Este é um espaço para falar de Política: notícias, opiniões, bastidores, principalmente do que ocorre no Espírito Santo. A colunista ingressou na Rede Gazeta em 2006, atuou na Rádio CBN Vitória/Gazeta Online e migrou para a editoria de Política de A Gazeta em 2012, em que trabalhou como repórter e editora-adjunta

Damares e Michelle Bolsonaro reforçam "guerra espiritual" no ES

Religião e política entram, mais uma vez, em simbiose em discurso de campanha pró-Bolsonaro e Manato

Vitória
Publicado em 21/10/2022 às 13h11
Mulher ergue foto de Jair Bolsonaro enquanto entoa louvores em evento de campanha do presidente da República em Vitória
Mulher ergue foto de Jair Bolsonaro enquanto entoa louvores em evento de campanha do presidente da República em Vitória. Crédito: Vitor Jubini

Assim como ocorreu na Marcha para Jesus, na Praça do Papa, em Vitória, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), foi louvado nesta sexta-feira (21). Desta vez, o evento foi protagonizado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e pela senadora eleita pelo Distrito Federal Damares Alves (Republicanos).

O ato foi o "Mulheres com Bolsonaro", no Espaço Patrick Ribeiro, localizado na área do Aeroporto de Vitória.

A passagem das duas foi rápida, elas percorrem o país na reta final do segundo turno para angariar votos, como o nome do evento sugere, de eleitoras para reconduzir o presidente ao Palácio do Planalto.

Entre mulheres, Bolsonaro tem pior desempenho que entre os homens. O encontro serviu também para destacar Manato (PL), candidato ao governo do Espírito Santo.

Antes de Damares e Michelle chegarem, por mais de uma hora foram entoadas músicas gospel que anteciparam, de certa forma, o que estava por vir.

"Estamos aqui porque cremos nas promessas de Deus sobre nossa nação. Quem vai continuar governando é o senhor Jesus", afirmou a cantora do ministério de louvor convidado a se apresentar.

"Estamos em uma guerra. Essa guerra é do Senhor. Não é sobre homens, é sobre aquilo que a gente acredita", prosseguiu. "O inferno está desesperado!"

"Sinto o galopar dos cavalos / Ouço o leão rugir /Vejo o fogo das tochas marchando para a guerra", diz a canção.

Michelle discursou por cerca de dez minutos. Ela justificou que gostaria de ficar mais tempo em terras capixabas, mas tinha que partir logo em seguida para Minas Gerais.

A primeira-dama, no entanto, deu o recado. Segundo ela, o objetivo é "dissipar esse partido das trevas de uma vez por todas da nossa nação", em referência ao Partido dos Trabalhadores.

Não há, portanto, adversários políticos, ou dois projetos diferentes para o Brasil. E sim os enviados por Deus e os representantes das trevas, do inferno.

Assim, o tom é agressivo e passional.

Ciente de que pregava apenas para convertidos, Michelle pediu que os apoiadores convencessem familiares e amigos indecisos a votar em Bolsonaro.

"Aqueles que ainda não estão entendendo a guerra espiritual que estamos vivendo", frisou.

A campanha de 2022 está tão insólita que a equipe de Lula teve que desmentir que o candidato do PT tenha pacto com o diabo ou que tenha conversado com o cramulhão.

Já Bolsonaro é associado à maçonaria, por um discurso que realmente proferiu em loja maçônica. Mas os adversários forçam a barra ao inserir digitalmente imagens supostamente satânicas (baphomet) em fotos em que o presidente aparece.

MANATO

Damares reforçou, nesta sexta, a candidatura de Manato: "Acredito em você".

Michelle pediu votos para ele também, mas errou o número. "No dia 30, é 22 lá 44 aqui". O número de Manato é 22, igual ao de Bolsonaro.

O 44 é do União Brasil, que não tem candidato no segundo turno no Espírito Santo. E o número do adversário do candidato do PL, Renato Casagrande (PSB), é 40.

