O ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon (PSD) quebrou o silêncio e concedeu à coluna, nesta quinta-feira (2), a primeira entrevista como pré-candidato ao governo do Espírito Santo. Ele não poupou críticas ao governo Renato Casagrande (PSB), como é de se esperar de um nome da oposição, e fez uma defesa enfática do ex-governador Paulo Hartung (sem partido).
Guerino, no entanto, nega ter sido incentivado por Hartung a entrar na disputa.
Ele também diz que o apoio de Casagrande à senadora Rose de Freitas está selado, o que o levou a deixar o MDB, presidido no estado pela parlamentar.
O ex-prefeito se apresenta como conservador, vez ou outra insere as palavras "socialista" ou "comunista" na conversa. Já sabe em quem não vai votar para presidente da República e demonstra simpatia por outro pré-candidato ao Palácio do Planalto.
Guerino apareceu na pesquisa Ipec divulgada pela Rede Gazeta no dia 2 de maio com 5%¨das intenções de voto estimuladas.
Confira a entrevista:
O senhor deixou o MDB e foi para o PSD para poder ser candidato ao governo. Como foi a saída do MDB e a relação com a senadora Rose de Freitas, que preside o partido no estado?
Minha relação com Rose sempre foi muito boa. O MDB foi meu primeiro e único partido até o dia 1º de abril deste ano. Todas as minhas oito eleições eu disputei pelo MDB. Não foi fácil ter que falar com a senadora "olha, como não me foi dado o direito de disputar o governo pelo meu partido, só me resta conversar com outras siglas". Quero agradecer ao PSD por abrir as portas.
Não é segredo para ninguém. Rose entendia que o partido não poderia ter um candidato a governador e uma candidata ao Senado, no caso, ela.
O segundo fato é que ela já tinha compromisso com o governador, de ser a senadora apoiada pelo Palácio Anchieta. As coisas entre eles já estavam arrumadas e eu não tive outra alternativa.
O PSD tem musculatura para uma disputa ao governo do estado?
Temos, sim. Temos um candidato que construiu uma história de sucesso. Temos diretórios espalhados por todo o estado. Temos 31 candidatos a deputados estaduais e vamos ter uma ótima chapa para federal.
Temos muita facilidade de conversar com outros partidos e formar um grupo bastante forte para as eleições de 2022.
Quais outros partidos?
Agregados hoje ao MDB (quis dizer PSD, força do hábito do ex-prefeito) temos o DC, com seus 31 candidatos a deputados estaduais, e o B35, o antigo Partido da Mulher, também com chapa completa para federal e estadual.
Agora é hora de conversar com outros partidos.
Um tempo atrás havia conversas frequentes entre o senhor e os também pré-candidatos ao governo Erick Musso (Republicanos) e Audifax Barcelos (Rede). Como está a relação com eles? Audifax chegou a dizer que gostaria de montar uma chapa com o senhor. Isso está distante? Qual a possibilidade de costura com outros candidatos?
Estamos próximos, desde o início de 2021 conversamos muito. Sempre procurei o diálogo com Audifax e a recíproca é verdadeira. Sempre estive próximo dele e do (Carlos) Manato. As conversas continuam. Tem também o Aridelmo (Teixeira) e o Felipe (Rigoni).
Estamos no pluripartidarismo. É necessário que as forças políticas conversem entre si. Isso não quer dizer que está acertada alguma união, mas estamos buscando isso.
Com tantas pré-candidaturas de oposição ao atual governo e do mesmo campo político, de direita ou centro-direita, a união dos nomes ainda no primeiro turno não seria uma melhor estratégia? Não há o risco de haver fragmentação das intenções de voto?
Se tem um grupo expressivo de pré-candidatos contra a atual gestão é porque alguma coisa não está andando bem. Mas fazer a união já no primeiro turno talvez não seja necessário.
É legítimo cada partido ter o seu candidato, apresentar suas ideias e falar aos eleitores como vão atuar na gestão. Podem alguns candidatos se unirem ainda no primeiro turno? Claro. Mas não tem problema todos irem para a disputa.
