O ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung segue em silêncio sobre apoiar ou não algum candidato ao Palácio Anchieta. Renato Casagrande (PSB) disputa a reeleição contra Manato (PL).
Aliados do ex-governador estão no palanque do candidato do PL: o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD); o ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos (ex-Rede) e o ex-secretário da Fazenda de Vitória Aridelmo Teixeira (Novo).
Marcus Magalhães (PSD), que foi vice na chapa de Guerino e subsecretário de Agricultura no último governo Hartung, também está com Manato.
O mesmo vale para o ex-secretário de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano Marcelo de Oliveira, que integrou a gestão estadual na época.
À boca miúda, outros hartunguistas pedem voto para Manato em mensagens de WhatsApp enviadas a conhecidos.
Assim, Hartung não precisa, pessoalmente, apoiar Manato.
O ex-deputado federal representa o bolsonarismo no estado. O ex-governador já criticou o governo de Jair Bolsonaro (PL) abertamente e alertou quanto ao risco à democracia que ele representa.
Seria contraditório se subisse no palanque do candidato apoiado pelo presidente da República que, aliás, reproduz valores similares aos do chefe do Executivo federal.
O foco, entretanto, é o que um eventual endosso público de Hartung representaria para a campanha de Manato. Trataremos também do cenário alternativo, com com um hipotético apoio a Casagrande.
É como em "E se ... (What if...)", série da Marvel no Disney+, que imagina outros destinos para os Vingadores. A análise aqui, entretanto, é bem menos fantasiosa.
Um dos principais aliados do candidato do PL, Tenente Assis, que disputou, sem sucesso, uma vaga de deputado federal pelo PTB, postou dias atrás uma foto com a legenda que exprime a imagem que a campanha de Manato quer passar ao mercado político:
"Na mesma foto, cinco pessoas que ousaram desafiar um sistema que há 20 anos governa o Espírito Santo. Mas essa época acabou. Juntos e com seu apoio vamos banir a esquerda e reconstruir o ES".
Os cinco na imagem são o deputado estadual Capitão Assumção (PL); Guerino Zanon; Assis; Manato e Audifax.
O "sistema que há 20 anos governa o Espírito Santo" foi coprotagonizado, justamente, por Hartung. Ele e Casagrande revezam-se no poder.
Os dois já foram aliados, mas, desde 2014, romperam publicamente.
Se Hartung aparecesse, mesmo com a contradição do bolsonarismo pairando sobre a cabeça, e declarasse voto em Manato, esse discurso do fim dos "20 anos" ficaria frágil.
Considerando que aliados do ex-governador Paulo Hartung nem esperaram as urnas usadas no primeiro turno esfriarem para endossar o candidato do PL, é improvável que PH dê "um cavalo de pau" e declare voto em Casagrande, que se tornou seu principal adversário.
Ainda que isso signifique apoiar, tacitamente, ascensão local do bolsonarismo.
Se Casagrande recebesse o apoio do antecessor, isso também poderia ser usado contra o socialista.
Em vez de uma "ampla aliança", como o governador gosta de apresentar os diversos partidos e lideranças que estão ao seu lado, a presença de Hartung no palanque reforçaria o discurso de "mais do mesmo", de uma continuidade contra a qual o eleitor poderia se insurgir, insuflado pela campanha adversária.
E mais: Casagrande e aliados têm pregado que tudo bem votar nele e, ao mesmo tempo, em Bolsonaro. Trazer um crítico do presidente aos holofotes poderia minar a estratégia.
Se dependesse apenas dos eleitores do Espírito Santo, Bolsonaro teria sido reeleito em primeiro turno, com 52% dos votos. Casagrande declarou voto no ex-presidente Lula (PT), mas se mantém, mais do que nunca, distante do palanque do petista.
A expectativa é que Hartung permaneça em silêncio em relação à corrida pelo governo do estado. Pelos fatores abordados aqui, talvez seja melhor assim para os candidatos.
Para o próprio ex-governador, ficar quieto é menos desgastante, a curto prazo. E ele já disse que não pretende disputar outra eleição.
Lideranças políticas, entretanto, como já destacado pela coluna, costumam se posicionar, ainda que isso tenha um preço, politicamente falando. Assim, evitam o fardo da omissão.
Desde 2018, quando deixou o governo do Espírito Santo e saiu do MDB, Hartung não se manifesta, publicamente, sobre o cenário local.
A exceção é quanto à anistia administrativa concedida por Casagrande, com a anuência da Assembleia Legislativa, aos policiais militares acusados de participação na greve ilegal de 2017.
"Quando as Assembleias Legislativas legislam criando proteção a atos absolutamente ilegais (...) Crie corvos e eles furarão seus olhos", avisou, em entrevista ao programa Roda Viva, em agosto.
"Controlamos, punimos. Importante dizer isso aqui, punimos. O meu sucessor depois anistiou, erradamente. É tiro no próprio pé", cravou o ex-governador, a ocasião. Ele já havia criticado a anista antes.
Boa parte dos policiais militares, não seria arriscado dizer a maioria, está com Manato, apesar da anistia e de reajustes salariais concedidos à categoria, que alega que o atual governador "não cumpriu acordos".
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