O prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), sem nenhuma surpresa, foi o principal alvo dos adversários no debate realizado por A Gazeta e CBN Vitória, nesta sexta-feira (20). É normal que o candidato à reeleição seja criticado pelos demais, afinal, os oponentes querem a cadeira que ele ocupa.
Por falar em cadeira, não houve nenhuma agressão física no debate, apenas alfinetadas e apelidos jocosos. Pazolini pediu cinco direitos de resposta, dos quais dois foram concedidos.
Assumção (PL) foi o autor da maioria dos petardos disparados contra o prefeito. Chamou Pazolini de "Margarida", "Enzo" e "Vazolini", mas o candidato do Republicanos ficou impassível.
As câmeras não mostraram a reação do prefeito, já que, ao fazer tais provocações, Assumção falava, na maioria das vezes, com outro candidato, inserindo as críticas em perguntas e respostas sobre assuntos diversos.
Mas como eu estava no estúdio, reparei nas expressões de Pazolini. Impassível, até meio ensaiado, com um olhar fixo à frente e um sorriso técnico.
O prefeito reagiu nos direitos de resposta. Rebateu, por exemplo, as acusações de corrupção na gestão municipal feitas por Assumção.
"Peço desculpas a você, ouvinte, internauta, pela forma desrespeitosa e jocosa com a qual o candidato tratou você. Quando ele desrespeita o candidato ele desrespeita a democracia e, principalmente, você", começou Pazolini, com um tom equilibrado.
"Vitória é a capital mais transparente do Brasil (...) não há nenhuma mácula", acrescentou. O prefeito também afirmou que as acusações feitas por Assumção são "fake news" já derrubadas pelo Judiciário.
A intenção do prefeito era colocar uma "pá de cal" no assunto que, realmente, foi mal explicitado no debate, mas não desapareceu depois disso.
Em dobradinhas, combinadas ou não, os adversários de Pazolini levantaram bolas para o outro cortar (e acertar a cabeça de Pazolini, metaforicamente).
Até Assumção e João Coser (PT), dois deputados estaduais de espectros políticos bem diferentes, estavam minimamente alinhados quando o objetivo era criticar a atual gestão da Prefeitura de Vitória.
O candidato do PL, porém, foi mais ácido e intrépido, pois tem menos a perder, aparece com 5% das intenções de voto na pesquisa Quaest divulgada na quarta-feira (18).
E a forma como ele se comportou faz jus ao estilo bolsonarista, ainda que bem mais comedido que um Pablo Marçal (PRTB-SP) da vida.
A CRUZADA CONTRA O ASFALTO
Voltando a falar de Coser, o petista seguiu sua saga contra o asfaltamento "desnecessário" de ruas em Vitória.
Para ele, Pazolini tem "coração de concreto" e "cara de asfalto". O ex-prefeito voltou a dizer que a prioridade da aplicação de recursos municipais está errada.
O chefe do Executivo estadual não se deu ao trabalho de defender o asfalto. Pazolini reagiu a Coser diretamente apenas quando o petista levantou suspeitas sobre contratos feitos sem licitação pela Prefeitura de Vitória.
O próprio deputado admitiu não ter provas, mas sim "indícios" de algo errado está acontecendo.
Pazolini rebateu: "Não me meça pela sua régua".
Foi, talvez, a participação mais espontânea e mais dura do prefeito no debate, um momento raro, pois todos os movimentos de Pazolini pareciam friamente calculados.
Se houver segundo turno em Vitória, Coser é o candidato mais provável de passar à segunda etapa do pleito, numa reedição do confronto de 2020.
CAMILA ARTICULADA
A deputada estadual Camila Valadão (PSOL) falou de forma bem articulada no debate, não lançou mão de apelidos engraçadinhos, mas fez coro às críticas ao prefeito.
Até entrou na onda da crítica ao asfalto iniciada por Coser.
Camila também lembrou, por mais de uma vez, o episódio em que Pazolini tomou o microfone das mãos da vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Podemos), o que ocorreu em novembro de 2022.
Também alfinetou ao dizer que o prefeito vê a cidade com lentes cor-de-rosa.
O RESGATE DO PASSADO
Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), que foi prefeito de Vitória por oito anos e saiu da administração, da vez mais recente, em 2004, destacou os feitos da própria administração.
Por ao menos três vezes, por exemplo, citou o Projeto Terra, voltado a bairros da periferia da cidade, uma das marcas da gestão dele na Capital.
O tucano avaliou que o projeto de Pazolini não é o melhor para o município e que, por isso, apresenta-se como opção.
Em dado momento, porém, Luiz Paulo afirmou que o mais importante não é ganhar e sim "estar do lado certo".
Ele tem 8% das intenções de voto na pesquisa Quaest e está tecnicamente empatado com Assumção e Camila.
"GERENTÃO" POUCO CONHECIDO
Enquanto isso, o candidato Du (Avante), que tem 1% na pesquisa Quaest, participou do debate de forma bem lenta.
O empresário demorou a "engatilhar" para fazer as perguntas, falou de forma pausada e monótona.
Não atacou ninguém e não defendeu muita coisa. Mas chamou a atenção, por exemplo, ao propor que a Vale, sim, a empresa, construa um hospital em Vitória.
Ainda disse que, se eleito, vai ser um "gerentão".
Du apresentou-se como "empreendedor", "sou igual a você". E, ao final, constatou o óbvio: "Sou o Du, pouco conhecido".
A PRESENÇA DE PAZOLINI
Foi positivo o fato de o prefeito ter comparecido ao debate realizado por A Gazeta e CBN Vitória.
Ao faltar ao confronto transmitido pela Band/TV Capixaba, na última segunda-feira (16), além de ser igualmente criticado, foi chamado de "fujão" e "histrião" (palhaço, bufão) por Assumção e de "covarde" por Camila.
Se não aparecesse na Rede Gazeta nesta sexta, o prefeito, provavelmente, receberia os mesmos adjetivos dos adversários.
Pior. A estratégia poderia soar aos eleitores como omissão, insegurança ou medo da disputa.
Ao escolher candidatos para responder a questões durante o confronto, Pazolini evitou o principal adversário, Coser.
O que é normal, também, para diminuir a visibilidade do oponente.
O prefeito optou por Du, que é inofensivo, e por Assumção e Camila, que não são.
De acordo com a Quaest, se as eleições fossem hoje, Pazolini seria reeleito em primeiro turno, com 53% dos votos.
A margem em relação ao segundo colocado, Coser, é ampla (o petista tem 15%), mas a vitória em primeiro turno não está garantida. Não é hora, mesmo, de subir em pedestal.
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