Carlos Manato e Michelle Bolsonaro em evento de campanha em Vitória
Carlos Manato e Michelle Bolsonaro em evento de campanha em Vitória. Crédito: Vitor Jubini

A dica do 44 soprada para a primeira-dama seria resultado da somatória entre os "dois 22", de Manato e Bolsonaro. Realmente, fica confuso assim. Depois, ela se corrigiu, frisou que o número é 22 na eleição nacional e na local.

O candidato ao Palácio Anchieta não discursou. A palavra não foi cedida a nenhum homem.

"O PRESIDENTE DAS CRIANÇAS"

A ex-ministra da Mulher e dos Direitos Humanos lançou dados para sustentar que o governo Bolsonaro foi o melhor para as mulheres.

Foi mencionado, por exemplo, que o presidente sancionou 78 projetos a favor de mulheres. Depois, o dado foi corrigido, ao vivo, e ampliado para 80.

Cabe ao presidente da República sancionar ou vetar projetos aprovados pelo Congresso Nacional.

Entre os 70 comumente lembrados pelo próprio Bolsonaro, entretanto, apenas um foi ideia dele. O restante foi iniciativa de parlamentares, que articularam a aprovação.

Damares reclamou que a imprensa só registra quando ela chama Lula de ladrão e não o restante de seus discursos.

Nesta sexta, ela chamou Lula de ladrão e incentivou que a plateia repetisse a ofensa.

Mas também sustentou que "Bolsonaro é o presidente das crianças" e que, no governo dele, o número de meninos e meninas assassinados caiu.

Damares também alertou "os pedófilos do Espírito Santo" que ela, o senador eleito Magno Malta (PL) e Bolsonaro vão "pegar todos eles".

Senadora eleita pelo Distrito Federal Damares Alves em evento de campanha de Bolsonaro em Vitória
Senadora eleita pelo Distrito Federal Damares Alves em evento de campanha de Bolsonaro em Vitória. Crédito: Vitor Jubini

O presidente da República foi alvo de críticas, por recentemente, em entrevista a um podcast, ter dito que viu meninas venezuelanas de "14,15 anos", "arrumadas", nos arredores de Brasília e concluiu que elas estavam se prostituindo, "ganhando a vida".

E então pronunciou a fatídica frase "pintou um clima".

O contexto era o de crítica ao governo da Venezuela, comandada pelo ditador Nicolás Maduro, o qual Lula não condena de forma veemente.

Descobriu-se que o presidente da República já contou essa história, chamando as meninas de prostitutas, por mais de uma vez e nunca mencionou ter denunciado a suposta exploração sexual infantil que, se é crime na Venezuela não sei, mas no Brasil, é.

Após a repercussão negativa, Damares e Michelle visitaram a líder comunitária do grupo ao qual as refugiadas venezuelanas fazem parte.

As adolescentes estavam em um curso que ensinava, por exemplo, a fazer sobrancelha, penteado, maquiagem. Por isso, estavam arrumadas.

Bolsonaro gravou um vídeo pedindo desculpas pelo "mal-entendido".

Não explicou o que quis dizer com o "pintou um clima" entre ele e as crianças/adolescentes.

Michelle já afirmou que o presidente sempre usa essa expressão, embora em suas lives, em que se comunica informalmente, nunca tenha pronunciado tais palavras.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes proibiu a campanha de Lula de usar o vídeo da entrevista de Bolsonaro em que ele fala das meninas de maneira pejorativa. O magistrado entendeu que a declaração foi tirada de contexto.

Escreveu também que a peça de propaganda era "sabidamente inverídica". Mas Bolsonaro disse, sim, tudo isso. Tanto que pediu desculpas.

Aparentemente, o episódio está superado. Nesta quinta (20) mesmo o presidente brincou com a situação, disse, em outro podcast, que "pintou um clima" entre ele e Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado e candidato ao governo de São Paulo.

Damares e Michelle deixaram o evento "Mulheres com Bolsonaro" sem conceder entrevistas.

A imprensa foi confinada em um cercadinho.

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