A coluna já havia avaliado que as palavras proferidas pelo deputado estadual Fabrício Gandini na sessão desta quarta-feira (15) poderiam, facilmente, ter saído da boca de um oposicionista. O parlamentar, que preside o Cidadania no Espírito Santo, integrava a base aliada ao governo Renato Casagrande (PSB).
Integrava. Nesta quinta-feira (16), ele anunciou que agora é "independente", está fora da base de forma "irreversível".
Na quarta, Gandini apresentou emenda a um projeto enviado pelo Executivo, que previa o pagamento de uma bolsa de R$ 400 a alunos do 4º ano do ensino médio. O deputado propôs aumentar o valor para R$ 800 e disparou petardos contra o governo.
Com a ajuda de outros governistas, a emenda foi aprovada e o Palácio Anchieta, contrariado.
Casagrandistas avaliaram que a medida seria inconstitucional e que o parlamentar do Cidadania usou a votação para mandar um "recado" à administração estadual.
Tudo isso devido à exoneração de um aliado do deputado, que tinha um cargo comissionado na Secretaria Estadual de Esportes.
Gandini já havia negado, na quarta mesmo, à coluna ter se motivado por isso.
Nesta quinta, ele afirmou que o Cidadania não tem cargos no governo e que, no mandato passado de Casagrande, Lenise Loureiro (Cidadania) foi secretária de Turismo por escolha pessoal do chefe do Executivo, não via indicação partidária.
"Mas não é isso (cargos) que faria a gente voltar. Vamos manter nossa posição, a discussão nunca passou por isso", garantiu.
Questionado se, procurado por palacianos, poderia mudar de ideia, frisou que a decisão de deixar a base é "irreversível".
POR QUÊ?
Mas por que um deputado que há anos segue ao lado do governador e seus aliados, como o ex-prefeito de Vitória Luciano Rezende (Cidadania), dá agora essa guinada?
"A desconstrução da minha participação na base vem desde a eleição", respondeu o próprio Gandini. Ele argumentou que o governo não mantém diálogo com o partido e tem privilegiado o contato com o PSDB, que forma uma federação com o Cidadania até o final de 2024.
A palavra-chave aí é "eleição". E sobrevivência política. O Cidadania tem apenas um deputado estadual, o próprio Gandini. O PSDB, além de contar com Vandinho Leite e Mazinho dos Anjos na Assembleia, tem o vice-governador, Ricardo Ferraço.
Gandini recebeu 16.948 votos em 2022, foi o 24º mais votado entre os 30 parlamentares estaduais. O desempenho dele foi inferior ao de 2018, quando foi a escolha de 20.170 eleitores.
Em 2020, ele tentou se eleger prefeito de Vitória. Não chegou ao segundo turno, disputado por João Coser (PT) e Lorenzo Pazolini (Republicanos), que levou a melhor.
O próprio Gandini diz que está refletindo sobre qual caminho adotar a partir de agora, até ideologicamente falando. Ele avalia que os últimos pleitos foram muito polarizados e que o número de partidos, que já vem caindo, vai ser ainda mais reduzido.
O Cidadania, em tese, é uma sigla de centro-esquerda. O presidente do partido no estado já não se define assim.
"O partido está fazendo discussões nacionais, vendo se vai fazer uma federação com o Podemos (um partido de centro-direita), o que mudaria o Cidadania no campo ideológico. E eu também estou fazendo essa análise, a análise do meu eleitor e dos valores mais importantes", revelou Gandini.
Ao que parece, há algumas questões pontuais de relacionamento com o governo que levaram o deputado a abandonar a aliança palaciana. Mas o pragmatismo eleitoral, antecipando-se a mudanças no tabuleiro partidário, é que falaram mais alto.
Na Assembleia, ele diz que o Cidadania deve ter uma liderança separada da do PSDB.
Os tucanos integram a base aliada a Casagrande, embora Vandinho Leite também tenha lá seus percalços com o governo, após ter sido preterido na disputa pela presidência da Assembleia Legislativa.
"SEM SEGUNDAS INTENÇÕES"
Enquanto isso, Gandini garante que a posição de independência – ele rechaça o rótulo de oposição –, não tem "segundas intenções" e que não vai adotar posições "maliciosas".
"Nessa questão da emenda (de quarta-feira) eu quis melhorar o projeto do governo e chamaram isso de oposição. Agora, já estou sabendo que o governo vai mudar o projeto. A bolsa para os alunos deve ter um valor intermediário, nem R$ 400 (como o governo queria, originalmente) nem R$ 800 (valor que Gandini propôs). Ou seja, valeu a pena", concluiu o parlamentar.
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