiro ou facada" foram classificados como infectados pelo novo coronavírus para inflar as estatísticas com o macabro intuito de prejudicar Bolsonaro.
Tudo isso sem provas. A declaração pegou muito mal. Manato, entretanto, avaliou, ainda em entrevista à CBN Vitória, que o discurso negacionista não foi algo relevante para o resultado das eleições.
E repetiu o que havia dito no debate. A coluna tem uma avaliação diferente. Pode ser que isso não tenha sido "o" motivo da derrota de Manato, mas, certamente contribuiu para o desfecho.
Houve até repercussão negativa na imprensa nacional. O agravante é que Manato é médico, com especialidade em ginecologia e obstetrícia.
Manato ainda defendeu o "tratamento precoce", comprovadamente ineficaz contra Covid-19. Nem Bolsonaro dá ênfase a essas coisas mais.
Talvez o eleitor, ainda que bolsonarista, tenha pensado que, pragmaticamente, seria mais seguro continuar com o atual governador.
O ex-deputado federal prontamente reconheceu o resultado da eleição, afirmou que não vai fazer oposição a Casagrande e deseja sucesso à administração dele. A postura ácida que adotou no debate ficou para trás.
Foi uma declaração democrática de Manato, que merece ser elogiada, embora devesse ser considerada corriqueira. No Brasil atual, o normal é privilégio.
A FORÇA DA MÁQUINA
A reeleição de Casagrande não foi um passeio no parque. A disputa foi acirrada, tanto que não havia segundo turno na corrida pelo governo do estado desde 1994.
Para vencer a empreitada, ele contou com o apoio da maioria dos prefeitos do Espírito Santo.
Na Grande Vitória, que concentra a maior parte do eleitorado, ele foi endossado pelos chefes dos Executivos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos); Cariacica, Euclério Sampaio (União Brasil) e Serra, Sérgio Vidigal (PDT).
Em Viana, Wanderson Bueno (Podemos), e em Guarapari, Edson Magalhães (PSDB) também estiveram ao lado de Casagrande.
PODE PEDIR MÚSICA
O socialista vai iniciar o terceiro mandato, não consecutivo, como governador do Espírito Santo.
Esteve à frente do Palácio Anchieta de 2011 a 2014 e de 2018 a 2022 (termina este mandato em dezembro).
Ele iguala, assim, a marca do ex-governador Paulo Hartung.
Desde 2003, apenas Casagrande e Hartung administraram o estado. Em 2026, o socialista não vai poder se candidatar novamente.
Hartung já disse que considera encerrado o seu ciclo de mandatos.
O governador reeleito, portanto, deve preparar algum sucessor. Ou outro grupo político pode assumir o controle.
Manato disse não ter planos nem para 2024, o próximo pleito municipal. E pretende, por enquanto, dedicar-se à atividade empresarial.
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