Não é de hoje que se ouve dizer, sempre por parte dos detratores, é claro, que "jornalista é tudo comunista". Poucos dos que dizem essas palavras entendem o que é jornalismo e tampouco o que é comunismo, mas enfim.
A ideia central parece ser que jornalistas são de esquerda, embora esse também seja um conceito que poucos dominam, e não podemos culpá-los, afinal o recorte ideológico cunhado na Revolução Francesa talvez não abarque mesmo os tempos atuais.
Supondo que ser de esquerda signifique ser progressista e não conservador e estar filiado a um partido de esquerda, no entanto, vários jornalistas ou apresentadores de TV com mandato no Espírito Santo ou que pretendem chegar lá mostram que esse não é um estereótipo verdadeiro.
É claro que, sim, via de regra, jornalistas são progressistas. Há poucos bolsonaristas entre nós, por exemplo. Um pilar básico da democracia é a liberdade de imprensa. E líderes autocratas, como Bolsonaro, não primam por preceitos democráticos.
O que não quer dizer que sejamos todos comunistas ou socialistas. Nesse espectro também há autocratas. É óbvio, mas o óbvio precisa ser dito.
Voltando aos mandatários, vejam só. Torino Marques, ex-apresentador da TV Tribuna, é deputado estadual eleito em 2018 pelo PSL de Jair Bolsonaro (hoje no PL).
É um integrante da bancada de oposição ao governador Renato Casagrande (PSB) na Assembleia e faz coro a pautas bolsonaristas. Deixou o União Brasil (resultado da fusão de PSL e DEM) e migrou para o PTB, que transformou-se em um partido de direita, também da base de Bolsonaro.
No Espírito Santo, o PTB apoia a pré-candidatura do ex-deputado federal Carlos Manato (PL) ao governo. Torino é pré-candidato a deputado federal.
O deputado federal Amaro Neto elegeu-se pela primeira vez em 2014, pelo PPS (hoje Cidadania), um partido de centro-esquerda, é verdade. Mas não ficou muito tempo por lá.
Em 2016, disputou a Prefeitura de Vitória pelo Solidariedade que, embora esteja ligado a um líder sindical, Paulinho da Força, não pode ser considerado uma legenda de esquerda.
Amaro também teve passagem meteórica pelo Partido da Mulher Brasileira (hoje Brasil 35) e acabou aportando no Republicanos, que arvora ser o único partido realmente conservador do Brasil.
O deputado apresentou por vários anos o Balanço Geral, da Rede Record, um programa baseado no noticiário policialesco. E ainda estava na TV, aos sábados.
Outro apresentador do mesmo programa, Douglas Camargo agora é pré-candidato a deputado estadual pelo PSD, um partido de direita, que quer eleger o ex-prefeito de Linhares Guerino Zanon governador do estado.
A ex-repórter da TV Gazeta Camila Domingues também resolveu aparecer nas urnas, pelo lado de dentro. É a vice do ex-secretário da Fazenda da Prefeitura de Vitória Aridelmo Teixeira na corrida pelo Palácio Anchieta. Os dois são filiados ao Novo, mais um partido de direita.
O jornalista Jorge Félix, outro egresso da TV Gazeta, que atuou na área de esportes, filiou-se ao PSC, o Partido Social Cristão, que tem como missão e valores "a redução da maioridade penal", "contra a legalização do aborto", entre outros tópicos conservadores.
No Espírito Santo, a sigla é presidida pelo pastor Reginaldo Almeida e apoia o presidente da Assembleia Legislativa, Erick Musso (Republicanos), na disputa pelo governo estadual.
Colunista social, Wesley Sathler é pré-candidato a deputado federal pelo União Brasil, também de direita. O deputado federal Felipe Rigoni é pré-candidato ao governo pelo partido, que tem um nome próprio à Presidência da República, Luciano Bivar.
Para completar, o apresentador de TV e jornalista Ferreira Neto é pré-candidato a deputado estadual pelo Podemos, um partido de centro-direita que integra a base aliada ao governador. O prefeito de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), confirmou à coluna que Ferreira Neto está no páreo.
"O OUTRO LADO"
Há alguns pontos fora da curva, digamos assim. Ted Conti, que apresentou por muitos anos o ESTV 2, da TV Gazeta, filiou-se ao PSB de Casagrande, um partido de centro-esquerda, e foi deputado federal, como suplente de Paulo Foletto (PSB). Ted tenta voltar à Câmara no próximo pleito.
Outro egresso da TV Gazeta, Philipe Lemos ia se filiar ao Avante, de direita, mas foi para o PDT, uma sigla de esquerda que integra a base de apoio a Casagrande. Philipe quer ser deputado federal.
E Eliana Gorritti, ex-repórter da TV Gazeta e da Rede Record, está na Rede do ex-prefeito da Serra Audifax Barcelos. Ela vai tentar uma vaga de deputada estadual. A Rede é um partido de esquerda. O mesmo não se pode dizer do próprio Audifax, que quer ser governador.
Pode-se argumentar que o apelo popular de alguns desses candidatos ou mandatários jornalistas os identifica mesmo com partidos conservadores.
A espetacularização da violência em programas de TV policiais, por exemplo, tem a ver com os valores apregoados por essas siglas, que flertam com o bordão "bandido bom é bandido morto", com a ampliação do armamento para civis, entre outras pautas.
Não quer dizer que todo o jornalismo esteja fincado nesses pilares. Nem todo jornalista.
Também é preciso observar que não é por estar filiado a um partido que, automaticamente ou necessariamente, o candidato ou parlamentar reze mesmo pela cartilha da legenda. Jornalista ou não, o que dita a política no Brasil é o pragmatismo.
Mas o fato é que não tem ninguém cantando o hino da Internacional Comunista por aí.
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