Os ônibus incendiados na última terça-feira (11), em Vitória, apareceram tanto na propaganda do governador Renato Casagrande (PSB) quanto na do adversário dele, o ex-deputado federal Carlos Manato (PL), nesta sexta (14).
O governador criticou o uso político-eleitoral do episódio e elogiou a atuação das polícias. Manato afirmou que "a criminalidade está fora de controle".
Casagrande foi o primeiro a aparecer na TV no horário eleitoral e, certamente antecipando-se a críticas das quais certamente seria alvo, trouxe o assunto à baila.
Ciente de que precisa de votos dos eleitores conservadores, calibrou o discurso:
"O primeiro aviso é para a bandidagem. Qualquer tentativa de intimidação à nossa população e às forças de segurança será combatida imediatamente, de forma dura e eficaz".
"O outro recado é para lideranças políticas que, em vez de ajudarem a população, estão usando o fato para aproveitamento eleitoral. É vergonhoso, é desrespeitoso. São verdadeiros abutres, capazes de tudo para conseguir votos", disparou.
"Só existe retaliação a governo que combate o crime. Governo de verdade não convive amigavelmente com o crime organizado. No que depender de mim como governador, não deixaremos que as milícias tenham vez no Espírito Santo", complementou, dirigindo-se à população.
Não foi à toa que o candidato do PSB usou a palavra "milícias".
Na tela, apareceram imagens do criminoso morto pela polícia, que desencadeou o ataque aos ônibus, e do traficante para o qual ele fazia segurança. Também apareceram veículos incendiados.
O narrador destacou que, em menos de 24 horas, 15 pessoas envolvidas já haviam sido presas, graças à agilidade e eficiência das polícias.
"Muito diferente do que acontecia em nosso estado algumas décadas atrás."
A partir daí vieram as críticas a Manato. O tema Scuderie Le Cocq, um grupo de extermínio famoso na década de 1990, voltou. Na tela, apareceu a ficha de filiação do candidato do PL à entidade.
Foi exibido também um depoimento de Luiz Eduardo Soares, coautor de Elite da Tropa e ex-secretário nacional de Segurança. "Fiquei horrorizado", afirmou, sobre a associação de Manato à Lecoq, "que foi o berço da milícias" no Rio de Janeiro.
O ex-deputado federal já afirmou e repetiu que, formalmente, foi filiado à Le Cocq, à qual chegou a partir da participação em uma entidade filantrópica ligada a militares, mas nunca teve envolvimento em ações criminosas. "Eu não tenho processo nenhum", ressaltou.
Ainda na propaganda de Casagrande, o ex-secretário de Segurança Pública coronel Alexandre Ramalho apareceu na tela.
Ramalho integrou o primeiro escalão de Casagrande, deixou o posto para ser candidato a deputado federal pelo Podemos. Não foi eleito.
O militar é um dos entusiastas do movimento de votar, ao mesmo tempo, no socialista para governador e em Jair Bolsonaro (PL) para a Presidência da República.
"O Renato puxa a pauta da segurança pública para o seu gabinete", afirmou Ramalho, que destacou a queda na taxa de homicídios no estado nos últimos anos.
Uma novidade foi a exibição de um vídeo de apoio do ex-prefeito de Vitória João Coser e da vereadora de Vitória Karla Coser, ambos do PT.
Coser, o pai, até foi apresentado como deputado estadual. Ele foi eleito para a Assembleia Legislativa, mas toma posse apenas no ano que vem.
"FORA DE CONTROLE"
"A criminalidade aqui no estado está fora de controle e tudo que o Casagrande fala em relação à segurança se comprova como mentira", afirmou o narrador da propaganda de Manato, enquanto eram exibidas imagens dos ônibus incendiados na última terça.
Depois, apareceu o candidato do PL na TV, que repetiu as mesmas palavras.
A peça de propaganda comparou as taxas de homicídio dos estados do Sudeste e mostrou que o Espírito Santo lidera nesse ranking. "O Espírito Santo é mais violento que o Rio de Janeiro", pontuou o narrador.
Para Manato, isso ocorre porque "Casagrande não fez a reposição de efetivo (das polícias). Sobrecarrega a tropa com baixos salários e sem motivação". Sem motivação, não é possível ter entrega de trabalho", afirmou o ex-deputado federal.
Também frisou que o estado é o pior em resolução de crimes no país.
"Temos solução para a segurança", anunciou o candidato do PL.
"Vamos aumentar o efetivo, vamos valorizar o policial e garantir a segurança para as famílias capixabas", prometeu.
Entre as medidas, a propaganda disse que Manato vai reajustar a folha salarial dos policiais e dos servidores do sistema prisional. Não cravou o percentual de aumento.
Se eleito, Manato também diz que vai integrar as polícias, ampliar as delegacias de combate à violência doméstica e criar uma tropa para atuar nas divisas do estado.
"Com Bolsonaro lá e Manato aqui a criminalidade não tem vez", afirmou o candidato do PL local.
O slogan de campanha dele já mudou, como a coluna antecipou. Agora é "O governador do Bolsonaro".
Um vídeo em que o presidente da República pede votos para Manato, a quem chama de Manatinho, foi exibido.
No dia dos ataques, Manato republicou, nas redes sociais, um vídeo do senador eleito Magno Malta (PL) e endossou um pedido para que o governador solicitasse ao Ministério da Justiça, ou seja, ao governo Bolsonaro, o envio da Força Nacional para o estado.
Aliados de Casagrande apontaram que a proposta era um desrespeito às polícias locais, como se elas fossem incapazes de controlar a situação sozinhas.
No horário eleitoral, Manato não mencionou essa questão de Força Nacional.
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