O senador Magno Malta, presidente do PL no Espírito Santo, integra uma comitiva de parlamentares brasileiros que viajou aos Estados Unidos no feriado de 15 de novembro.
O grupo foi a Washington entregar uma carta a congressistas americanos, para "denunciar a situação da democracia no Brasil". O texto não fala da invasão às sedes dos Três Poderes da República, em 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se insurgiram contra o resultado das eleições de 2022 e incitaram um golpe de Estado.
Para os integrantes do parlamento brasileiro, entre eles o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), no Brasil há "perseguição de cidadãos comuns, jornalistas e juízes por suas crenças políticas e o exercício da liberdade de expressão; até a minar a liberdade de imprensa; até a violação do sistema acusatório, um pilar dos princípios legais ocidentais; e o descaso flagrante pela imunidade parlamentar legal". Ao menos, é o que diz trecho da carta.
Curioso que bolsonaristas arvorem-se defensores da liberdade de imprensa. No governo Bolsonaro, a imprensa foi atacada diuturnamente.
O grupo passou pelo gabinete de George Santos. Filho de brasileiros, o político é do partido Republicano, o mesmo de Donald Trump, e está no centro de uma série de acusações.
Tudo começou quando ficou claro que Santos mentiu no currículo. Sobre onde estudou, onde trabalhou etc. Depois, uma longa lista de mentiras surgiu.
Ele responde, na Justiça americana, a 13 acusações por fraude, lavagem de dinheiro e roubo de fundos públicos. É suspeito, por exemplo, de usar dinheiro público para comprar roupas de grife.
George Santos chegou a ser preso e foi pressionado a renunciar, mas mantém-se no cargo no Congresso dos Estados Unidos.
Aparentemente, não houve nenhum constrangimento dos parlamentares brasileiros ao visitá-lo.
"O senador Magno Malta está nos EUA com outros parlamentares de direita para expor a políticos e entidades americanas abusos e irregularidades, proporcionando uma visão abrangente do cenário político brasileiro", informou a assessoria do senador do Espírito Santo.
"A reunião com o dep. George Santos tem a ver com isso", complementou a assessoria, ao ser questionada sobre o motivo da conversa com Santos.
A comitiva também se encontrou com a congressista americana Marjorie Taylor Greene, famosa por declarações homofóbicas e por espalhar teorias da conspiração, e foi à OEA (Organização dos Estados Americanos).
De certa forma, há outro representante do Espírito Santo no time, além de Magno. Em julho, a Assembleia Legislativa aprovou a concessão do título de cidadão capixaba ao filho do ex-presidente.
De acordo com a assessoria do senador, as despesas da viagem são custeadas pelos próprios parlamentares.
Bolsonaristas têm se queixado, via de regra, das punições do Supremo Tribunal Federal (STF) aos invasores do 8 de janeiro. E da suspensão das redes sociais, via decisão judicial, de alguns defensores do ex-presidente, acusados de praticar ou incitar crimes.
A dosimetria das penas pode ser discutida. Mas, como diria o próprio Jair Bolsonaro, isso está "dentro das quatro linhas da Constituição".
"Ah, mas e a 'dama do tráfico', que foi recebida no Ministério da Justiça do governo Lula?".
É algo grave e que foi revelado, ora, ora, pela imprensa. Caso a ser apurado e que não deve ser esquecido, pois mostra, na melhor das hipóteses, que a pasta que deveria zelar pela segurança do país está desinformada.
Mas "a situação da democracia no Brasil" está bem diferente de quando uma horda queria impedir o cumprimento do resultado das urnas.
Veja a íntegra da carta entregue por parlamentares bolsonaristas a congressistas dos EUA:
Prezados Estimados Colegas do Congresso dos Estados Unidos,
Desde o alvorecer de nossas nações, Brasil e Estados Unidos da América embarcaram em jornadas únicas, porém paralelas, unidos em sua luta pelo autogoverno contra o domínio estrangeiro e se destacando como faróis colossais de paz em todo o hemisfério e o mundo.
Nossas nações serviram como santuário e consolo para os pobres, perseguidos e fracos de todos os cantos do globo, que encontrariam em nossos países a promessa do Novo Mundo, um refúgio onde poderiam forjar seu futuro em liberdade e alegria.
Nossas nações lutaram lado a lado para libertar a Europa e o mundo das garras do totalitarismo fascista. Nossas nações dedicaram suas melhores mentes diplomáticas à criação de um fórum estável e aberto onde todos os países possam se reunir e resolver conflitos com soberania, paz e justiça.