A eleição vai ser resolvida no segundo turno. Não tenho dúvida que esse grupo que eu citei aqui vai estar unido em um único projeto com quem passar para o segundo turno.
E o senhor, como se define? Mais um pré-candidato de direita? No que difere em relação aos demais?
Vou me definir agora para o capixaba. É a primeira entrevista que estou dando. Não preciso sair alardeando que sou de centro e conservador. O meu histórico fala por mim. Disputei oito eleições, cinco delas vitoriosas como prefeito de Linhares, fui deputado estadual.
Não nego. Sou um conservador. Mas um conservador que busca a todo momento as inovações.
Conservador leva à ideia de estático. E não é isso. Conservador é o respeito que você tem pelas conquistas de até então. Em relação à família e às boas práticas da sociedade e da gestão pública, sou conservador.
Mas quero ampliar essas conquistas e inovar.
Não quero me classificar como de esquerda ou de direita.
Em dado momento, o ex-vice-governador César Colnago disse que poderia disputar o governo do estado pelo PSD. Depois recuou, disse que o candidato é o senhor e que deve disputar o Senado. Essa candidatura ao Senado está confirmada? Como está o relacionamento com Colnago?
O César é uma bela pessoa e um ótimo amigo. Gosto muito do César e ele pode dar uma contribuição tremenda nessa eleição.
Quando eu renunciei ao mandato de prefeito eu renunciei com a garantia de que eu teria a minha vaga, me deram a segurança de que eu seria o candidato do partido ao governo do estado.
Com relação ao Senado, o César sabe muito bem, ele é inteligente, que estamos discutindo uma eleição majoritária, em que temos vaga para Senado, vice e governador. Ele sabe que precisamos ter em aberto essas duas vagas (vice e Senado) para atrair novos partidos.
Ele está fazendo isso com muita habilidade.
Guerino Zanon (PSD)
Ex-prefeito de Linhares
"Não existe fio desencapado na relação com César (Colnago)"
Por que o senhor quer ser governador? Qual o problema com a gestão atual?
A sociedade não está satisfeita com o atual governo. As pesquisas mostram e andando pelas ruas é nítido isso. Um estado que foi entregue ao atual governador numa situação espetacular, com as políticas públicas funcionando e uma gestão financeira fabulosa, que foi de 2015 a 2018.
A gente vê o estado contabilizar quase meio milhão de pessoas na pobreza ou extrema pobreza. Isso é um absurdo.
Vemos um governo que tenta passar a borracha nas conquistas da sociedade, não só do governo passado. A Rede Cuidar, por exemplo. Trabalhamos mais de 25 anos para a interiorização dos serviços públicos de saúde.
E devagarinho, devagarinho o atual secretário de Saúde, importado de Tocantins, formando uma república aqui no Espírito Santo, trazendo mais e mais gente, consegue paulatinamente destruir nossas conquistas.
Não podíamos destruir essas conquistas, tínhamos que ter ações para melhorá-las.
Em contrapartida, você vê uma criança morrendo na porta do hospital, tendo que sair de Cachoeiro às pressas e morrer na porta de um hospital. E o governo ainda querendo botar a culpa nos médicos, não assumindo o que é de responsabilidade do governo, que falhou.
A gente vê denúncias, como a do álcool gel e a denúncia do prefeito Pazolini, que precisa ser apurada com rigor.
Vemos um governo que deixou dinheiro guardado no momento que a sociedade mais precisou, de 2020 a 2021, na pandemia. Se tivesse olhado o exemplo de Linhares, teria feito ações melhores do que deixar o povo na extrema pobreza.
O caixa do estado terminou o ano com R$ 2,2 bilhões na conta corrente e mais R$ 3 bilhões de royalties para sair agora igual ao Silvio Santos "quem quer dinheiro", entregando convênio por esse estado a fora. Isso não está correto.
Linhares pegou a sua reserva, foi ao mercado, atraiu mais R$ 200 milhões e gerou quase 4 mil empregos.
