No início de setembro, cerca de um mês antes do primeiro turno das eleições de 2024, Weverson Meireles (PDT) tinha 14% das intenções de voto, de acordo com o Ipec. Na reta final da corrida, chegou a 29%. No dia do pleito, foi escolhido por 39% dos eleitores e passou ao segundo turno como o mais votado.
Na segunda etapa do pleito, liderou as pesquisas contra Pablo Muribeca (Republicanos). No sábado (26), o Ipec cravou que o pedetista seria eleito com 60%. E, finalmente, no domingo (27), Weverson saiu-se vencedor, com 60,48% dos votos.
Os temas e as estratégias do segundo turno foram diferentes e a disputa, mais acirrada e de nível mais baixo. Mas isso não foi suficiente para suplantar a vantagem do pedetista.
Na primeira etapa do pleito, o protagonismo foi de assuntos mais afeitos ao dia a dia da cidade e aos serviços municipais, além do debate sobre necessidade ou não de renovação no comando da prefeitura.
PT e PL tinham candidatos, Professor Roberto Carlos e Igor Elson, respectivamente. Então coube a eles fazer o discurso mais ideológico.
Só que isso não teve muito peso na campanha. Tanto que o petista e o candidato do PL colheram resultados tímidos nas urnas. Igor, 7,66% dos votos e Roberto Carlos, 3,07%.
No segundo turno, petistas e bolsonaristas escolheram lados, ainda que extraoficialmente. E o tom da campanha mudou.
Muribeca e aliados, vários deles do PL, deram foco a temas como “pauta LGBT” — com desinformação e críticas a quaisquer menções a políticas públicas voltadas a esse segmento — e insuflaram uma “guerra santa” em que o apoio de pastores evangélicos parecia importar muito.
Também atacaram o fato de Roberto Carlos e o PT da Serra terem orientado voto em Weverson. O objetivo foi mobilizar o sentimento antipetista dos eleitores.
Weverson, por sua vez, reagiu curvando-se a tudo isso como forma de contra-ataque.
O PDT repudiou o PT publicamente na Serra; Weverson assinou uma carta-compromisso com pastores em que prometeu não apoiar nenhuma “pauta que contrarie a palavra de Deus” e, por fim, deletou do plano de governo todas as menções à sigla LGBT, ainda que tais menções fossem quase protocolares.
Em um dos últimos lances da disputa no segundo turno, um traficante foi baleado em meio a uma carreata de Muribeca, em Central Carapina. Logo após ouvir o barulho dos disparos, o então candidato a prefeito publicou um vídeo nos stories do Instagram dizendo ter sido vítima de uma tentativa de homicídio — em seguida, apagou o vídeo — e até registrou, num boletim de ocorrência, que “era o alvo” do ataque.
No dia seguinte, Muribeca prestou depoimento. A Polícia Civil revelou que não houve atentado algum e sim uma rusga entre gangues rivais sem nenhuma conotação política.
Weverson usou a história contra o adversário no debate da TV Gazeta, 48h antes da votação no segundo turno e o acusou de “tentar enganar a polícia”.
Os piores momentos da campanha, na minha avaliação, foram a exclusão dos LGBT do plano de governo de Weverson e o atentado contra Muribeca que foi sem nunca ter sido.
Como o pedetista chegou ao segundo turno com 35 mil votos a mais que Muribeca, a mudança de tom na corrida teve o objetivo de provocar uma virada.
Houve reviravolta em 12 das 51 cidades que tiveram segundo turno no país em 2024. Na Serra, não.
Espero que a gestão e a oposição municipais, a partir de janeiro de 2025, não sejam pautadas pelos temas e estratégias da campanha eleitoral, ou teremos um retrocesso civilizatório permanente, em vez de pontual.
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