Aos 86 anos, o deputado estadual Theodorico Ferraço (PP) segue liderando a corrida eleitoral em Cachoeiro de Itapemirim. A menos de 48h da eleição de domingo (6), o Ipec mostra que, se a votação fosse hoje, o parlamentar seria o escolhido como novo prefeito da cidade, com 50% dos votos. Isso considerando a projeção de votos válidos, que exclui brancos, nulos e indecisos.
Só que Ferraço, em setembro, tinha 65% das intenções de voto, também no recorte pelos votos válidos. Em pouco mais de 15 dias, o político veterano caiu 15 pontos percentuais. É algo significativo, pois extrapola bastante a margem de erro, de quatro pontos.
O que pode explicar isso? Aqui elenco algumas hipóteses.
Em setembro, destaquei que o criador, Ferraço, superou a criatura, Diego Libardi (Republicanos) e, para surpresa desta colunista, demonstrou fôlego eleitoral, apesar da idade avançada e de que, até pouco tempo antes da campanha eleitoral, o deputado nem comparecia pessoalmente às sessões da Assembleia, devido a problemas de saúde.
Ferraço foi prefeito de Cachoeiro por quatro mandatos (16 anos) e deixou o cargo, na vez mais recente, em 2004, ou seja, há 20 anos. Mesmo assim, tem um recall forte entre os eleitores. É a memória do que houve no passado que o move hoje.
Mas a questão é que o próprio candidato do PP não se move muito. Ele não compareceu, por exemplo, ao debate realizado pela TV Gazeta entre os candidatos a prefeito de Cachoeiro, no último dia 28.
Os adversários aproveitaram para criticar o líder nas pesquisas e reforçar os argumentos que têm utilizado na campanha: Ferraço não tem feito caminhadas para pedir votos. No lugar dele, vai o vice na chapa, Júnior Corrêa (Novo).
Será que, se Ferraço for eleito, o prefeito, na verdade, vai ser o vice? Foi esse o questionamento, em tom acusatório, que primeiro surgiu no debate. Ferraço não estava lá para responder.
Na ocasião, antes de o embate começar, ele avisou à TV Gazeta que não iria comparecer justamente devido ao fato de os adversários terem feito muitos ataques a ele nos dias anteriores.
O deputado considerou que participar do encontro não seria proveitoso do ponto de vista de apresentar propostas e projetos aos eleitores.
O púlpito vazio, porém, serviu para reverberar os ataques, que vieram de qualquer forma.
Não estou dizendo que o debate, que começou às 23h30 de um sábado, foi responsável pela queda do percentual de Ferraço. A questão é que o embate ecoou o que há tempos já era veiculado na campanha em Cachoeiro pelos adversários ele.
A vantagem de Ferraço se mantém porque, apesar disso tudo, os concorrentes não têm empolgado os eleitores.
A candidata apoiada pelo atual prefeito, Victor Coelho (PSB), Lorena Vasques (PSB), por exemplo, está em quarto e penúltimo lugar, com 12% das intenções de voto (cenário com votos válidos).
Isso mostra que a máquina municipal não é suficiente para fazê-la crescer. Lorena oscilou três pontos para cima. Em setembro, ela tinha 9%, mas ainda está dentro da margem de erro, que é de quatro pontos percentuais.
O ex-pupilo de Ferraço, o advogado Diego Libardi, está em segundo lugar, com 17% (subiu quatro pontos). Mas isso não é suficiente para ameaçar o favoritismo do deputado estadual.
Há 33 pontos de diferença entre os dois. Somente um "cavalo de pau" eleitoral performado em menos de 48 horas poderia reverter o resultado das urnas. Não é impossível, mas é improvável.
QUEM MAIS CRESCEU
Quem mais cresceu de setembro até agora foi Léo Camargo (PL). Ele passou de 10% para 17%. Está, portanto, numericamente empatado com Libardi.
Mas já estava tecnicamente empatado com ele em setembro. O candidato do PL tinha 10% e o do Republicanos, 12%.
Então, apesar da ascensão, o cenário não foi substancialmente alterado. Mas é um feito a ser considerado, já que candidatos bolsonaristas têm ficado estagnados nas pesquisas de intenção de voto realizadas nas principais cidades do Espírito Santo.
ÚLTIMO COLOCADO E MAIS REJEITADO
É sintomático que o candidato do PT, o ex-prefeito Carlos Casteglione, esteja em último lugar. Ele manteve a mesma posição e os mesmos 4% medidos em setembro pelo Ipec.
A rejeição dele ainda oscilou dois pontos para cima, passou de 52% para 54%.
Por falar em rejeição, eis uma das principais vantagens de Ferraço. Apesar de ser o candidato mais conhecido pelo eleitorado e da extensa carreira política, ele é o segundo menos rejeitado.
Apenas 14% dos entrevistados disseram que não votariam nele de jeito nenhum.
VOTOS VÁLIDOS
Calcular votos válidos é uma coisa complicada. O método é utilizado pelos institutos de pesquisa às vésperas da data da eleição para se aproximar mais do resultado a ser divulgado no domingo pela Justiça Eleitoral, que contabiliza os votos válidos e descarta brancos e nulos.
A projeção, porém, pressupõe que os eleitores indecisos vão se distribuir proporcionalmente entre os candidatos, o que pode não ocorrer.
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