Nossas nações permaneceram fortes por décadas contra — e finalmente derrotaram — a ameaça de outra forma de totalitarismo que jogou quase metade da humanidade atrás de uma cortina escura, onde a liberdade individual e a prosperidade eram apenas lembranças distantes. Nossas nações criaram, através do suor de nosso povo e da riqueza de nossas terras, o período mais longo de abundância na história humana, contribuindo para combater a fome em todos os lugares.
Como Representantes democraticamente eleitos do povo brasileiro, sentimos um imenso orgulho pelas aspirações compartilhadas que unem nossas nações. Os valores que inspiraram a própria criação de nossa República foram claramente influenciados pelas realizações de seus Pais Fundadores: “a cidade reluzente sobre uma colina” sempre iluminou nações livres como a nossa.
Apesar de tudo o que foi dito acima, em poucos — mas longos e dolorosos — momentos da história, o Brasil lamentavelmente se desviou de nossos ideais fundadores comuns. Como Representantes do Povo Brasileiro, vemos sinais preocupantes de que um novo ponto de virada nessa sombria direção possa ter sido alcançado por nossa atual administração e, portanto, sentimos a urgência e a responsabilidade de soar o alarme.
Esta é a razão pela qual lhes escrevemos esta carta. Observamos um distanciamento entre nossos países e uma crescente divergência nos ideais que nossas nações tradicionalmente compartilharam.
Recentemente, vimos o Presidente do Brasil fazer ataques públicos e gratuitos aos Estados Unidos e uma obsessão em enfraquecer o dólar como moeda de reserva internacional através dos BRICS e do Mercosul.
Esse distanciamento dos Estados Unidos é acompanhado por um alinhamento com ditaduras comunistas como Venezuela, Cuba e China. Narcoterroristas internacionais procurados pelo Departamento de Justiça americano são recebidos com honras pelo presidente brasileiro, enquanto a China aumenta sua influência política e econômica em nosso país.
O distanciamento dos Estados Unidos e o alinhamento com ditaduras comunistas têm sido acompanhados internamente por uma escalada na violação das liberdades civis dos brasileiros. Especificamente, esses abusos variam desde a perseguição de cidadãos comuns, jornalistas e juízes por suas crenças políticas e o exercício da liberdade de expressão; até a minar a liberdade de imprensa; até a violação do sistema acusatório, um pilar dos princípios legais ocidentais; e o descaso flagrante pela imunidade parlamentar legal.
O nível de instrumentalização do sistema judicial para perseguição política não tem paralelo em qualquer outro lugar do mundo. Temos certeza de que vocês observaram a escalada da situação, já que um número crescente de jornalistas, comediantes, juízes e até cidadãos comuns brasileiros estão atualmente buscando asilo político nos Estados Unidos.
Portanto, foi com extrema surpresa e decepção que, graças a uma reportagem publicada no Financial Times em 21 de junho de 2023, intitulada "The discreet US campaign to defend Brazil’s election" [“A discreta campanha americana para defender as eleições do Brasil"], descobrimos que a administração Biden pode ter interferido silenciosamente com os líderes políticos e militares de nosso país, o que acabou garantindo a eleição de Lula da Silva. Essa revelação causou considerável preocupação entre o povo brasileiro, que valoriza sua soberania e a integridade de seus processos democráticos. Também nos deixou bastante intrigados sobre a motivação da interferência do atual governo dos EUA em favor de um presidente que claramente contradiz os interesses americanos.
Como Representantes do Povo Americano, sabemos que vocês desempenham um papel fundamental nos freios e contrapesos das ações do Poder Executivo. Portanto, pedimos gentilmente que as informações relatadas pela publicação de jornal mencionada sejam apuradas e se, de fato, a atual administração dos EUA tem trabalhado para influenciar eleições em nações amigas de uma maneira que, em última análise, contradiz os interesses e valores americanos.
Em conclusão, pedimos a vocês, nossos estimados colegas, que trabalhem para restaurar os laços que unem nossas nações e prestem atenção à situação que se desenrola no Brasil. Acreditamos que, por meio do entendimento e cooperação mútuos, podemos navegar por esses tempos turbulentos e garantir a liberdade e prosperidade contínuas de nossas nações.
Que o destino de nossos dois países permaneça entrelaçado em paz e liberdade. Os caminhos que trilhamos podem ser únicos, mas que permaneçam harmoniosos e paralelos, levando aos mesmos ideais compartilhados de liberdade, paz e prosperidade.
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