O senhor mencionou, indiretamente, o governo Paulo Hartung, que antecedeu o de Renato Casagrande, disse que Hartung deixou um legado "espetacular" para Casagrande. Eu me recordo que no governo Hartung os adversários diziam o mesmo, que a gestão tinha equilíbrio fiscal, nota A do Tesouro, mas pecava nas políticas sociais ...
Poderíamos colocar ponto a ponto as duas gestões. O governo Paulo Hartung 2003-2008 é consenso no Espírito Santo como foi importante para termos instituições fortes. Entregou o governo (a Casagrande) em 2011. Quando recebe de volta, em 2015, todo mundo se lembra que foi mandado para a Assembleia um corte de R$ 1,3 bi no orçamento fictício que foi deixado.
Em 2015-2018 vivíamos a maior crise do país. A receita do estado era menor do que a do atual governo, mesmo assim o governador Paulo Hartung conseguiu manter a nota A do Tesouro Nacional.
Então não é mérito agora o atual governador ficar alardeando que tem nota A. O mérito é de quem administrou com arrecadação em queda.
Por que as críticas dirigidas ao Paulo? Porque queriam destruir aquilo que deu certo para fazer o que estão fazendo agora.
O Paulo Hartung é um incentivador da sua pré-candidatura?
Paulo Hartung não incentiva ninguém a ser candidato, não. Se alguém falou isso se equivocou. Eu comuniquei ao governador Paulo Hartung que seria pré-candidato ao governo e ele me desejou boa sorte.
E naquilo que puder ajudar vai estar à disposição, como vai estar à disposição de todos os pré-candidatos que historicamente o ajudaram nas suas gestões.
O pré-candidato e deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil) tem a tese de que o ciclo de Hartung e Casagrande acabou. O senhor concorda com isso ou uma eventual administração sua seria como uma continuidade da de Hartung?
Há um equívoco aí. Eu não classifico ninguém como fim de ciclo, não. Se fosse assim eu não teria eleições seguidas em Linhares, tentaram falar isso lá várias vezes.
Gestor como Paulo Hartung você não pode... ele tem 65 anos. Falar que está no final da sua produtividade? Ele que fez a opção "não quero mais ser governador". Não vou dizer que é ciclo de A ou B.
E outra coisa: não vou fazer gestão dando continuidade porque ele foi um bom gestor. Eu falei há pouco que sou conservador. Tudo de bom que foi construído nos governos de Paulo e de Renato se eu puder melhorar vou melhorar, se não vou manter.
Não é a continuidade de um governo que estou buscando e sim governar com o povo do Espírito Santo e para o povo do Espírito Santo.
Para chegar lá o senhor tem um desafio, acho que o senhor tem consciência disso. O senhor é mais forte em Linhares e região. Como conquistar votos na Grande Vitória, onde está a maior parte do eleitorado?
Não está tão distante (a Grande Vitória). Em 2006 eu conquistei a maior votação já dada a um deputado estadual na história do Espírito Santo: 65.704 votos, sendo 5 mil votos aqui na Grande Vitória.
Por aqui passei boa parte da minha vida profissional. Cheguei aqui em 1976, sou da primeira turma de Física da Ufes. Desde 77 eu já estava dando 44 aulas semanais, professor de Física, aqui.
Fui presidente da Assembleia, rodei esse estado.
Tenho certeza que a grande massa dos cidadãos que vive no Espírito Santo não conhece pessoalmente o Guerino Zanon, mas conhece a história de sucesso das gestões das quais estive à frente em Linhares. E é isso que importa em um projeto.
Voltando a Linhares então. Recentemente houve um problema, publicamos uma reportagem em A Gazeta, sobre a transferência do Hospital Geral de Linhares para o governo do estado. O governo diz que a prefeitura emperrou o processo. Claro que o senhor não é mais o prefeito, mas as tratativas para a transferência ocorreram na sua gestão. Tem um componente político e não técnico nessa questão?
Sensibilidade. Falta de ter a sensibilidade a boas práticas deixadas pelo antecessor. Esse governo socialista que está aí, e é a prática corrente nos governos socialistas, tenta passar a borracha em tudo de bom que o outro fez, gostam de ter o carimbo deles.
