O ex-prefeito de Vitória João Coser (PT) quer voltar ao comando do Executivo municipal sem “esconder” o presidente da República, Lula, maior líder do Partido dos Trabalhadores. Em sabatina realizada por A Gazeta e Rádio CBN Vitória, nesta terça-feira (03), o candidato do PT ainda aproveitou para alfinetar o principal adversário, Lorenzo Pazolini (Republicanos): “O Lula não sei se virá aqui (para participar da campanha). Devido à agenda de presidente, ele tem muitas tarefas, mas é meu convidado. Realmente, sou ligado ao PT, não nego isso. Infelizmente, meu adversário (Pazolini) nega, mas é bolsonarista".
"Mas nós achamos que isso (apoio de presidente ou ex-presidente) não interferirá nas eleições. Quando a população escolhe o prefeito, ela escolhe a partir do que ele (o candidato a prefeito) fez."
Veja a entrevista, na íntegra, no vídeo acima.
Nisso, ele está certo: 46% dos entrevistados pela Quaest na Capital do Espírito Santo afirmaram preferir que o prefeito não seja aliado nem de Lula nem do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). E 38% dos eleitores de Vitória avaliam negativamente o governo federal.
Não à toa, Pazolini, na entrevista realizada na segunda-feira (2), tergiversou e não revelou se é ou foi bolsonarista: “Isso não é relevante”.
"A eleição do Lula (em 2026) não depende deste debate municipal. Normalmente, é um debate nacional, um grande programa econômico social e político, que não perpassa pela prefeitura. Nem o Lula elege prefeito e nem prefeito elege o Lula", apostou o veterano político.
Se Coser quisesse se afastar do petismo, o que nem é seu objetivo, teria bastante dificuldade, já que é filiado ao partido há mais de 40 anos.
O próprio candidato do PT creditou ao antipetismo o fato de ser o mais rejeitado entre os concorrentes à Prefeitura de Vitória: 42% dizem que não votariam em Coser de jeito nenhum.
O ex-prefeito está em segundo lugar na corrida, com 17% das intenções de voto, 34 pontos percentuais atrás de Pazolini.
Coser, desde 2023, é deputado estadual. É um petista histórico e moderado.
Durante a entrevista, o ex-prefeito declarou-se até “meio conservador”. Isso em relação a uma questão pontual, o uso de linguagem neutra. Ele, por exemplo, é contra cantar o hino nacional desta forma: “Des filhes deste solo…” em vez de “Dos filhos…” e da adoção da linguagem neutra nas escolas.
João Coser (PT)
Candidato a prefeito de Vitória
"Acho que eu sou, assim, meio conservador, né? 68 anos de idade, italiano lá da roça. Não concordo, não"
"Respeito a opinião das pessoas, respeito o comportamento das pessoas, respeito tudo. Mas eu, particularmente, quero uma educação de mais qualidade para preparar o jovem para a vida, além de passar no Enem e no concurso", acrescentou o petista.
Admitiu, em poucas palavras, que em Cariacica e Vila Velha, “praticamente não tem eleição…”, em referência ao favoritismo dos respectivos prefeitos Euclério Sampaio (MDB) e Arnaldinho Borgo (Podemos).
Ou seja, os candidatos do PT nessas cidades, Célia Tavares e João Batista Babá, têm chances mínimas de vencer.
Na sabatina, Coser não negou as origens e respondeu objetivamente às perguntas. Fez questão de listar os feitos da gestão dele (2005-2013), mas os apresentou, claro, de forma mais positiva do que adversários ou pessoas mais isentas poderiam fazer.
Coser também, como é esperado de um candidato de oposição, aproveitou oportunidades para criticar o atual prefeito, mas sem “fugir ao tema” das questões e sem resvalar para ofensas.
O asfaltamento, ou reasfaltamento de ruas da cidade foi um dos principais alvos. "Tem muita coisa para se fazer em Vitória sem ser asfalto."
Mas o tom foi mais brando do que o adotado pelo ex-prefeito no dia da convenção municipal da federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), quando bradou que Pazolini “só fez asfalto e projeto PowerPoint”.
Ele ainda falou, na sabatina, de propostas, como a construção de um centro de convenções e a criação de um fundo de aval de R$ 100 milhões para ajudar jovens empreendedores.
AUXÍLIO-ALIMENTAÇÃO
Talvez a pergunta que João Coser menos esperava, mas respondeu, de algum jeito, foi sobre o auxílio-alimentação de R$ 1,8 mil pago a deputados estaduais.
Como já mencionado neste texto, hoje Coser está na Assembleia Legislativa.
No ano passado, os deputados aprovaram, à unanimidade, a extensão do pagamento a eles mesmos do auxílio de R$ 1,8 mil, benefício que os servidores da Casa já tinham.
Além de não votar contra, o deputado do PT pediu para receber o benefício. Na época, era preciso fazer a solicitação para contar com a verba extra. E continua recebendo.
O salário de um deputado estadual é de R$ 33 mil brutos.
Por que Coser foi favorável ao benefício? E por que faz jus a ele? Foi o que perguntei.
“Aquele projeto foi idealizado pelo presidente da Assembleia (Marcelo Santos). Ele falou com todos os deputados e todos os deputados concordaram. Ele (o projeto) passou sem debate e todos os deputados concordaram”, afirmou Coser.
"Nós não precisamos, individualmente, disso, mas pelo critério de isonomia, o Tribunal de Contas tem, o Judiciário tem, o Ministério Público tem (auxílio-alimentação pago aos membros desses Poderes e instituições). Os deputados se acharam também em condições de ter. Pode ser um equívoco, mas um equívoco coletivo”, justificou, ou tentou justificar.
Obviamente, esse auxílio não é nada popular. O equívoco é coletivo, mas somente foi posto em prática pela decisão, individual, de cada deputado de votar a favor.
Coser argumentou que se a Assembleia não tivesse criado o benefício, na comparação com os demais Poderes, ele se tornaria “um deputado de segunda categoria”.
OS DESAFIOS
Lorenzo Pazolini tem 51% das intenções de voto e, assim, pode ser reeleito já no primeiro turno, mas a margem é estreita. O desafio de Coser e dos outros candidatos a prefeito da cidade é crescer o suficiente para impedir que o atual prefeito alcance, no dia 6 de outubro, ao menos 50% dos votos mais um voto.
Aí a disputa vai para o segundo turno. Coser, hoje, é o que tem mais chances de chegar lá. Em 2020, ele enfrentou Pazolini na segunda etapa.
Ganhar a eleição, contudo, são outros quinhentos. A alta rejeição do petista e a avaliação positiva da gestão de Pazolini são empecilhos.
A estratégia do petista é chamar a atenção do eleitor para o que considera falhas da administração municipal. Outra coisa que ele tem feito é alertar para o perigo de, num futuro próximo, Vitória transformar-se em "cidade dormitório" e ser ultrapassada por Serra e Vila Velha devido à falta de dinamismo econômico.
São temas bem locais, distantes do debate ideológico. Nesse sentido, é uma tática parecida até com a do próprio Pazolini, guardadas as devidas proporções.
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