
O ex-deputado federal Carlos Manato (PL) disputou o governo do Espírito Santo em 2022 e conquistou um capital político respeitável ao chegar ao segundo turno, ainda que tenha sido derrotado por Renato Casagrande (PSB).
O contexto daquela eleição, contaminada pelo debate da política nacional, ajudou o ex-parlamentar, que entoou os mantras bolsonaristas na campanha. Depois do pleito, Manato atuou pouco politicamente, com declarações de apoio pontuais nas eleições de 2024.
Agora, ele está de volta. Quer ser candidato ao Senado no ano que vem e movimenta-se para isso. Aliou-se ao prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e articula-se com lideranças do interior do estado.
Mas há vários poréns no caminho de Manato. Para começar, a relação dele com a cúpula do PL, leia-se senador Magno Malta, presidente estadual do partido, é péssima, para não dizer inexistente.
Desde o final de 2022, os dois se desentenderam devido a despesas da campanha. Em 2024, o fato de Manato ter apoiado candidatos a prefeito não endossados pelo PL só piorou as coisas.
Na Serra, por exemplo, ele subiu no palanque de Audifax Barcelos (PP), embora o PL tivesse candidato a prefeito da cidade, o então vereador Igor Elson.
A aliança entre Manato e Pazolini também não contou com o aval do partido.
No PL, Manato não vai conseguir ser candidato ao Senado. Aliás, Magno considera que o ex-deputado, na prática, nem integra os quadros da sigla.
O presidente estadual do PL não pretende expulsá-lo, mas espera que ele peça desfiliação.
"Qualquer filiado ao PL que tenha optado por apoiar outra candidatura a prefeito em 2024 está automaticamente fora do partido. Em alguns casos, temos até respaldo para expulsão", afirmou o senador, em nota enviada à coluna.
Magno Malta
Senador e presidente estadual do PL
"Mas preferimos que essas pessoas saiam por conta própria, já que, na prática, não fazem mais parte do nosso quadro"
Manato, entretanto, bateu o pé e disse que só sai do PL se for expulso:
"Todo mundo sabe que tive problemas administrativos com Magno Malta, mas até março de 2026, estou lá. Só saio se me mandarem embora. Não estou preocupado com filiação agora".
A menção a março de 2026 não foi feita à toa. É que quem quiser disputar as eleições do ano que vem tem que estar filiado ao partido pelo qual vai concorrer até o início de abril do ano que vem.
Ou seja, Manato vai ter que arrumar uma sigla que lhe dê espaço para disputar, mas tem um prazo para isso, estabelecido pela legislação.
Para além da datas do calendário eleitoral, contudo, há o tempo da política. O ex-deputado tem que encontrar um abrigo que lhe garanta legenda para concorrer antes que outras lideranças ocupem esse espaço.
E já são muitos os que se movimentam para disputar o Senado.
A ideia do PL nacional, abonada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, é lançar apenas um candidato "do campo conservador" ao Senado em cada estado, apesar de duas vagas estarem em disputa.
No Espírito Santo, o partido ensaia lançar uma das filha de Magno, Maguinha Malta, embora também tenha como opções o deputado estadual Wellington Callegari e o deputado federal Gilvan da Federal.
Além disso, Bolsonaro já declarou apoio a uma eventual candidatura ao Senado do deputado federal Evair de Melo (PP).
"Os conservadores têm que tomar muito cuidado para não entregar as duas vagas para os progressistas. É preciso observar o projeto nacional, não só o estadual. Mas será que as pessoas aqui vão ter essa consciência? Estou fazendo a minha parte", afirmou Manato.
MANATINI
Enquanto isso, há outro grupo político, mais voltado à centro-direita, com planos ambiciosos no estado.
A chapa teria uma vaga de vice e duas de candidatos ao Senado para oferecer a aliados. E é aí que Manato quer entrar.
O PL até se reaproximou do partido do prefeito recentemente, mas não há uma parceria consolidada. Magno, por exemplo, não endossou a ida do ex-secretário estadual de Segurança Pública Coronel Ramalho para o primeiro escalão de Pazolini.
Antes de ser nomeado no cargo de secretário de Meio Ambiente, Ramalho anunciou sua desfiliação do Partido Liberal.
Manato, por sua vez, abraçou de vez o projeto Pazolini: "Com certeza. E vou me dedicar (à pré-campanha do prefeito de Vitória ao Palácio Anchieta). Tenho falado sobre isso. A quem me pergunta, eu falo que estamos juntos".
O acordo entre os dois foi selado com a nomeação da esposa de Manato, a ex-deputada federal Soraya Manato (PP), como secretária de Assistência Social de Vitória, no mês passado.
Soraya deve ser candidata a deputada federal, assim como Coronel Ramalho. A expectativa é que os dois se filiem ao Republicanos.

Em 2022, Pazolini não apoiou Manato na corrida pelo governo do Espírito Santo. Aliás, não declarou voto em nenhum dos candidatos.
Na preparação para disputar em 2026, contudo, o prefeito de Vitória está fazendo concessões políticas e estreitando laços que antes ignorava.
Quem comanda a articulação de Pazolini é o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, secretário municipal de Governo.
Foi com Erick que Manato tratou para viabilizar a aliança com o prefeito de Vitória.
Resta saber se vai conseguir emplacar como um dos candidatos ao Senado do grupo, mas está trabalhando para isso.
O ex-deputado diz que pode até acompanhar Pazolini em agendas pelo interior, atuando como cabo eleitoral do prefeito. "Se a minha presença agregar algum valor, se eie me chamar, eu vou", contou.
Quem já anda lado a lado com Pazolini nessas agendas, entretanto, é Evair de Melo, que, como já citado aqui, também tem a pretensão de disputar o Senado.
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