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"Comunista X Assombração": o duro embate entre Casagrande e Manato nas redes

Governador do PSB e ex-deputado federal do PL disputam o Palácio Anchieta no segundo turno

Vitória
Publicado em 10/10/2022 às 15h40
Renato Casagrande e Carlos Manato disputam o segundo turno das eleições pelo governo do Espírito Santo
Renato Casagrande e Carlos Manato disputam o segundo turno das eleiões pelo . Crédito: Reprodução

Como a coluna previu, o "Casagrande paz e amor" não tem lugar no segundo turno da disputa pelo governo do Espírito Santo

O coordenador da campanha do socialista, Vitor de Angelo, avalia que é algo natural. Como agora há apenas dois candidatos, o governador pode apontar diretamente para o adversário. Antes, eram todos contra um.

O resultado das urnas, que frustrou os apoiadores de Casagrande ao levar a corrida eleitoral para a segunda etapa, certamente também explica a mudança. 

No primeiro turno, o candidato do PSB basicamente listava os feitos da atual gestão, sem criticar os demais postulantes ao cargo.

Agora, no horário eleitoral e, principalmente, nas redes sociais, está sem meias- palavras.

O adversário dele, Manato (PL), que, desde que abraçou o bolsonarismo, adotou o tom virulento do presidente da República, segue na mesma toada.

Vejamos:

Neste domingo, o governador instou, no Facebook, os eleitores a fazerem uma escolha. "Não é uma escolha difícil", diz o texto, que prossegue:

"O governador que fez mais investimentos na história do Espírito Santo", frase acompanhada da foto de Casagrande.

Ou o "demitido duas vezes por Bolsonaro", afirmação acompanhada da foto de Manato. "Poca fora dessa assombração que nem o presidente quis!", concluiu o governador.

Manato ocupou um cargo comissionado no governo federal, na gestão de Jair Bolsonaro (PL). A saída do ex-deputado federal da função, em 2019, nunca foi bem explicada. 

Primeiro, ele disse a esta colunista, então repórter de A Gazeta, que pediu para deixar o cargo para cuidar do PSL, partido que então presidia no estado. Depois, afirmou que recebeu um convite do amigo e ministro da Educação à época, Abraham Weintraub, para trabalhar no MEC.

Manato, entretanto, nunca foi para o MEC. 

A Casa Civil, comandada então por Onyx Lorenzoni (DEM), divulgou uma nota em que justificou a demissão de ex-parlamentares, entre eles o capixaba, dizendo que "os resultados não foram os esperados".

"Quando houve o convite para que ex-parlamentares compusessem a equipe da Casa Civil, a ideia era facilitar o processo de interlocução com as bancadas. No entanto, apesar da expertise e do esforço dos mesmos, os resultados não foram os esperados. Assim, o governo está fazendo ajustes, com o objetivo permanente de estabelecer o diálogo mais produtivo com o Congresso, no melhor interesse do país", diz a nota, de junho de 2019.

A bancada do PSL na Câmara reagiu. “Se a articulação política do governo Bolsonaro está ruim, quem tem de ser demitido é o ministro, e não os assessores”, afirmou o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO).

Manato não quis colocar mais lenha na fogueira. 

Tempos depois, admitiu que o relacionamento com Onyx não era bom.

Como o mundo dá voltas, agora Onyx está no PL, mesmo partido do ex-deputado federal do Espírito Santo, e também disputa o segundo turno para governador, no Rio Grande do Sul.

Para rebater as críticas de Casagrande e apoiadores sobre a saída de Manato da Casa Civil, o próprio Manato postou um vídeo em que Onyx o defende.

"(Manato) saiu por decisão pessoal e própria de Manato. Manato foi um amigo leal, parceiro, de todos os momentos do presidente Jair Bolsonaro, eu sou testemunha", afirma o ex-ministro, no vídeo.

"COMUNISTAS"

Além de se defender, o candidato do PL no Espírito Santo também ataca.

Em outro post, Manato usa um vídeo do senador eleito Magno Malta para rebater as acusações de participação no crime organizado. 

O ex-deputado federal integrou a Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio conhecido como esquadrão da morte, mas negou ter se envolvido em quaisquer atividades criminosas, as quais disse desconhecer.

