
Há cinco anos, a Organização Mundial de Saúde (OMS) decretava que os casos de Covid-19 configuravam uma pandemia. Entre março de 2020 e março de 2023, 15 mil pessoas morreram em decorrência da doença no Espírito Santo. A pandemia abalou a economia e, além dos óbitos, deixou um rastro de desinformação e foi "a tempestade perfeita" para o recrudescimento da polarização e da radicalização política em todo o mundo.
Em entrevista à Rádio CBN Vitória nesta terça-feira (11) governador Renato Casagrande (PSB), que estava à frente do Executivo também na época, e o ex-secretário estadual de Saúde Nésio Fernandes lembraram como foi administrar a situação.
Eles foram questionados sobre um episódio de 2020, quando cinco deputados estaduais fizeram uma "visita surpresa" ao Hospital Dório Silva, na Serra, o que a Secretaria de Saúde, então chefiada por Nésio, considerou "invasão".
Os dois avaliaram, nesta terça, que os parlamentares "devem ter se arrependido".
Era julho de 2020 e dias antes Jair Bolsonaro (PL), que era presidente da República, incentivou apoiadores a invadirem hospitais para gravar vídeos e mostrar que os leitos estavam "vazios", sem pacientes, numa tentativa de minimizar a gravidade da doença.
Coincidentemente ou não, cinco deputados do Espírito Santo decidiram ir ao Dório Silva fazer uma fiscalização. Os leitos não estavam desocupados.
Os protagonistas da fiscalização, ou invasão, foram Lorenzo Pazolini (Republicanos), eleito prefeito de Vitória em 2020; Carlos Von (então filiado ao Avante), Torino Marques (na época, no PSL), que não se reelegeram em 2022; Danilo Bahiense (PL) e Vandinho Leite (PSDB) reeleitos deputados estaduais em 2022.
"Foi um desrespeito com os servidores do SUS e com os pacientes. Penso que quase a totalidade deles (dos deputados), salvo uma ou duas exceções, tenham se arrependido', afirmou Nésio Fernandes.
"Não foi um fenômeno nascido no Espírito Santo, eles foram mobilizados para criar imagens daquilo que este grupo político nacional produzia em todo o país, factóides e alimentar aquela agenda de negação e de afronta às instituições sanitárias (...) Foi uma experiência triste, uma atitude irresponsável e um aprendizado para todos, especialmente aqueles líderes políticos", afirmou Nésio Fernandes.
"A politização da pandemia foi um problema grave. O presidente da República à época, de forma contraditória, aportou muitos recursos para os municípios e para os estados, até por decisão do Congresso Nacional, mas ao mesmo tempo tinha o comportamento anti-vacina e da aglomeração", lembrou Casagrande.
"A gente desenvolve o diálogo (com os então cinco deputados), sem dificuldades. Quem cometeu alguma bobagem durante a pandemia pode ter se arrependido. Não podemos ter uma outra pandemia para ver como as pessoas estarão agindo. Minha expectativa é que as pessoas tenham refletido" completou o governador.
Os cinco deputados, ainda em julho de 2020, repudiaram as críticas da Secretaria de Saúde e negaram que a fiscalização tenha sido uma "invasão" motivada pelo pedido de Bolsonaro.
Lorenzo Pazolini (Republicanos)
Em julho de 2020, quando era deputado estadual
"Não quebramos nenhum protocolo. Lamentavelmente, o governo tenta criar uma narrativa falsa, de forma leviana, um sentimento de ódio inexplicável. Uma reação totalmente desproporcional"
Vandinho, também em julho de 2020, disse que o objetivo da visita era "denunciar o descaso do governo estadual no combate à pandemia".
O tucano, que fazia oposição ao Palácio Anchieta, depois passou a integrar a base aliada e, desde janeiro de 2025, é o líder de Casagrande na Assembleia Legislativa.
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