Em 2014, a disputa pelo governo do Espírito Santo foi protagonizada pelo então chefe do Executivo estadual Renato Casagrande (PSB) e o ex-governador Paulo Hartung (na época filiado ao PMDB). Este sagrou-se vencedor ainda no primeiro turno.
A principal crítica feita ao socialista, trazida à baila apenas no ano eleitoral por aliados de Hartung, foi a alegação de uma gestão fiscal irresponsável. Aumento de gastos, pouco investimento com recursos próprios etc.
A nota A do Tesouro Nacional, uma espécie de selo de boa administração, passou a fazer parte do vocabulário desde então. Naquela primeira gestão de Casagrande o estado já havia alcançado tal marco, mas uma guerra de números foi travada.
Não posso afirmar se foi fruto dessa estratégia ou não, mas a população "abraçou o Paulo".
Corta para 2018. Hartung decidiu não disputar a reeleição. O governo dele foi marcado por um período de crise econômica no país e ainda pela greve da Polícia Militar. Também contou com a exaltação da manutenção da responsabilidade fiscal mesmo em ambiente atribulado.
Casagrande, mesmo livre do principal adversário, fez questão de ressaltar que a gestão estadual falhou na área social, um passivo que, se eleito, ele iria recuperar. Alçado mais uma vez ao comando do Palácio Anchieta, o socialista por diversas vezes afirmou que retomou ou avançou em políticas sociais que haviam sofrido, segundo ele, retrocessos, no governo do antecessor.
Todo esse preâmbulo foi para que o eleitor entenda como "o jogo virou" em 2022.
Hartung, mais uma vez, não disputa o cargo de governador. Aliás, não disputa posto algum.
Alguns dos principais concorrentes de Casagrande, entretanto, são aliados do ex-emedebista: Audifax Barcelos (Rede), Aridelmo Teixeira (Novo) e, sobretudo, Guerino Zanon (PSD).
Partem do trio as principais críticas em relação à suposta falta de investimentos sociais do governo Casagrande. O governador chega a ser chamado de "desumano" por "guardar dinheiro", "bilhões" – a quantia varia a depender do interlocutor – enquanto pessoas passam fome, por exemplo.
Meses antes, críticas à área social vieram de outro lado do espectro ideológico. A presidente estadual do PT, Jack Rocha, antes de o partido fechar aliança com o PSB no Espírito Santo, apontou que faltava mais empenho do governo em projetos sociais.
Já depois de selado o apoio dos petistas à reeleição do governador, ela elencou, à coluna, o que o partido pleiteou como inclusão no plano de governo do socialista.
"Renda básica, valorização do desenvolvimento local, o desenvolvimento regional sustentável (...) A gente precisa voltar a colocar as pessoas mais vulneráveis no orçamento para solucionar o distanciamento que existe entre o poder público e a sociedade", afirmou a presidente do PT, no início de agosto.
Ou seja, Casagrande, que quatro anos atrás e ainda durante o atual mandato, apontou a falha em políticas sociais do governo Hartung, vê-se atacado justamente por isso.
Necessário aqui ressaltar que a frase acima creditada a Jack Rocha já não tinha o intuito de crítica, mas de observação.
Outro ponto a ser lembrado é que, se antes o socialista era acusado de ser "gastador", agora é apontado como quem tem dinheiro e não quer gastar.
A nota A do Tesouro Nacional permanece. Para Carlos Manato (PL), outro adversário do atual governador, porém, no social o governo é nota Z.
Casagrande agora tem que defender que o governo tem responsabilidade fiscal e "humana".
"Você não vê policial empurrando viatura", destacou, em entrevistas recentes.
Assim como a gestão Hartung passou por dissabores, na atual veio o imponderável, a pandemia de Covid-19. Outro flanco explorado pelos adversários.
Aridelmo, no debate realizado pela TV Gazeta na terça-feira (27), até lançou mão de uma frase bolsonarista para criticar o governador que, segundo ele, adotou o "fica em casa e a economia a gente vê depois".
O mesmo tom, com algumas variações, perpassou os discursos dos outros concorrentes de Casagrande.
A AMPLA ALIANÇA
Uma coisa, é preciso frisar, não mudou de 2014 pra cá. A formação de grandes alianças partidárias em torno de um candidato ao governo do Espírito Santo.
Casagrande tem consigo 11 partidos, ideologicamente diversos. Ele mesmo já disse que essa prática começou com Hartung e que ele a manteve por considerar que dá certo.
Com o reforço desses aliados, o socialista garantiu o maior tempo de TV no horário eleitoral e sufocou a possibilidade de exposição que os demais poderiam alcançar.
A "ampla aliança", como o próprio governador a denomina, também fortalece o discurso de que Casagrande "é do diálogo", em oposição aos "negacionistas" e "extremistas".
AVALIAÇÃO DO GOVERNO
Para além dos acordos com líderes políticos e partidários e as narrativas das campanhas eleitorais, o que impulsiona Casagrande como líder nas pesquisas de intenção de voto, entretanto, certamente é a avaliação do governo estadual.
Para 54% dos entrevistados pelo Ipec em pesquisa divulgada no último dia 22, a gestão do socialista é ótima ou boa.
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