"Não se deixe levar por mentiras desesperadas. O Espírito Santo vai crescer assim que nos livramos dos comunistas e restabelecermos um governo que cuida do seu povo", escreveu Manato.

Curiosamente, em outro vídeo, Casagrande havia alertado os eleitores de que seria vítima de "fake news", sendo chamado, por exemplo, de "comunista".

O comunismo, segundo previu Karl Marx, seria o estado da sociedade pós-socialismo, em que os bens de produção, como fábricas e fazendas, pertenceriam diretamente ao povo e não a empresários e tampouco ao Estado. 

Casagrande não fez nada disso. E nem poderia. 

Em relação a estatização, o próprio Manato já disse que manteria algumas estatais capixabas, como o Banestes.

Presidente nacional do Cidadania, novo nome do PPS, Roberto Freire, foi ao Twitter ironizar o "fantasma do comunismo". "Comunismo virou uma espécie de velho do saco para adultos com baixa escolaridade e capacidade cognitiva limitada", diz postagem endossada por ele, que complementou:

"Desde o fim da Guerra Fria, com a derrota do socialismo real e o fim da URSS, que o comunismo é página virada da história. A China, integrada no mundo globalizado, há muito só tem comunismo como nome do partido sustentáculo da ditadura. É fantasma para bobos!".

O PPS surgiu do antigo Partido Comunista Brasileiro (PCB). Embora haja um partido chamado PCB que disputa o legado do "partidão".

Tuíte do presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, sobre
Tuíte do presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, sobre "o fantasma do comunismo". Crédito: Reprodução

VOTO BOLSOGRANDE

Manato é o candidato apoiado por Bolsonaro. Se dependesse apenas dos eleitores do Espírito Santo, o presidente teria sido reeleito em primeiro turno, com 52% dos votos. Ele disputa o segundo turno pelo Palácio do Planalto com o ex-presidente Lula (PT).

A campanha de Casagrande, sabendo, portanto, que tem que manter e até ampliar o número de pessoas que optam pelo candidato do PSB e, ao mesmo tempo, pelo presidente da República, adotou a estratégia de dizer que está tudo bem optar por essa dupla escolha contraditória.

"Tenho experiência de governar o Espírito Santo com presidentes ideologicamente diferentes", afirmou Casagrande, no horário eleitoral exibido na TV na tarde desta segunda-feira (10).

"Nem por isso o estado deixou de realizar importantes parcerias com o governo federal. Eu respeito a história de cada presidente e a vontade dos eleitores", complementou.

"É preciso construir pontes com o governo federal, seja quem for o presidente.

E isso, ao contrário do meu adversário, eu sei fazer", arvorou-se.

A peça de propaganda exemplificou, mostrou o Hospital Cidade Saúde, em Guarapari. O narrador afirmou que o funcionamento da unidade está garantido por uma parceria entre os governos estadual e federal.

"É estadual e federal", apareceu na tela, como um carimbo. O mesmo ocorreu quanto às obras do Aeroporto de Linhares.

"Governar não é criar inimizades e sim construir parcerias, com quem pensa igual, mas também com quem pensa diferente", argumentou o governador, ao reaparecer na TV, logo depois.

E O LULA?

Casagrande já declarou voto em Lula. Mas não havia exibido, até esta segunda, o petista no horário eleitoral. Ao contrário de Manato, que usa à quase exaustão a imagem de Bolsonaro.

Lula surgiu, entretanto, de um jeito curioso na propaganda do socialista.

"Tem pessoas que votam em Lula porque não gostam de Bolsonaro. 

Tem outras que votam em Bolsonaro apenas porque não gostam do Lula", diz o narrador.

Aí aparecem Lula e Bolsonaro, frente a frente. Isso foi a introdução para explicar, com outras palavras, que, para Casagrande, não tem problema votar em Bolsonaro e Casagrande ao mesmo tempo.

Lula e Bolsonaro no horário eleitoral de Renato Casagrande
Lula e Bolsonaro no horário eleitoral de Renato Casagrande. Crédito: Reprodução

BOLSONATO

Manato repetiu a propaganda que foi ao ar na TV na última sexta-feira, em que agradece os votos recebidos, mostra-se, mais uma vez, aliado a Bolsonaro e rebate críticas de Casagrande, sem citar o nome do adversário.

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