O debate entre o governador Renato Casagrande (PSB) e o ex-deputado federal Carlos Manato (PL), realizado pela TV Gazeta e transmitido, ao vivo, também por A Gazeta, nesta quinta-feira (27), revelou algumas cartas na manga guardadas por Manato.
Foi o último embate entre os candidatos ao governo do Espírito Santo antes do segundo turno. Nesta etapa, o ex-deputado passou a se associar mais ao presidente da República, Jair Bolsonaro (PL).
Até mudou o slogan, de "o governador de todos os capixabas" para "o governador do Bolsonaro".
No debate, entretanto, foi além. Médico ginecologista, o candidato local do PL apelou ao negacionismo: "A pandemia (de Covid-19) foi uma farsa", afirmou.
A "teoria" de Manato é que as mortes pela doença foram forjadas e, nos atestados de óbito, quem morreu por "facada ou tiro" entrou na estatística da pandemia.
Tudo sem provas, claro, apesar de ter mencionado "um relatório". Algo descolado da realidade.
"A pandemia foi uma farsa que vocês fizeram, se tiverem acesso ao relatório da pandemia não vão acreditar no que aconteceu (... ) não deixava fazer tratamento precoce."
O "tratamento precoce", que consistia em cloroquina e outras drogas ineficazes contra o coronavírus, está mais do que refutado em 2022 pela ciência. Mas foi uma bandeira de Bolsonaro.
Quanto às mortes "forjadas", para isso teríamos que crer que os próprios médicos, que se arriscaram nas Unidades de Tratamento Intensivo e afins, colaboraram com "a farsa".
Manato, até a noite desta quinta, a dois dias da eleição, não lançava mão de desinformações dessa magnitude. Durante a campanha, criticou a gestão da pandemia feita por Casagrande, principalmente, devido ao fechamento de estabelecimentos comerciais, para incentivar o distanciamento social.
"Matou CNPJs", repetiu o candidato do PL, no debate.
Nos confrontos realizados no primeiro turno na Rede Gazeta, o ex-deputado federal foi orientado pelo marqueteiro Fernando Carreiro, que já deixou a equipe.
Nesta quinta, quem falou ao pé do ouvido de Manato nos intervalos da transmissão da TV foi o deputado federal não reeleito Neucimar Fraga (PP), também bolsonarista.
Neucimar, aliás, no primeiro turno apoiava Casagrande. Depois, mudou de lado.
O senador eleito Magno Malta (PL), também dileto apoiador do presidente da República, ganhou proeminência na campanha do ex-deputado federal.
Como as pesquisas de intenção de voto indicavam que o governador seria reconduzido ao Palácio Anchieta ainda no primeiro turno, a ida de Manato à segunda etapa foi uma vitória política.
O candidato do PL chegou à "nova eleição" com força, animando os apoiadores. Mudou a estratégia, como já mencionado, para se apresentar mais aliado de Bolsonaro.
O presidente gravou vídeos de apoio a ele. A primeira-dama Michelle Bolsonaro, a ex-ministra Damares Alves (Republicanos) e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) vieram ao Espírito Santo para reforçar o palanque do candidato local do PL.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também passou por aqui.
As pesquisas mostram o crescimento de Manato, o que forçou Casagrande a também corrigir a rota.
Apoiadores do governador passaram a pregar o voto CasaNaro, ou seja, pela reeleição do governador e do presidente da República.
Casagrande já havia declarado voto no ex-presidente Lula (PT), mas não fez campanha para o petista.
Em recente caminhada no interior do estado, ao repetir o voto de uma apoiadora, o socialista não se constrangeu ao enunciar: "É 40 e 22".
Não foi à toa. Se dependesse apenas dos eleitores do Espírito Santo, Bolsonaro teria sido reeleito já no dia 2 de novembro, com 52% dos votos.
Assim, Casagrande precisa dos votos dos eleitores que se dizem conservadores.
No debate, Manato também falou, na primeira pergunta, de tema livre, sobre aborto, outro item da cartilha bolsonarista.
O ex-deputado federal acusou Casagrande de ser "abortista". Foi a primeira vez que ele usou o termo, que a coluna tenha conhecimento, contra o socialista.
O candidato do PL lembrou o caso de uma menina de 10 anos que engravidou após ser estuprada, em São Mateus, em 2020.
O aborto, nesses casos, é legal, de acordo com o Código Penal brasileiro. E ainda houve uma decisão judicial para garantir a realização do procedimento. Diante da recusa de médicos locais, a criança violentada foi enviada a Pernambuco.
O caso foi emblemático. Era ano de eleição municipal. Dados pessoais da menina foram vazados, a família foi abordada, em casa, por políticos e religiosos. Por fim, a vítima teve que mudar de nome e ir embora do Espírito Santo.
Casagrande ficou na defensiva. Negou ser "abortista", lembrou que obedeceu a uma decisão judicial e repetiu, diversas vezes, que tem compromissos com "valores da fé cristã, da família, da administração pública e da transparência".
Usou a menção à "farsa da pandemia" alegada por Manato para chamar o adversário de negacionista da ciência e chamou a atenção para o desrespeito com os milhares de mortos por Covid-19 para sensibilizar o eleitorado.
O debate também passou por temas como corrupção, educação e saúde e, em meio a acusações de parte a parte, até houve menção a algumas propostas por parte dos candidatos.
Curiosamente, ninguém quis falar sobre segurança pública desta vez.
Manato também foi atacado por Casagrande, embora sem temas "novos", como os que o ex-deputado federal trouxe à baila.
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