O governador Renato Casagrande (PSB) foi o mais votado no primeiro turno das eleições para o Palácio Anchieta, recebeu 46,94% dos votos, contra os 38,48% dados ao ex-deputado federal Carlos Manato (PL).
O candidato do PL, entretanto, saiu politicamente vitorioso, uma vez que a expectativa, indicada pelas pesquisas, era de que o socialista liquidasse a fatura de uma vez só.
Tanto Casagrande quanto Manato mudaram o rumo da campanha no segundo turno, o que é natural.
O ex-deputado passou a se mostrar ainda mais próximo do presidente da República, Jair Bolsonaro (PL). Casagrande, ao contrário, afastou-se do ex-presidente Lula (PT), a quem havia declarado voto.
Na corrida pelo Palácio do Planalto, no Espírito Santo, Bolsonaro saiu na frente, com 52% dos votos.
Sendo maioria, os apoiadores do presidente da República são importantes para os dois candidatos ao governo estadual. Na campanha, surgiu até o incentivo ao voto CasaNaro.
No debate da TV Gazeta, realizado na noite desta quinta-feira (27), Casagrande adotou, mais uma vez, a estratégia de não "bater" em Bolsonaro, ainda que, para isso, tivesse que deixar de responder Manato à altura (ou à baixeza, dependendo do tema em questão).
O ex-deputado federal, por exemplo, chamou a pandemia de Covid-19 de "farsa". Mesmo sendo médico, ele negou a ciência e dados oficiais para se perfilar ao presidente da República.
O governador condenou o comportamento, mas sem jamais mencionar que, ao fazer isso, o adversário imitava o chefe do Executivo federal.
Casagrande também falou, diversas vezes, que tem compromisso com "valores da fé cristã, da família, da administração pública e da transparência".
Cristianismo e família são temas caros ao bolsonarismo, embora, via de regra, mais na teoria do que na prática.
O socialista frisou que gostaria de tratar apenas de propostas no debate.
O primeiro a perguntar, por ordem de sorteio, foi Manato, que já começou chamando-o de "abortista".
O governador também atacou, repisando críticas feitas no horário eleitoral e em entrevistas: ligou Manato ao crime organizado, por este ter sido associado à Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio famoso na década de 1990.
Manato respondeu que não praticou crimes e que a Justiça Eleitoral chegou a proibir Casagrande de relacioná-lo a isso no horário eleitoral.
O socialista insistiu: "O que você fazia nas reuniões da Le Cocq?". O adversário não respondeu, mas, em outras ocasiões, disse que, na entidade, fez apenas filantropia.
Nem todo mundo deve lembrar dessa história de Le Cocq.
Então o governador trouxe um tema mais atual: a greve da PM de 2017, que ele afirma ter sido comandada por Manato.
Não é uma estratégia nova. O candidato do PL, por sua vez, inverteu a acusação e disse que aliados do socialista participaram do motim. Citou os coronéis Alexandre Quintino, depois eleito deputado estadual, e Carlos Foresti, que disputou as eleições, sem sucesso.
"Quem foi o principal beneficiado? Se não fosse a greve, você não teria sido eleito (governador)", indagou o candidato do PL.
Entre os suspeitos de participação no motim, além do próprio Manato, como incentivador, estão Capitão Assumção, que virou deputado estadual, e o ex-PM Walter Matias, ambos aliados do ex-deputado federal.
Casagrande deixou passar.
Nos debates do primeiro turno, quem o auxiliava era o marqueteiro Diego Brandy. Desta vez, nos intervalos, no estúdio da TV Gazeta, o jornalista Vitor Carvalho exerceu essa função.
Outra mudança é que a superintendente estadual de Comunicação, Flávia Mignoni, em férias, passou a se dedicar mais à campanha do socialista.
Manato acusou Casagrande de corrupção na gestão estadual e mencionou que Lula é aliado dele.
O governador se absteve de mencionar escândalos do governo Bolsonaro, mais uma vez preso a uma estratégia.
E mesmo em relação aos temas locais, o socialista não deu respostas enfáticas quanto às suspeitas de malfeitos.
Fugiu menos ao tema em relação à postura de adotou em outros debates, mas preferiu dar mais ênfase ao fato de estar sendo atacado.
Quando Manato citou situações pontuais, como a exoneração do então subsecretário de Agricultura Rodrigo Vaccari e a prisão do ex-secretário da Fazenda Rogelio Pegoretti, o governador ressaltou que, no caso de Pegoretti, foi o próprio governo estadual, por meio das Sefaz, que descobriu a suspeita e deflagrou a apuração.
O adversário chegou a questionar se Casagrande era membro de uma quadrilha, embora isso nem pese sobre o socialista por parte dos órgãos de investigação. Casagrande cobrou respeito.
Em contra-ataque, afirmou que Manato foi deputado federal por 16 anos, com baixa produtividade, "o deputado mais caro do Brasil".
Educação, saúde e meio ambiente foram abordados, nas vezes em que propostas foram mencionadas.
A segurança pública, tão presente em outros debates e entrevistas dos candidatos, passou ao largo.
Violência/tráfico de drogas era o primeiro assunto de uma lista apresentada pela TV Gazeta no início dos blocos com perguntas temáticas. Ninguém escolheu falar sobre isso.
Voltando à questão da estratégia da campanha de Casagrande, é mesmo uma sinuca de bico. Se melindrar os eleitores de Bolsonaro, pode apenas jogá-los no colo de Manato, ainda que o governador bata na tecla do que considera "despreparo" do adversário.
A eleição para a Câmara dos Deputados, por exemplo, mostrou que o voto ideológico é forte e, não necessariamente, acompanhado de argumentos racionais.
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