Assim como ocorreu na Marcha para Jesus, na Praça do Papa, em Vitória, o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), foi louvado nesta sexta-feira (21). Desta vez, o evento foi protagonizado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro e pela senadora eleita pelo Distrito Federal Damares Alves (Republicanos).
O ato foi o "Mulheres com Bolsonaro", no Espaço Patrick Ribeiro, localizado na área do Aeroporto de Vitória.
A passagem das duas foi rápida, elas percorrem o país na reta final do segundo turno para angariar votos, como o nome do evento sugere, de eleitoras para reconduzir o presidente ao Palácio do Planalto.
Entre mulheres, Bolsonaro tem pior desempenho que entre os homens. O encontro serviu também para destacar Manato (PL), candidato ao governo do Espírito Santo.
Antes de Damares e Michelle chegarem, por mais de uma hora foram entoadas músicas gospel que anteciparam, de certa forma, o que estava por vir.
"Estamos aqui porque cremos nas promessas de Deus sobre nossa nação. Quem vai continuar governando é o senhor Jesus", afirmou a cantora do ministério de louvor convidado a se apresentar.
"Estamos em uma guerra. Essa guerra é do Senhor. Não é sobre homens, é sobre aquilo que a gente acredita", prosseguiu. "O inferno está desesperado!"
"Sinto o galopar dos cavalos / Ouço o leão rugir /Vejo o fogo das tochas marchando para a guerra", diz a canção.
Michelle discursou por cerca de dez minutos. Ela justificou que gostaria de ficar mais tempo em terras capixabas, mas tinha que partir logo em seguida para Minas Gerais.
A primeira-dama, no entanto, deu o recado. Segundo ela, o objetivo é "dissipar esse partido das trevas de uma vez por todas da nossa nação", em referência ao Partido dos Trabalhadores.
Não há, portanto, adversários políticos, ou dois projetos diferentes para o Brasil. E sim os enviados por Deus e os representantes das trevas, do inferno.
Assim, o tom é agressivo e passional.
Ciente de que pregava apenas para convertidos, Michelle pediu que os apoiadores convencessem familiares e amigos indecisos a votar em Bolsonaro.
"Aqueles que ainda não estão entendendo a guerra espiritual que estamos vivendo", frisou.
A campanha de 2022 está tão insólita que a equipe de Lula teve que desmentir que o candidato do PT tenha pacto com o diabo ou que tenha conversado com o cramulhão.
Já Bolsonaro é associado à maçonaria, por um discurso que realmente proferiu em loja maçônica. Mas os adversários forçam a barra ao inserir digitalmente imagens supostamente satânicas (baphomet) em fotos em que o presidente aparece.
MANATO
Damares reforçou, nesta sexta, a candidatura de Manato: "Acredito em você".
Michelle pediu votos para ele também, mas errou o número. "No dia 30, é 22 lá 44 aqui". O número de Manato é 22, igual ao de Bolsonaro.
O 44 é do União Brasil, que não tem candidato no segundo turno no Espírito Santo. E o número do adversário do candidato do PL, Renato Casagrande (PSB), é 40.
A dica do 44 soprada para a primeira-dama seria resultado da somatória entre os "dois 22", de Manato e Bolsonaro. Realmente, fica confuso assim. Depois, ela se corrigiu, frisou que o número é 22 na eleição nacional e na local.
O candidato ao Palácio Anchieta não discursou. A palavra não foi cedida a nenhum homem.
"O PRESIDENTE DAS CRIANÇAS"
A ex-ministra da Mulher e dos Direitos Humanos lançou dados para sustentar que o governo Bolsonaro foi o melhor para as mulheres.
Foi mencionado, por exemplo, que o presidente sancionou 78 projetos a favor de mulheres. Depois, o dado foi corrigido, ao vivo, e ampliado para 80.
Cabe ao presidente da República sancionar ou vetar projetos aprovados pelo Congresso Nacional.
Entre os 70 comumente lembrados pelo próprio Bolsonaro, entretanto, apenas um foi ideia dele. O restante foi iniciativa de parlamentares, que articularam a aprovação.
Damares reclamou que a imprensa só registra quando ela chama Lula de ladrão e não o restante de seus discursos.
Nesta sexta, ela chamou Lula de ladrão e incentivou que a plateia repetisse a ofensa.
Mas também sustentou que "Bolsonaro é o presidente das crianças" e que, no governo dele, o número de meninos e meninas assassinados caiu.
Damares também alertou "os pedófilos do Espírito Santo" que ela, o senador eleito Magno Malta (PL) e Bolsonaro vão "pegar todos eles".
O presidente da República foi alvo de críticas, por recentemente, em entrevista a um podcast, ter dito que viu meninas venezuelanas de "14,15 anos", "arrumadas", nos arredores de Brasília e concluiu que elas estavam se prostituindo, "ganhando a vida".
E então pronunciou a fatídica frase "pintou um clima".
O contexto era o de crítica ao governo da Venezuela, comandada pelo ditador Nicolás Maduro, o qual Lula não condena de forma veemente.
Descobriu-se que o presidente da República já contou essa história, chamando as meninas de prostitutas, por mais de uma vez e nunca mencionou ter denunciado a suposta exploração sexual infantil que, se é crime na Venezuela não sei, mas no Brasil, é.
Após a repercussão negativa, Damares e Michelle visitaram a líder comunitária do grupo ao qual as refugiadas venezuelanas fazem parte.
As adolescentes estavam em um curso que ensinava, por exemplo, a fazer sobrancelha, penteado, maquiagem. Por isso, estavam arrumadas.
Bolsonaro gravou um vídeo pedindo desculpas pelo "mal-entendido".
Não explicou o que quis dizer com o "pintou um clima" entre ele e as crianças/adolescentes.
Michelle já afirmou que o presidente sempre usa essa expressão, embora em suas lives, em que se comunica informalmente, nunca tenha pronunciado tais palavras.
O ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes proibiu a campanha de Lula de usar o vídeo da entrevista de Bolsonaro em que ele fala das meninas de maneira pejorativa. O magistrado entendeu que a declaração foi tirada de contexto.
Escreveu também que a peça de propaganda era "sabidamente inverídica". Mas Bolsonaro disse, sim, tudo isso. Tanto que pediu desculpas.
Aparentemente, o episódio está superado. Nesta quinta (20) mesmo o presidente brincou com a situação, disse, em outro podcast, que "pintou um clima" entre ele e Tarcísio de Freitas (Republicanos), seu aliado e candidato ao governo de São Paulo.
Damares e Michelle deixaram o evento "Mulheres com Bolsonaro" sem conceder entrevistas.
A imprensa foi confinada em um cercadinho.
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