A estadualização do HGL não é um acordo de cavalheiros entre o ex-governador e o prefeito de então, que era eu. É um acordo entre estado e prefeitura. Trabalhamos isso durante 4 anos.
Em novembro de 2018 foi assinada a transferência. O município de Linhares doou para o estado todos os equipamentos e o imóvel do HGL para o estado e ficou acertado que as equipes do estado e da prefeitura fariam a transição de novembro de 2018 até abril de 2019.
Infelizmente, o governo atual já remarcou dez vezes essa transferência. Ele (Casagrande) não pode falar que esses acordos foram feitos não por ele e sim pelo secretário de Saúde, o comunista Nésio.
Porque ele sabe que toda vez que o secretário desmarcava a posse do HGL pelo estado eu pegava o telefone e ligava para o governador dizendo que o prazo não havia sido cumprido. Ele fazia expressão de surpresa.
Agora, se aproximando o período eleitoral ele vem com essa de que o município não quer fazer a transição. Pelo menos poderia ter menos falsidade nessa narrativa, para a gente chegar a um denominador comum que ajude os pobres.
Em pré-campanha, o senhor já começou a percorrer municípios. Sabe que boa parte dos prefeitos apoia o governador Casagrande, certo? Imagina encontrar resistência nas cidades?
Não. São todos muito educados. Aqueles que não podem tirar uma foto comigo eu estou respeitando. Sei que o momento é de repassar convênios, fui prefeito, sei o que é isso.
Não se pode exigir o que um gestor não pode dar e respeito isso.
A Gazeta publicou uma pesquisa, há exatamente um mês, realizada pelo Ipec, que mostra o senhor com 5% das intenções de voto, enquanto Casagrande tem 42%. Como o senhor avalia esses percentuais?
A grande massa dos capixabas ainda não me conhece, vão conhecer a partir de agora. Conhece o case de sucesso de Linhares. Estou muito satisfeito com os 5% que apareci na pesquisa.
Qual pré-candidato à Presidência da República tem o seu apoio?
No PSD temos liberdade dada pela nacional. Tenho plena segurança em lhe falar que eu não darei meu voto ao Lula, isso é certo.
Bolsonaro o senhor não descarta então?
Claro que não. Tenho motivos para não dar voto a Lula. Não gosto do populismo, do assistencialismo, isso faz o país cair num precipício.
Algumas políticas assistencialistas do governo Lula foram mantidas por Bolsonaro, ainda que com outro nome, como o Bolsa Família, que virou Auxílio Brasil...
Algumas políticas assistencialistas precisam existir, mas você tem que trabalhar a porta de saída. Em Linhares também tivemos políticas assistencialista, mas qualificamos 5 mil linharenses.
Os governantes que querem se manter pelo populismo querem manter a vida toda o assistencialismo. E outra coisa: não posso aceitar pegar dinheiro do povo e jogar no BNDES para emprestar para cinco empresas, "campeãs nacionais", e emprestar para outros países.
O senhor disputou oito eleições. O que acha de Bolsonaro questionar a lisura do pleito, praticamente adiantando um discurso para não aceitar o resultado, caso ele perca?
Eu posso enumerar várias coisas boas que aconteceram no governo dele. Se não fosse a determinação dele e da sua equipe em dar ajuda aos estados e municípios estariam todos falidos hoje. Nunca os estados e municípios receberam tanta ajuda como receberam em 2020 e 2021.
Nunca vi um governo que honrasse as emendas parlamentares com dinheiro destinado para os municípios como esse governo.
Nunca vi um governo falar para empregados e patrões: pode fazer redução de 1/3 na jornada de trabalho que o governo federal vai bancar esse 1/3.
E em relação ao questionamento sobre a lisura das eleições?
Isso eu não posso concordar com ele. Acredito na eficiência das nossas urnas eletrônicas. Não é porque eu sou conservador, que eu posso estar, sim, com Bolsonaro, que eu tenho que concordar com tudo que ele fala ou faz.
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